Cicatrizes e ConfissÔes
A manhã chegou envolta em névoa.
NĂŁo era uma manhĂŁ qualquer â era o dia apĂłs o fim do mundo, ou pelo menos do que ameaçava destruĂ-lo. O cĂ©u, ainda cinzento, parecia curvar-se sobre nĂłs, e havia uma quietude respeitosa na floresta, como se cada folha, cada galho, soubesse o que havĂamos enfrentado.
Eu despertei devagar, meus sentidos se arrastando pela superfĂcie do meu corpo como se testassem, um a um, se eu ainda estava viva.
A primeira coisa que senti foi o calor.
Marco estava deitado ao meu lado, seu corpo forte servindo de abrigo ao meu. Seu peito nu subia e descia num ritmo constante, e a mão dele, grande, envolvia a minha com um carinho quase reverente. Senti sua respiração quente em minha nuca, e por um segundo, fechei os olhos apenas para ouvi-lo existir.
Meu peito doĂa â uma dor real, profunda, vinda do corte que eu mesma fiz. Mas ela era suportĂĄvel. Era uma cicatriz nascendo. Uma lembrança da escolha que fiz por todos. Por mim. Por ele.
â EstĂĄ acorda