Fernanda é uma das melhores escritoras de romance da sua atualidade. Ela passa horas e horas dentro do seu quarto apenas vivendo o mundo imaginário dos seus personagens. Mas tudo muda quando, ao terminar mais uma história de amor, ela desmaia de exaustão e e então acorda dentro da sua própria história… não como a heroína, mas como a vilã! Presa em um universo que ela mesma escreveu, Fernanda agora precisa encontrar uma maneira de se salvar do próprio fim trágico que destinou para sua vilã. A morte. Será que ela se salvará? Ou vai acabar seguindo os passos de Lady Beatrice, a mulher cruel, manipuladora e calculista que ela mesmo criou para separar os dois protagonistas destinados a ficarem juntos?
Leer másThomas, seu bobinho… Você realmente achou que poderia vencer a uma pessoa do mundo globalizado? Eu já viajei para 15 países e vivi por muito tempo em 5 deles. Ao ver a expressão de desespero na cara dele, sinto uma enorme vontade de rir. Querido, na escola em que você estuda, eu sou a professora. Mas antes que o silêncio se tornasse constrangedor, resolvo ajudá-lo. Afinal, eu sei que ele se sentiu humilhado. Eu conheço esse personagem bem demais para saber que, com apenas quela frase, eu o derrotei por completo. - En vérité, messieurs… Je dois emprunter le duc Thomas un instant. (Na verdade, senhores… Preciso ‘tomar emprestado’ o duque Thomas por um instante.) - digo aos franceses com um leve sorriso. Thomas me encara, surpreso. Caminho até ele e estendo minha mão, que ele prontamente segura. E volto aos cavalheiros. - Ce fut un véritable plaisir de faire votre connaissance, messieurs. Vous êtes vraiment des personnes adorables. (Foi um verdadeiro prazer conhecê-los, senhores. Voc
O salão do palácio ferve em um turbilhão de vozes, música e elegância. Cada senhorita parece competir uma com as outras em beleza e graça, apesar de eu não estar interessado em nenhuma. Nenhuma prende a minha atenção… até chegar ela. Lady Beatrice. É claro que não resisti não a olhar. Seria impossível. Está deslumbrante, como sempre e me surpreendeu que não tenha caído da escada com seu jeito torpe de ser. Vejo o cavalheiro que a acompanha deixá-la sozinha e como seus olhos varrem o salão. Desvio o olhar antes que os nossos possam se encontrar.E minutos depois está ela, na minha frente, me olhando furiosa pela resposta que dei ao seu cumprimento. De certo modo, acho engraçado como ela se irrita por coisas minúsculas como essa. Mas logo ela sorri, novamente, com aquele sorriso que só um vencedor daria. Encaro-a mais um pouco, sustentando o olhar dos seus olhos verdes. O que será que ela está planejando agora? Mas não tenho tempo para suas cenas dramáticas e teatrais. Vim ao baile par
Olho para o palácio, em choque. Claro que sempre tive consciência de que um palácio é algo grandioso, mas este lugar... parece uma pintura viva. Imenso, dourado, com torres que cortam o céu e janelas com figuras incríveis. É tudo tão vivo. Assim que chegamos, meu pai é o primeiro a descer da carruagem. Ele está elegante em seu traje de gala e com uma expressão séria em seu rosto. O senhor Montrose então se dirige ao homem que está parado na base da escadaria com uma lista nas mãos. Me imagino que seja o mestre de cerimônias, responsável por anunciar cada convidado que adentra o salão. Sua postura é perfeita, reta como uma bengala. Enquanto meu pai conversa com ele, meu acompanhante, Visconde Antony, me oferece o braço, me ajudando a descer também. Meu pai havia me contado que Antony é um primo de segundo grau meu, e que, apesar de ser apenas um visconde, sua presença é respeitável o suficiente para poder me escoltar até o baile.O Observo discretamente. Visconde Antony de Vallecurt.
