Dias depois

O céu estava cinza, abafado, como se o mundo inteiro estivesse prendendo a respiração. Vestida com um vestido branco alugado, simples e apertado nos lugares errados, eu caminhava pelas pedras do jardim da mansão Tavares. Cada passo era uma punição, um veredito. A sentença final de uma vida que eu não escolhi.

Meu olhar cabisbaixo era um grito preso: e se eu fugisse? Mas ele sabia onde eu morava. Sabia todos os comodos da minha casa, os nome dos meus pais, do meu irmão e o da minha irmã, sobre todos os familiares distante da minha mãe. Fugir seria apenas adiar o caos. Eu não tinha para onde correr.

Meu pai andava ao meu lado, os olhos inquietos e insistentes.

— Por que essa pressa toda, Isa? — murmurava, mais pela quinta vez. — Isso não tá certo… Isso não é você, filha. É verdade o que dizem? O Enzo roubou o próprio tio?

A voz dele era de quem já sabia. Minha mãe tentava conter o choro, mas as lágrimas escorriam mesmo assim. Enzo, ao longe, sorria. Um sorriso sem cor, sem a