POV Leonel
O jantar no Elysée não era apenas um encontro de negócios. Era uma encenação calculada, cada gesto ensaiado, cada riso cronometrado para soar espontâneo. Eu cresci entre esses ambientes, entre brindes e discursos que não diziam nada, mas escondiam tudo. E ainda assim, naquela noite, algo estava diferente.
Do meu lugar, a mesa parecia um tabuleiro. Daniel ria alto demais, exagerado, como quem tenta compensar o vazio das próprias palavras. Álvaro falava pouco, mas cada frase era uma ordem disfarçada de brinde. Os empresários se revezavam em promessas, e os políticos, em silêncios cúmplices.
Mas foi Isabela quem roubou minha atenção do início ao fim. Não pelos flashes que se voltavam para ela, nem pelo vestido impecável que a transformava em estátua viva de elegância. Mas pelo olhar. Os olhos dela ardiam em silêncio, como brasa coberta por cinzas. A cada sorriso, eu enxergava o cálculo. A cada gole de vinho, a decisão de não se deixar envenenar.
Enquanto os outros viam apenas