Eu tremia de frio enquanto me escondia atrás de uma árvore, nos arredores do Antigo Altar, observando em silêncio meu alfa companheiro, Anderson.

Vi quando ele estendeu uma coroa prateada e reluzente, o símbolo da Luna, na direção de Leah.

Os olhos dela brilhavam com lágrimas de felicidade enquanto se curvava, permitindo que Anderson colocasse a coroa em sua cabeça.

Assim que a coroa repousou sobre seus cabelos, Anderson não conseguiu conter-se e a puxou para os braços.

Sob os olhares atentos de toda a alcateia, os dois se beijaram com fervor, as línguas entrelaçadas num desejo desmedido.

O beijo ardente durou vinte minutos inteiros, até que Leah, corada e ofegante, bateu levemente no peito dele.

Só então Anderson sorriu e parou.

Uma rajada de vento cortante soprou, balançando os galhos pendentes das árvores ao redor.

Foi quando percebi que, sob a luz sagrada da lua, toda a minha alcateia estava presente.

O menino que um dia protegi com todas as forças, meu irmão Rhys, agora era o mestre de cerimônias daquela sucessão.

Vestia um manto longo, bordado com o brasão da nossa alcateia, e seus olhos estavam tomados por uma admiração fervorosa, voltada para nossa meia-irmã, Leah.

Antigamente, nós dois quase morremos nas mãos dela e da madrasta. Fomos trancados num reformatório cruel… Perfurados por agulhas, eletrocutados, afogados… Quase queimados vivos.

Mas Rhys parecia ter esquecido tudo isso por completo.

Ele proclamou em voz alta:

— Hoje, neste momento sagrado, testemunhamos a união de dois corações. De um lado, nosso poderoso Alfa Anderson. Do outro, nossa sábia Luna Leah. Essa união nos guiará rumo a uma nova era de prosperidade. A partir de agora, eles não são apenas nossos líderes, são o símbolo do futuro da Alcateia da Lua Gélida.

Ao fim de suas palavras, os lobos começaram a dançar em círculo ao redor do casal.

Uivos entusiasmados e cantos preencheram o altar, enquanto Anderson e Leah, de mãos dadas, voltaram-se para a lua e iniciaram seu juramento à Deusa Lunar.

Ao ver o gesto dos dois, Rhys foi tomado por uma euforia incontrolável.

Quando terminaram os votos, ele gritou com uma intensidade que parecia rasgar os pulmões:

— Vão logo! Vivam sua noite de paixão! Esqueçam que estamos aqui!

E foi aí que o desespero me dominou por completo.

Minha loba interior chorava em agonia dentro do meu peito.

Liguei para meu irmão.

Aquele mesmo irmão que um dia jurou que sempre estaria ao meu lado, que me protegeria contra tudo e todos… Agora virava o rosto com desprezo, recusando-se até a me encarar.

Mesmo assim, eu não desisti. Em seguida, tentei falar com Anderson.

Pela janela, vi quando seu semblante se transformou por completo ao ver meu nome na chamada, ficou gélido, como se minha presença causasse a ele repulsa.

Ele não atenderia, eu sabia. Mas Leah sussurrou algo em seu ouvido… E então ele atendeu.

Acariciei minha barriga já saliente antes de perguntar, tentando manter a calma:

— Anderson... Onde você está? Vai voltar pra casa hoje?

Ele soltou uma risada seca, carregada de sarcasmo. E, diante de toda a alcateia, não teve a menor piedade:

— Dá pra parar de tentar me vigiar, Irene? Você está grávida. Esse ciúme doentio e essa desconfiança constante não fazem bem pro bebê. Ou será que você tá mesmo é desesperada pelo toque de alfa? Não consegue viver sem isso? Eu já te expliquei! Eu vim com a Leah ao Antigo Altar pra investigar os restos mortais do Grande Lobo, uma relíquia cheia de poder! Só uma loba nojenta, mesquinha e limitada como você seria capaz de confundir o dever de um alfa com traição!

Ele continuou me atacando sem pausa, palavras afiadas como lâminas.

Senti meu coração se partir em mil pedaços.

Com muito esforço, engoli a dor e disse:

— Hoje é meu aniversário. Você prometeu que todos os anos faria uma festa pra mim…

“Você disse… Que mesmo que o mundo acabasse, nesse dia estaria ao meu lado.”

Foi por isso que, mesmo grávida, atravessei sozinha uma floresta perigosa, trilhas íngremes e montanhas cobertas de névoa. Apesar do medo, vim até aqui só pra te encontrar.

Mas quando cheguei… Os lobos deste lugar me contaram a verdade.

Não existe nenhum osso de Grande Lobo aqui.

O que existe e já há meses é o plano de um alfa da Alcateia da Lua Gélida.

Um plano meticuloso, preparado com antecedência: realizar aqui, neste altar, a cerimônia de união com sua Luna.