Assim que pisei fora do prédio da empresa, o sol teve a ousadia de refletir na lataria impecável de um carro preto que virava a esquina. Não precisei pensar duas vezes, eu reconheceria aquele veículo até de olhos vendados com uma venda de cetim no rosto e uma música alta no ouvido. Era Ítalo, o motorista fiel do meu pai.
Sempre com a barba feita, óculos escuros de quem acha que é o James Bond da Baixada e um perfume que provavelmente custava mais que meu notebook.
Foi impossível não sorrir, afinal o universo estava trabalhando por mim.
Ítalo estacionou na frente, saiu com toda aquela formalidade irritante que me dava alergia de adulto funcional, e veio em minha direção.
— Senhorita Zoe?
Disse, tirando os óculos com aquele ar de mordomo de filme britânico.
— Olá, Ítalo.
Respondi com a doçura artificial de uma bala vencida.
— Que coincidência maravilhosa te encontrar aqui.
Ele inclinou a cabeça, educado.
— Precisa de algo? Posso ajudar?
— Na verdade...
Fiz uma pausa dramática, do t