Capítulo 1 (Parte 1)

Max

Dois dias depois.

— Tudo pronto? — pergunta Dante, enquanto Jack finaliza a conexão da câmera em frente à jovem russa que insiste em permanecer em silêncio.

— Agora sim. — confirma Jack.

— Então faça a ligação para Abramovitch. — Ordena Dante. Eu permaneço ao lado da jovem, que está amarrada à cadeira na sala de reuniões. Sei que basta uma única oportunidade para ela tentar atacar qualquer um que se aproxime demais.

Quando cheguei em casa, levei a russa diretamente para a enfermaria. Ela estava desidratada e precisava de cuidados médicos urgentes. Mal tive chance de conversar com ela e explicar a situação. Assim que se sentiu melhor, ela atacou Esther, feriu Hugo com uma jarra de porcelana e foi contida por Royal no corredor. Desde então, recusou-se a dizer qualquer palavra.

Tentei explicar quem somos e deixei claro que não queremos machucá-la, mas nada do que digo parece surtir efeito. A situação piorou quando mencionamos que a devolveríamos ao irmão. A garota é jovem, talvez um ano mais velha que Jessye, mas tenho que admitir, ela é durona e me surpreendeu até agora.

— Iniciando a chamada. — Diz Jack. Após alguns toques, Russo Abramovitch aparece na tela projetada na parede.

— Dragão. — cumprimenta Dante com um aceno de cabeça, enquanto observa Jack e Royal ao lado do nosso irmão, como dois cães de guarda bem treinados. — Onde ela está? — Pergunta em um italiano arrastado e carregado.

Jack ajusta a câmera para focar na jovem, e o homem à nossa frente a observa em silêncio.

— Você me envergonha! — Vocifera em russo. A garota, cujo nome ainda não descobri, encolhe-se, mas não desvia o olhar da tela. — E ousa me enfrentar.

Dante ergueu o olhar para mim, mas eu permaneci em silêncio, apenas ouvindo e aguardando o momento certo para intervir, já que sou o único fluente em russo entre meus irmãos.

— Não bastou fugir; você teve que ser enganada e vendida por Yule Pável como um objeto. Mas com aquele traidor, eu me acerto depois. — A ira nos olhos do homem seria algo que me preocuparia se eu estivesse no lugar da jovem, sem dúvida.

— Nada que você não tenha feito. — Ela retruca com ódio e a tensão é tão palpável que eu poderia jurar que ele pularia da cadeira para estrangulá-la, se pudesse.

— Não brinque comigo, Anijah. Estou cansado de você, me obrigando a dever favores desnecessários aos italianos por um resgate que eu não solicitei. — Ele b**e a mão na mesa, e ela se sobressalta com o som. Por mais durona que tente parecer, seus olhos refletem o medo que sente do irmão.

— Não vou voltar, não vou me casar com Lazarev só porque você quer! — Ela grita, com lágrimas nos olhos, e tudo começa a fazer sentido agora.

— Você vai voltar, querendo ou não. — Ele responde com uma calma assustadora, fazendo os pelos do meu corpo se arrepiarem diante da ameaça implícita em suas palavras.

— Você assumiu a cadeira do papai, mas seu ódio por ele não te dá o direito de destruir minha vida.

— Cale-se, ou juro que você vai pagar caro. — Ele a repreende com a voz forte como um rugido de um urso feroz, mantendo a compostura, mas a cada segundo a tensão aumenta a cada respiração.

— Prefiro morrer a me casar com aquele homem horrível! — Lágrimas pesadas rolam por seu rosto e eu me esforço para me manter imparcial.

Meus irmãos observam tudo em silêncio, visivelmente preocupados, sentindo a tensão quase palpável no ar.

— Pois bem… mate-a. — Ele volta sua atenção para mim, dando o veredito final.

— Opa, espera aí. — Intervenho. — Isso não é problema nosso. Se quer matá-la, faça você mesmo. — Falo em russo.

— Não pedi o resgate. — Russo diz e Dante interrompe, pois, apesar de não ser fluente, entende o básico da língua e percebe que a situação está mais grave do que prevíamos.

