Ryan não apareceu o dia todo. E eu senti. Não deveria, mas senti. Cada hora arrastada sem sua presença foi uma agonia silenciosa, um peso invisível no peito. Agora, enquanto organizo meus pertences e observo a cidade que se transforma sob a escuridão crescente, percebo o quanto minha mente permaneceu inquieta, esperando por algo.Por ele.No hall, uma fresta de luz escapa do escritório do CEO, projetando sombras alongadas pelo chão de mármore. Meu coração tropeça no peito. As lembranças da última vez que estivemos ali voltam com força, e um calor perigoso percorre minha pele.Antes de entrar, hesito.Mas a curiosidade – ou talvez algo mais forte – me impulsiona.Quando empurro a porta, encontro Ryan sentado, absorto diante do brilho da tela do computador. A luz amarelada de um abajur esculpe sombras sobre seu rosto, destacando seus traços afiados, o contorno da mandíbula firme.Seus olhos me encontram.O choque da conexão é imediato, como se fios invisíveis nos prendessem no instante
Ryan me lança um olhar carregado de malícia antes de desviar sua atenção para Mark, que assente de maneira quase mecânica, como um bom soldadinho cumprindo ordens. Enquanto isso, eu encaro Ryan em silêncio, em uma tentativa vã de desestabilizá-lo. Mas ele continua inabalável, os lábios se curvando sutilmente em um sorriso que me diz tudo: ele está se divertindo com isso.— Sentem-se, por gentileza.Sua voz é calma, controlada, mas carrega um comando velado.Ele se move ao redor da mesa com a tranquilidade de quem sabe que tem o controle absoluto da situação, os dedos passeando preguiçosamente pela madeira polida da mesa. Um simples toque e minha mente me trai, inundando-se com imagens indecentes. A lembrança de seu toque quente contra minha pele, sua boca explorando cada centímetro do meu corpo, sua voz rouca pronunciando meu nome em um sussurro pecaminoso…Eu engulo em seco e expulso os pensamentos da cabeça, endireitando minha postura.Ryan se acomoda em sua cadeira, ajustando a gra
— Avancei no projeto que você passou para mim e para o Mark. — digo, com a voz neutra, mas por dentro carregando um turbilhão. Ryan nem levanta completamente os olhos. Apenas assente com a cabeça, como quem confere um item da lista. — Muito bem, obrigado. Você pode ir pra casa agora... Fico ali, com uma das mãos ainda segurando a maçaneta da porta, sem saber se rio da ironia ou dou meia-volta e jogo minha pasta na cabeça dele. A mulher à frente dele — aquela visão de editorial de revista — sequer se digna a olhar para mim. Vira o rosto como quem afasta uma poeira incômoda da frente. Claro, Katerina, por que você esperava algo diferente? Você é só a assistente diligente, funcional… descartável. — Feche a porta ao sair. Obrigado, senhorita Martin. — ele completa, olhando direto para mim com aquele tom polido que me soa como uma facada com luvas de veludo. A respiração me foge por um segundo. Não posso causar uma cena. Não ali. Não agora. Se eu demorar mais um minuto, essa mulher v
— Tudo bem...? — Mark pergunta, com os olhos fixos em mim, visivelmente preocupado.— Sim... Sim, obrigada... — respondo, tentando recuperar o fôlego e a compostura ao mesmo tempo.Ele me encara por um segundo a mais do que o necessário. Há um desconforto no ar — aquele tipo de silêncio que grita sem som algum.— Uau! Um pouco mais e eu teria beijado o asfalto com a cara! — brinco, soltando uma risada nervosa para quebrar o clima. O skatista já desapareceu na multidão, sem nem olhar para trás. Classe pura.Seguimos andando em silêncio por alguns minutos, nossos passos ritmados pelas calçadas agitadas de Nova York. As luzes da cidade nos banham com seu brilho amarelado, e por um momento me sinto dentro de um filme.— É aqui. — digo, apontando para a fachada charmosa de um restaurante discreto, com luzes pendentes e um aroma irresistível escapando pela porta.Mark assente, com aquele sorriso contido e polido que só ele sabe dar, e me faz um gesto cortês para que entre primeiro. Cavalhei
