Tessa
Levei um tempo considerável para contar tudo o que havia acontecido para o meu primo Arsene, ocultei o fato de que eu tomei conhecimento do homem que dormia no andar de cima por meio de sonhos premonitórios, mas falei a verdade em todo o restante da conversa. Arsene gritou comigo, me chamou de louca e inconsequente e mais de uma vez tentou me persuadir a desistir dessa ideia que para ele, não passa de uma ideia mirabolante que tem tudo para dar errado. Vencido pelo cansaço, ele resolveu cooperar comigo, mas, segue me ajudando a contragosto desde então.
Esperava que a polícia batesse na minha porta o mais rápido possível, mas, um dia inteiro se passou desde que eu trouxe o homem para casa, ele ainda não acordou, apenas delirou durante o dia e a noite, cuidei dele pacientemente, já que toda vez que me afastava, ele começava a gritar e só se acalmava quando eu chegava perto o suficiente para segurar sua mão. Foi um teste de paciência, felizmente, estou colhendo os frutos do meu trabalho duro.
Ele finalmente acordou e dessa vez, apesar de mostrar um olhar cansado, seus olhos estão limpos e ele parece lúcido. Ele encara nossas mãos juntas em silêncio, depois me observa com cautela e faz uma careta ao tentar se sentar.
— Não faça esforço, você tem alguns ossos quebrados.— aviso com voz suave.
Deve ser difícil para ele acordar em uma casa estranha, com pessoas estranhas ao seu redor.
— Quem é você?— ele pergunta soltando a minha mão.
— Eu sou Tessa, te encontrei ferido na floresta e te trouxe para cá.— faço questão de falar que fui eu que salvei sua vida. Quero que ele se sinta grato por isso e retribua minha ajuda.
— Qual o seu nome?— pergunto quando ele continua em silêncio. Eu não posso ficar com uma pessoa dentro da minha casa se eu nem sei seu nome.
Minha pergunta não trouxe a resposta que eu esperava, já que ele ficou quieto por um bom tempo, o cenho franzido, os olhos cheios de preocupação. Esperei pacientemente até que ele me olhasse nos olhos, mas, quando ele fez isso, não tinha uma expressão boa, parecia ligeiramente desesperado e isso me deixou alerta.
— Eu não consigo me lembrar de nada, nem o meu nome.— ele diz.
Droga.
Depois de todo o trabalho que eu tive para salvar esse cara, cuidar dele esse tempo todo, até tive que segurar a vontade estranha de me aproximar dele porque não queria parecer louca, e agora ele me diz que não lembra de nada?
Isso não podia ser pior.
Que merda.
Levantei chateada e andei pelo quarto sem saber o que dizer nessa situação. Sinceramente, eu esperava gratidão e cooperação e tudo que ganhei é um cara lindo, porém desconhecido que não consegue lembrar nem seu próprio nome.
Quão fodido isso é?
Eu quero sair e gritar, talvez socar o rosto de algumas pessoas, de preferência, o maldito Blake Ryan, por tentar matar uma pessoa nas minhas terras.
Ok, Tessa, fique calma. Ele vai recuperar a memória em alguns dias e tudo vai acontecer como foi planejado.
Arsene entra no quarto e para no instante em que percebe o clima estranho no ar.
— Porque você não está pulando de alegria agora que ele acordou?— Arsene pergunta cauteloso.
— Eu gostaria de fazer isso, mas ele não lembra de nada, nem seu nome.— aponto o homem confuso na cama.
Arsene pragueja exatamente as palavras que estou pensando agora.
— Bem, já que ele não lembra como se chama, vamos dar um nome temporário, não podemos continuar chamando ele de cara.— Arsene aconselha.
É melhor aceitar que ele vai ficar por mais tempo que o planejado.
— O que você sugere?— questiono chateada.
— O que acha de Ethan?— Arsene pergunta.
Não é ruim.
Me encaminho até a cama novamente e encaro o homem na minha frente.
— Como não sabemos seu nome, vamos te chamar de Ethan, tudo bem?— pergunto para ter certeza que ele está bem com isso.
Ethan assente silenciosamente e eu fico satisfeita com sua resposta.
Agora, preciso pensar no que vou fazer.