— Não jogue essa responsabilidade em nossas costas. Sua família, suas regras, sua punição. Não sujaremos nossas mãos com o sangue da jovem, Abramovitch. — Dante afirma em italiano, encarando Russo com uma expressão séria.

— O que ele disse? Não entendo muito bem italiano. — Anijah me olha, mas eu a ignoro, assim como ela tem feito comigo todos esses dias.

— Mandem-na de volta. — Diz Abramovitch em italiano para que todos possam ouvir.

— Será feito. — Dante encerra o assunto.

— Lazarev estará à sua espera, com o casamento pronto e organizado. Não cause mais problemas, conversarei com você quando chegar aqui. 

— Não, não faça isso. — Ela se volta para mim em desespero. — Por favor, não me mandem de volta.

— Você só está cavando sua própria cova, garota. Permaneça calada. — Digo em voz baixa para que apenas ela ouça.

— Anijah. — Abramovitch rosna ao ver a irmã implorar.

— Não. Faço qualquer coisa, por favor. — Olha dentro dos meus olhos, desesperada.

— Juro que vou estourar seus miolos, Anijah. Fique calada, já disse que conversaremos quando você chegar à Rússia. — Abramovitch explode em ódio, e o desespero começa a me consumir. O ódio dirigido a um dos seus era preocupante. Ele não parecia estar brincando ao ameaçá-la.

— Max? — Dante me observa com cautela, buscando uma solução que não envolva mais violência, mas eu apenas balanço a cabeça, sinalizando que a situação está fora de controle.

Enquanto a tensão continua a crescer, percebo que estamos em um ponto crítico. A decisão que tomarmos agora poderá definir não apenas o destino de Anijah, mas também o rumo de nossas relações com Abramovitch e seu império. A sala está mergulhada em um silêncio pesado, cada um de nós perdido em pensamentos sobre o que deve ser feito a seguir.

— Não deixe ele me levar. Você ouviu, ele disse que vai me matar, me obrigar a casar com Lazarev. — Anijah chora copiosamente, suas lágrimas caindo como uma torrente de desespero. — Russo só conhece ódio e vingança. Ele está fazendo isso para se vingar do nosso pai…

— Anijah… — Abramovitch vocifera, sua voz carregada de ameaça, mas antes que ele possa continuar, ela sela nosso destino com uma única frase.

— Ele me viu nua! — Grita, e um silêncio mortal se instala na sala. A gravidade da acusação paira sobre nós como uma nuvem negra. Se Lazarev souber disso, ficará furioso.

— Cala a boca, garota! — Agora sou eu quem rosna, segurando seu braço com força, ciente de que provavelmente deixarei marcas. — Você estava prestes a virar uma prostituta, e a única coisa que fiz foi resgatá-la.

A tensão na sala é palpável, cada um de nós lidando com as implicações do que foi dito. Abramovitch se vira para mim, sua expressão uma mistura de raiva e desconfiança.

— Isso é verdade, Voyaller? — Sua voz é um fio de gelo, e eu o encaro com raiva, mas também com a determinação de esclarecer a situação.

— Sua irmã estava em uma situação deprimente e deplorável. Não tive muitas opções além de trazê-la para a enfermaria e cuidar dos seus machucados, mas em nenhum momento toquei nela com segundas intenções. — Respondo, minha voz firme e sincera. Mentir agora só iria piorar as coisas.

— Quem garante que você não tocou o meu corpo? — Ela sussurra e o choque me toma instantaneamente. As palavras dela são como um golpe, e sinto a indignação crescer dentro de mim.

— Sei a minha posição e o meu lugar, jamais faria isso. Reconheço os meus limites, garota, mas você parece não reconhecer os seus. — Falo com indignação, tentando manter a calma enquanto a situação ameaça se descontrolar.

— Lide com as consequências dos atos do seu irmão, Dragão. Lazarev com certeza cobrará de vocês o erro cometido por tocar naquilo que não lhes pertence. — Abramovitch intervém com frieza calculada, explorando a situação a seu favor.

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