O tempo passou voando. Já são onze e meia, e a festa do escritório chegou ao fim. A música já parou, as conversas começam a murchar, mas eu ainda não estou pronta para que a noite termine. Guardo meu celular de volta no bolso e me viro para Lisa, que me observa com aquele brilho malicioso nos olhos, quase como se estivesse esperando por uma desculpa para continuar a diversão.— Você está pronta para a parte dois dessa noite louca? — Ela pergunta, o sorriso já denunciando que tem algo ótimo em mente.— Eu nasci pronta! Eu poderia festejar a noite toda... bem, mais ou menos. — Respondo, tentando esconder o cansaço que começa a surgir, mas sem querer perder o ritmo.— Essa é a atitude! Mas vamos ser sensatas, né? Temos trabalho amanhã, lembra? — Ela dá uma olhada rápida ao redor, como se estivesse conferindo se a diversão ainda está nos eixos. — E cadê o Matt?— Vocês não vão embora sem o melhor do grupo, né? — Matt aparece no final do corredor, com um sorriso convencido nos lábios.Fala
Minha palma encontra algo firme, quente. Os músculos sob meus dedos são rígidos, mas há uma certa maciez na textura da camisa bem alinhada. Pelo formato, acho que estou segurando o ombro dele. Ou talvez o peitoral? Meu cérebro, ainda confuso pelo escuro repentino, não tem certeza.Antes que eu consiga processar, sinto uma pressão sutil em meu antebraço. Ele me segurou de volta, a mão grande envolvendo minha pele com firmeza, mas sem agressividade. Apenas o suficiente para me manter estável.A tensão no elevador é quase palpável. O espaço já era pequeno, mas agora, com a cabine mergulhada na escuridão, a proximidade entre nós se torna ainda mais intensa. Meu coração martela contra as costelas, o sangue latejando em minhas têmporas.Por que eu não olhei direito para ele antes? Agora estou presa no escuro com um completo estranho... e não faço ideia de como ele é.— Está tudo bem? — A voz dele corta a escuridão, profunda e tranquila.— Bem... isso não é exatamente reconfortante, né? — Te
No dia seguinte, estou sentada no cubículo, a luz fluorescente iluminando as pilhas de papéis que se empilham sobre a mesa. Matt está ao meu lado, com os olhos fixos na tela do computador enquanto tentamos avançar em um arquivo designado pelo nosso gerente, Gabriel Simons. Já estamos há dias trabalhando nisso, e o prazo que nos foi dado para entregar o projeto parece apertado, quase sufocante.— Não sei... eu realmente acho que não vamos terminar o projeto da Nova Escola a tempo — meu parceiro solta uma reclamação, passando a mão pela testa em frustração. — Vai ser quase impossível dar conta disso tudo até o final da semana.Olho para a tela, meus dedos voando sobre o teclado enquanto tento processar as informações que ele me passou.— Nós vamos dar um jeito — respondo, tentando manter a calma. — E pense nisso, por nossa causa, escolas e universidades gigantes vão poder dizer que estão utilizando energia renovável. Já pensou? Nosso trabalho pode mudar o futuro de muitas instituições!
Quando chego em casa, largo minha bolsa no sofá e solto um suspiro longo. O dia foi cansativo, mas minha mente não está exatamente no trabalho. Desde o momento em que deixei o escritório, só consigo pensar no homem do elevador. O mistério em torno dele me atormenta como um enigma que preciso desesperadamente resolver.Sacudo a cabeça, tentando afastar a lembrança de seu toque, e pego meu laptop. Antes que Matt e Lisa cheguem, quero interagir com meus seguidores.Hoje, "Pequenas Delícias da Kat" recebeu centenas de visitas. Sempre fico animada em ver tanta gente interessada nas minhas receitas. Desde que publiquei a resenha do "bolo de aniversário perfeito", minha pequena comunidade culinária só cresceu, e faço questão de responder a cada comentário.Maduh09: "Esse prato é um verdadeiro afrodisíaco! Você precisa me contar de onde tirou essa inspiração!"Meu dedo paira sobre o teclado, e um som de arranhar me distrai. Olho para o lado e vejo Candy, minha hamster, escalando a grade da ga