Tessa
É noite de lua azul, hoje aqueles bastardos sorrateiros vão se mover e tentar matar o cara que aparece em meus sonhos. As últimas duas noites foram bastante cansativas, tudo que eu queria era ter uma boa noite de sono, infelizmente, não foi possível porque sempre que eu fechava meus olhos, estava acompanhando a tortura pela que esse cara passa antes de ser empurrado do penhasco.
Agora estou realmente irritada, pois, isso não é como das outras vezes, que eu tinha apenas um sonho e podia seguir em frente com a minha vida sem problema algum, dessa vez, estou sendo assombrada a cada vez que fecho os olhos e acho que é uma boa ideia culpar aqueles bastardos, os Winter. Se não fosse por eles, eu poderia dormir tranquilamente e o cara continuaria a viver sua vida tranquilamente.
Isso é tudo culpa deles.
A chuva forte me encharca até os ossos enquanto espero o momento acontecer, não vai demorar muito para que isso aconteça.
Assim como no meu sonho, quando a chuva parou um pouco, ouvi os gritos de alguém que se aproximava gradualmente, eram gritos roucos, desesperados, como um animal ferido, algo doloroso de ouvir e que me deixou desconfortável, não pelo barulho, mas pela dor que eu lembro ter sentido em meus sonhos, isto ressoa em meus ossos e eu sinto uma onda de empatia por esse homem que parece preso em seu próprio pesadelo, mesmo estando acordado.
Observei a cena a uma determinada distância.
O homem se aproximou da beira do penhasco gritando o nome de uma mulher, ele tinha a mão erguida, como se estivesse tentando segurar algo, mas não havia nada à sua frente além de ar, parecia perdido em algum tipo de devaneio ou surto. Por causa da chuva fina, não era possível ver as suas lágrimas, mas, era possível ouvir seus soluços torturados, acompanhados de gritos e o chamado constante por alguém cujo nome era Grace.
Não sei o que aconteceu, mas ele parece louco e desesperado ao ponto de delirar dessa forma.
Tenho pena dele.
Pobre homem.
Uma figura aparece em suas costas, e enquanto o homem ainda se encontra perdido em seus delírios, é empurrado pelo homem que estava em suas costas, vi seu corpo cair pesadamente e ficar imóvel, também vi o sorriso que o bastardo no alto do penhasco tinha em seus lábios.
Maldito Blake, um desgraçado traiçoeiro, da forma que lembro.
Blake Ryan é o beta daquele clã, não sei quem é o alfa, não me importo também, tudo que me interessa é que eles fiquem longe e não causem problemas, no entanto, já faz alguns meses que Blake tem sido uma dor de cabeça, invadindo minhas terras e fazendo outras coisas que me deixaram seriamente chateadas, e agora ele acha que eu vou deixar que ele tire a vida de alguém nos meus domínios? Ele deve estar louco achando que vou ficar quieta.
Não sei o que esse cara fez, mas ele deve ter ofendido o alfa ou até mesmo o idiota que está ali no penhasco.
Assim que ele vai embora, e eu não ouço mais os seus passos, me apresso em ir até o homem inconsciente e verifico se é um humano ou um shifter. Agradeço a natureza pela chuva, isso possibilitou que eu me mantivesse por perto sem ser descoberta por causa do meu cheiro. Verifiquei seus batimentos, que apesar de fracos, ainda podiam ser ouvidos. Praguejei baixinho quando percebi que havia um ferimento em sua cabeça e não parecia bom.
Me perguntei como isso aconteceu, já que fiz todas as preparações para que sua queda fosse suavizada o máximo possível, no entanto, ao olhar para cima, percebi que deixei um detalhe importante passar, esqueci completamente os galhos das árvores durante a queda. Se fosse um humano, já estaria morto agora.
Avaliei a situação e ponderei como eu deveria levar um homem desse tamanho até a mansão. Ele é grande e musculoso, não vai ser fácil, apesar de não ser impossível.
— Como você pode ser tão grande? — resmunguei enquanto tentava segurá-lo, mas seu corpo mole e escorregadio complicou o processo.
Suspirei impaciente e resolvi levar ele até uma caverna próxima. Isso vai facilitar as coisas por enquanto. Ainda bem que deixei algumas coisas lá por precaução.
Com um certo esforço, arrastei o homem de forma desajeitada até a caverna e deitei ele em um colchonete que tinha preparado mais cedo. Comecei tirando sua roupa encharcada e tentei muito não olhar seu corpo musculoso, confesso que foi um trabalho difícil de fazer, mesmo doente ele parecia incrível.
Mantenha o foco Tessa.
Depois de despido e devidamente aquecido com uma fogueira que fiz rapidamente, examinei o ferimento em sua cabeça, não era um corte tão profundo quanto pensei, mas era uma linha longa e eu suspeito seriamente que isso tenha acontecido antes da queda.
Pelo que esse cara passou antes de ser empurrado?
Limpei o corte com os itens que trouxe na caixa de primeiros socorros e suspirei satisfeita quando o trabalho estava todo feito, entretanto, minha satisfação durou pouco e logo se transformou em preocupação quando sua temperatura continuou a cair. Seus lábios estavam assumindo um tom de azul preocupante e como estava desesperada sem saber o que fazer, arranquei minha roupa e colei meu corpo quente ao seu. Como a chuva não foi capaz de abaixar minha temperatura corporal, achei que seria uma boa ideia passar o calor do meu corpo, apenas com a calcinha, juntei nossos corpos deitando em cima dele, mesmo que estivesse com medo que ele piorasse eu fiz isso o melhor que consegui e esperei por longos minutos cheios de preocupação e expectativa. Estranhamente, seu cheiro era muito bom e isso estava me enchendo de sensações estranhas. Levantei a cabeça e ao olhar a cor de seus lábios, percebi que já não tinham o mesmo tom de antes e isso me deixou imensamente aliviada, mais do que eu esperava, no entanto, seu cheiro estava me provocando e eu estava me sentindo compelida a mergulhar meu rosto em seu pescoço e sentir isso mais de perto, ao mesmo tempo em que meu olhar não conseguia sair de seus lábios, que mesmo rachados e cortados de suas prováveis mordidas, parecia tão incrível e me fez querer provar os lábios carnudos.
Arregalei os olhos quando percebi que estava ficando excitada por um homem enfermo.
A que ponto eu cheguei?
É vergonhoso.
Me preparei para me afastar daquele homem que estava me deixando com pensamentos estranhos, quando braços fortes me rodearam com força surpreendente e me prenderam colada ao corpo forte embaixo de mim.
Merda, eu preciso sair daqui e essa é uma péssima hora para esse homem mostrar que está vivo.
Com um gemido, ele muda de posição, deitando de lado e me leva junto com facilidade, tentei novamente me afastar, mas ele só aumentou seu aperto, emaranhou as pernas nas minhas e me prendeu mais firmemente.
— Não vá.— ele murmurou roucamente e eu parei de tentar me afastar, não consegui ignorar esse pedido. Mesmo que eu enlouqueça, não posso me afastar desse homem, não até que ele me deixe ir.
Droga, que confusão é essa?