Alguns dias se passaram e chegou finalmente o dia do baile. Nos vilarejos e na capital não se falava em outra coisa. Por sorte, Lady Beatrice, há muito tempo, já tinha pelo menos umas cinco opções de vestidos, eu nunca teria cabeça para pensar em algo assim.- Qual você escolherá, minha lady? - disse, Olga, minha empregada pessoal. Descobri o nome dela ao ver ela conversando com as outras empregadas, mas quando a chamei assim, ela estranhou. Imagino que não fosse do feitio da Beatrice original chamar os servidores da casa pelos seus próprios nomes. Olho os vestidos cuidadosamente. O primeiro que noto é um vestido de seda na cor azul-celeste, com mangas bufantes e rendas em suas barras. É bem ajustado na parte de cima, afinando ainda mais a silhueta de uma mulher, mas logo abaixo da cintura fluia solto até o chão. Simples, mas muito elegante. - Esse não! - digo a Olga.Eu sei bem que vestido escolherá Lady Arabelle e será justamente um nessa mesma cor. Olga entrega o vestido a outra
Jamais imaginei que Thomas um dia chegaria a fazer uma atrocidade dessas, ele sempre foi o mais contido entre nós. Lady Beatrice o olha partir com seu sorriso na cara ainda, como se nada tivesse acontecido. Ela não parece ter ficado triste ou com medo pela atitude violenta de Thomas. Ela é estranha, mas de alguma maneira, fascinante. Seus olhos finalmente me encontram e seu sorriso muda drasticamente para um mais gentil. - O que acha da gente caminhar um pouco, Conde James? - me pergunta. Não sei se eu quero, mas sinto-me na obrigação de permanecer ao lado dela por um tempo, apenas para certificar-me de que ela está bem. Ela caminha com um certo desconforto, devido ao vestido pesado. Vez ou outra levantava a barra do vestido para evitar tropeços. É como se ela não soubesse se portar como deveria. O jeito que ela fala, a maneira como esquece de ser cordial em suas palavras ou como esquece de mostrar respeito, não parece ser modos de uma dama. Mas não parece que ela faz a propósito
Com cada nova palavra que saia da boca da Lady Beatrice, mas irritado eu ficava. Parece que ela faz de propósito.- O que eu não sei? - repete James, me olhando com indagação.Lady Beatrice apenas sorri, satisfeita. É como se ela gostasse de ver o caos. Ela não parece ter medo do perigo e nem hesita em suas palavras.- Não é nada… - digo, não querendo dar nenhuma explicação.James entende o recado, mas fica frustrado, com certeza vai querer saber mais detalhes depois.- Era só isso? - digo a ela, rispidamente - A minha resposta continua sendo a mesma.Me levanto, sem esperar por respostas e começo a me retirar.- Espera! Eu sei de algo que vai te interessar mais do que isso, então… - diz ela, elevando sua voz.Ela não se cansa. Persistente como um lobo faminto. Continuo caminhando sem dar atenção. Os palhaços gostam quando atiramos pão para eles e eu não estou disposto a bancar esse circo.- É sobre o seu pai! - ela grita.Dessa vez, sim, eu paro. Ouço seus passos atrás de mim, apress
- É como dizem, se Maomé não vai à montanha, então a montanha vai até Maomé. - digo a mim mesma, em meu momento eureca.Se o meu fim trágico como Lady Beatrice é a morte, então eu só preciso forçar a história a mudar. E como vou fazer isso? Com essas informações perfeitas que a Beatrice original me deixou. Eu vou chantagear o Thomas e ele não vai ter escolha a não ser ir ao baile comigo. - Uohohoho - solto uma risada maquiavélica, me divertindo com a ideia. Até que não é tao ruim ser uma vilã assim.Saio da minha habitação e toco a porta do quarto ao lado. Nenhuma resposta. Toco novamente. Nada. Quando decido girar a maçaneta para ver se tem alguém ali, Thomas aparece na minha frente.- O que faz aqui, senhorita? - me pergunta, franzindo o cenho, confuso. Lanço a ele um sorriso triunfante e coloco uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, fazendo charminho.- Duque… querido Duque. Posso entrar? - pergunto com doçura - Conversar parada na porta não dá!- A senhorita quer entrar no me
Me desperto como uma princesa, literalmente. A cama é maravilhosa, o barulho de pássaros soa alto lá fora, e um lindos raios de sol entra pela minha janela. - Então é assim que é viver como alguém podre de rico? - me questiono a mim mesma. Uma leve curiosidade surge em mim quanto aos vestidos de Lady Beatrice, então começo a recorrer pelo seu guarda roupa, escolhendo um belo vestido para usar. As portas rangem um pouco ao serem abertas e logo vejo: fileiras impecáveis de vestidos alinhados por cor, tecido e ocasião. Tudo tão organizado que é até satisfatório de olhar. Logo, aquela mesma empregada entra no quarto, correndo em minha direção.- Eu te ajudo a se vestir… minha Lady. - disse ela, tomando o vestido da minha mão. Suspiro. Mas nego com a cabeça.- Não precisa, mas obrigada. - digo a ela. A ideia de ter alguém com quem eu não tenho intimidade me vendo pelada não me atrai. - Mas é o meu trabalho… Senhorita. - retruca ela. - Por acaso a Senhorita está doente? Nunca recusou
Após a minha breve conversa com os protagonistas, cada um seguiu seu rumo, entrando em seus devidos quartos. Percebo que a história continua seguindo seu curso, já que eles realmente não irão me acompanhar no baile. Começo a andar no meu quarto de um lado ao outro. - Desse jeito eu vou acabar morrendo… de novo. Preciso logo dar no pé. - digo as paredes, em total desesperação.Mas o que mais me deixa intrigada é o fato de sentir que não tenho controle sobre minha própria história. Tento me lembrar do que eu havia escrito e percebo que minha memória está começando a falhar, como se eu não pudesse ter nenhuma vantagem sobre os outros personagens. Seria isso algum efeito colateral de estar aqui? Ou o próprio livro está me forçando a atuar como a vilã?Procuro por um papel e uma caneta, e, assim que os acho, me sento onde Lady Beatrice costuma se sentar para arrumar os cabelos e passar maquiagem.- Vamos ver… o que eu sei? - coloco o papel sobre a madeira, apoiando-o e anoto algumas infor