Prólogo (Parte 2)

Momentos Atuais

Com cautela, observo o galpão enquanto vejo meus homens cercarem o local. Aproximo-me da porta de aço e, com o dedo nos lábios, peço silêncio.

Esse não era o final de semana que eu havia planejado. Ordens superiores sempre frustram meus planos e, agora, aqui estou, em um resgate inesperado na Costa de Amalfi. Não que o lugar seja culpado; pelo contrário, é uma costa linda e encantadora. As casas construídas ao pé da montanha, de frente para o mar, são maravilhosas. Mas não estou aqui para desfrutar da brisa ou saborear meu melhor uísque, e isso é realmente frustrante.

Com um movimento de mão, chamei a atenção dos meus homens e iniciei a contagem regressiva com os dedos.

3, 2, 1…

O estrondo do metal explodindo chama a atenção de todos ao nosso redor, e os tiros começam na parte dos fundos do prédio antigo e abandonado.

Essa não é a melhor maneira de salvar alguém, nem o método mais sutil e silencioso. Porém, precisávamos agir rapidamente, causar estragos e pegar a russa, afinal, meu único objetivo é levá-la para casa e descobrir por que diabos acabou nas mãos de Bolotari.

Indico aos meus homens que sigam em frente e faço o mesmo, adentrando o galpão. Homens escondidos atrás de grandes caixas de madeira abrem fogo em nossa direção, e somos obrigados a quebrar a formação, dispersando para o meio do salão.

Ignoro os tiros, sabendo que tenho cobertura de uma equipe interna. O mais importante agora é concentrar minha atenção no local onde eles poderiam estar escondendo a garota. Percebo uma maior movimentação em frente a uma porta branca trancada com um cadeado.

— Entregue a russa e prometo não te fatiar em pedacinhos! — Grito ao ver o homem de meia-idade correr, abaixado, tentando se esconder no meio do salão. No entanto, abro fogo em direção aos seus homens e acerto um na cabeça, vendo-o tombar. — Recue, Bolotari, você sabe que não tem chances de ganhar! — Tento novamente, mas eles ignoram meus pedidos.

— Avise ao Dragão que não vamos entregar a garota; ela vale muito dinheiro!

— Não preciso avisar o Dragão. Estou à frente deste serviço, então você pode negociar diretamente comigo. Será melhor para todos. Posso considerar um pequeno deslize da sua parte e fingir que isso nunca aconteceu. O Pantera apagará seus rastros, e devolveremos a garota para quem ela é de direito.

— Não existe negociação. Se quiser a garota, vai ter que me matar.

— Isso não será um problema, Bolotari, e você sabe muito bem disso. — Acabo rindo, me esgueirando por entre as caixas para me aproximar.

— Está com medo dos russos, Lobo?

— Eu, no seu lugar, estaria, Bolotari. Afinal, não será a minha família que será caçada como gado por mexer onde não deve. O escorpião é um homem de poucas palavras e muita ação. Além disso, não é conhecido por sua paciência ou piedade. — Afirmo isso e seu silêncio me faz acreditar que ele estava refletindo sobre minhas palavras.

— Cala a boca e saiam daqui! Receberei muita grana por ela. As intocadas sempre valem mais, e eu sei que vocês a querem por causa disso. — Grita, enquanto os tiros ecoam, e quando o vejo correr, me jogo no chão, acertando seu joelho com um tiro.

O grito de dor ecoa entre os tiros, enquanto aproveito para atacar dois dos homens próximos à porta. Utilizo da força bruta para lutar, evitando matá-los, pois eles serviriam para dar informações valiosas.

Aos poucos, os tiros cessam, e gemidos de dor substituem o caos que havia se formado. Um dos meus homens me entrega as chaves do cadeado que impede a abertura da porta, e outro coloca Bolotari sentado para ser transferido até a sala 371, onde Royal teria o prazer de dar-lhe as boas-vindas. Outra parte de nossa equipe presta os primeiros socorros aos nossos homens feridos.

— Você vai se arrepender, Lobo! — Cospe em minha direção com ódio, e eu sorrio.

— Não sou eu quem enfrentará o Royal em poucas horas, então aposto tudo que tenho que o único que terá arrependimentos é você, meu caro Bolotari. Afinal, traição não é aceita dentro da Famiglia[1]. Você é um caporegime[2], tem grande poder de controle pela Costa de Amalfi e se deixou levar por uma proposta tão ridícula quanto essa? — Nego com a cabeça.

Reprovo-o, com olhar fixo de desdém e certeza de que em pelas próximas horas ele sofreria as consequências como um cão:

— Achou mesmo que não descobriríamos suas transações com nomes falsos? Ainda mais envolvendo uma russa de alto escalão? Sua ganância e burrice me surpreendem.

Puxo a porta e vejo o pequeno corpo nu encolhido ao chão, como na foto. Seus cabelos azuis desbotados ao redor do corpo, os braços finos tentavam cobrir os seios enquanto as pernas se apertavam tentando encobrir sua intimidade.

— Senhor?

— Ninguém entra — vocifero, virando-me bruscamente em direção ao homem que me chamava.

— Sim, senhor — Eles não ousam olhar para dentro da sala, mantendo os olhos fixos nos meus, e logo após vira-se para ficar de guarda na porta.

— Você está bem? — Questiono em russo, ainda analisando suas costas, mas não recebo resposta.

Retiro meu colete e deixo de lado, pegando minha segunda pele preta de manga comprida para cobrir o corpo da jovem caída ao chão.

Como ela não reage, caminho em sua direção, preocupado com sua saúde, mas, ao apoiar a mão em seu braço, olhos ferozes e assustados me encaram com ódio. Surpreso com a reação dela, afasto-me vendo um objeto brilhante que ela segurava nas mãos vir diretamente em direção ao meu pescoço. Por reflexo, desvio do ataque, jogando o corpo para trás, escapando por pouco de ter um objeto metálico enterrado em minha jugular.

Insatisfeita com seu ataque falho, seus olhos de citrino, quase amarelos de tão claros, se fixam nos meus em puro ódio, e ela tenta um novo ataque com a mão livre, mas seguro seus pulsos, impedindo que se mova.

— Não sou o inimigo. — Rosno em russo, apertando seus pulsos com certa força. Quando menos espero, seu corpo leve e frio se choca contra o meu, enquanto ela respira com dificuldade, desmaiando em meus braços.

— Droga. — Seguro sua cabeça contra o peito e solto o ar com força, praguejando alto ao perceber que ela havia gasto suas últimas forças em um ataque direto que provavelmente custaria a vida de um ou dois capangas de Bolotari. Porém, isso não lhe daria a chance de fugir. Mesmo assim, é admirável a sua força e garra em cair lutando.

Procuro não prestar atenção nos detalhes de seu corpo enquanto coloco minha blusa nela, mas inconscientemente me pego analisando a curva de seus seios que descem delicadamente para uma cintura esbelta e esguia. Cubro sua nudez o mais rápido possível, segurando seu corpo desnutrido em meus braços para levá-la até Dante.

Com a jovem segura em meus braços, saio da sala, determinado a garantir que ela receba a ajuda de que precisa e a proteção que merece.

[1] Família em italiano. No contexto, é sinônimo de máfia e atenua o lado obscuro dos negócios do clã.

[2] Capanga encarregado de punir colaboradores e pessoas dentro da esfera de influência e zelar pelo cumprimento do código de regras da máfia, bem como das ordens superiores.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App