Isadora Alencar
Um mês.
Trinta dias.
Setecentas e vinte horas desde o nascimento do meu filho, e hoje, finalmente, ele terá alta.
Foram dias de respiração presa, orações sussurradas, mãos entrelaçadas na incubadora…
E noites em claro, sozinha, com os olhos fixos no teto, sentindo o eco do nome que não saía da minha boca.
— Senhorita, mais um buquê... onde eu coloco este?
Levantei os olhos da panela e encarei Catarina, minha funcionária dedicada e curiosa demais para o próprio bem.
Mais um buquê. O sexto só essa semana.
Rosas brancas, vermelhas, lírios, girassóis, mensagens com caligrafia que eu reconheceria até de olhos vendados.
Dante Tavares.
— Jogue no lixo.
A ordem saiu seca, direta.
Mas minha mãe — cortando temperos com a delicadeza de quem descasca também as camadas da alma — me olhou, balançando a cabeça em desaprovação.
— Sempre diz que não está. Recusa as ligações dele. Mal recebe as flores… Isa, posso saber o que está acontecendo?
O que está acontecendo?
Tantas coisas.
Silên