Tessa

Tive que aguentar o restante da noite com aquele homem me abraçando apertado, não conseguindo sair, admiti a derrota, mesmo que estivesse enlouquecendo lentamente com seu cheiro delicioso. Não sei o que diabos está acontecendo comigo, mas não consigo controlar a sensação que me invade ao aspirar seu cheiro misteriosamente delicioso, como se fosse algo delicioso que eu não sinto há muito tempo, que me enche de saudade e desejo de provar novamente.

Acho que finalmente enlouqueci.

Toda tentativa que fiz de me desvencilhar de seu abraço forte, sempre foi retribuída com um aperto firme e seu corpo cada vez mais colado ao meu, em um momento de aceitação, percebi que não seria possível me libertar desse abraço quente, então suspirei, fechei os olhos e tentei relaxar, mesmo que fosse algo difícil no momento. Quando o fogo estava quase apagando, consegui relaxar de verdade e adormeci em algum momento, quando abri meus olhos novamente, ainda estava sendo abraçada pelo homem, no entanto, havia algo que não estava presente na noite anterior e isso me deixou alerta imediatamente.

Há uma ereção enorme pressionando contra a minha barriga.

Porra.

Isso é de verdade?

Fiz uma careta com o rosto enterrado no peito forte e tentei pensar com calma, preciso sair de perto desse cara o mais rápido possível, ele está bem demais para alguém que tem um corte enorme na cabeça. O que começou com uma tentativa de mantê-lo vivo, está rapidamente se tornando em algo bastante confuso e eu não sei mesmo o que eu devo fazer, sinto minha sanidade escorregando devagar, preciso sair urgentemente.

Decidida e não me importando se ele vai acordar no processo ou não, começo a me desvencilhar e me afastar de seu peito forte, mas ele suspira fortemente e me puxa para si novamente. Dessa vez, sem cuidado algum, me solto de seu aperto e quando estou prestes a me levantar e sair, seus braços estão em volta de mim mais uma vez e ele suspira no meu pescoço.

— Não vá.— ele diz.

Fiquei quieta por alguns segundos ponderando, mas lembrei imediatamente da ereção e da minha reação estranha a esse homem, me soltei de seus braços e me afastei imediatamente. A uma distância que eu julguei segura, encarei sua face pela primeira vez depois que amanheceu e tive que admitir, é um homem lindo, mesmo coberto com sujeira.

Que belo espécime.

Uau!

Espere, tem algo errado!

Deixei meus devaneios de lado no momento em que ele começou a se mover em minha direção. Há um olhar estranho em seu rosto, como se ele estivesse perdido em um transe, a mão esticada, assim como antes.

— Grace, não vá, por favor.— ele implora, a voz embargada e eu vejo lágrimas não derramadas.

Que diabos?

Ele ainda está delirando e acha que eu sou a mulher que ele chama desesperadamente?

Isso é ruim.

— Fique aí.— avisei e como se fosse uma ordem, ele parou de se mover imediatamente e manteve o olhar no meu.

Seja quem for essa mulher, ela é o motivo da dor desse homem que mesmo enfermo, ainda procura por ela desesperadamente.

Que diabos eu faço agora?

Se eu pudesse levá-lo para casa, tudo isso seria mais fácil. Pensei que ele poderia se mover, mas, nesse estado em que se encontra, é pouco provável que consiga me ouvir.

Meu olhar se desviou dele por um instante e eu lembrei que trouxe um sedativo na bolsa de primeiro socorros e vai ser uma grande ajuda agora, eu posso ir em busca de ajuda na mansão enquanto ele dorme tranquilamente aqui, será rápido, eu sei que posso fazer isso.

Só preciso descobrir como fazer ele ficar quieto.

— Deite, você não deve se mexer.— me aproximo dele novamente.

Assim como antes, ele faz o que eu peço e se deita.

— Feche os olhos e relaxe, eu não vou sair do seu lado.— usei um tom de voz calmo, como se estivesse falando com uma criança assustada.

Assim que ele se acalmou visivelmente, peguei o sedativo que já estava na seringa e apliquei com cuidado. Ele abriu os olhos e me encarou atentamente, mas se manteve quieto. Assim que terminei, segurei sua mão e acariciei seu rosto, ele fechou os olhos novamente e suspirou caindo no sono.

Levantei devagar, apenas para ter certeza que ele estava dormindo e vesti minhas roupas rapidamente, verifiquei os arredores da caverna e corri para casa o mais rápido possível.

Abri a porta com um baque e saí em busca do meu fiel amigo e primo.

— ARSENE!— gritei a plenos pulmões.

Eu sabia que ele já estava acordado e não demorou para que ele aparecesse de olhos arregalados.

— Porque diabos você está gritando essa hora da manhã?— pergunta.

— Eu preciso da sua ajuda imediatamente. Há um homem ferido na floresta, temos que ajudar.— digo.

Como era de se esperar, Arsene me encara com suspeita. Ele sabe que eu não sou o tipo caridosa, muito menos o tipo que ajuda pessoas feridas, principalmente desconhecidos, mas este é um caso muito especial.

— Eu sei o que está pensando. Explico tudo depois, temos que ir agora, não temos tempo a perder.— aviso apressada e sem esperar sua resposta, volto pelo caminho que fiz.

Ouvi seus passos atrás de mim e corri de volta até a caverna, onde apaguei qualquer rastro de que pessoas passaram a noite ali, levamos o homem adormecido para a minha casa, Arsene resmungou e grunhiu com o peso do homem o caminho inteiro e me perguntou sem parar onde eu encontrei um homem daquele tamanho. Evidentemente, não estava tão pesado assim, eu também estava ajudando, mas Arsene sempre gostou de reclamar, e como ele me ajudou sem fazer tantas perguntas, aguentei seus comentários ácidos até chegarmos em casa, onde eu deitei o homem em uma cama adequada e pude finalmente respirar aliviada.

A primeira parte do meu plano está completa. O homem está vivo e vai se recuperar sob os meus cuidados, ele vai ficar grato quando souber o que aconteceu e vamos nos unir para acabar com o clã Winter.

Eu tenho o plano perfeito bem aqui.

Isso vai ser fácil.

É o fim daqueles bastardos.