3. Carta de despedida

Hoop

​O topo da montanha da minha alcateia sempre foi meu lugar favorito. Sento ali, sozinha, contemplando a lua. A brisa suave da noite acaricia meu rosto, trazendo consigo uma sensação de paz.

De repente, sinto uma presença. Olho ao redor, mas não há ninguém. Voltando-me para a lua, uma voz ecoa com a brisa:

“Uma mãe nunca desiste ou abandona seus filhos… Você é forte, Hoop, e não deve se esconder! Mas o que procura não está entre essas paredes, nem entre os muros de proteção. Pense que não é uma punição e sim um amadurecimento. Seja forte, criança, você terá muitas provações para se tornar quem deve ser.”

As palavras ressoam profundamente em meu coração. Abro os olhos assustada, olhando ao redor… continuo em meu quarto… volto o olhar para a lua e sinto a certeza de que não foi um sonho, e que eu precisava ir atrás do meu destino.

Tomei a decisão mais difícil da minha vida. Na calada da noite, partiria para bem longe de tudo o que já amara na vida.

Agora, seria uma nova mulher. Agora, eu não seria mais Hoop Kristyn e sim Crystal.

Em um impulso silencioso, visto uma calça escura, uma camiseta simples, um moletom preto com capuz e tênis. Faço uma mala pequena, apenas com o essencial.

Caminho com determinação até o escritório do meu pai. Ao abrir o cofre, minhas mãos tremem. Pego em dinheiro o que julgo suficiente, sem contar, sem pensar muito.

De volta ao quarto, escrevo uma carta breve. Dobro com cuidado e a deixo sobre o travesseiro, como uma despedida sussurrada.

Pai,

Se esta carta chegar até você, é porque meu coração não encontrou forças para dizer adeus olhando nos seus olhos. Eu tentei... juro que tentei ser forte, mas há dores que nem mesmo a loba mais corajosa consegue suportar sem fraquejar. Imagine eu que nem loba tenho mais.

Desde pequena, quando me aninhava no seu colo nos dias de tempestade, eu sabia que ali era meu abrigo. Você foi meu porto seguro, meu escudo, minha rocha e sempre será.

Não pense que foi fácil tomar essa decisão, porque não foi. Eu o amo mais que tudo e amo nossa alcateia com a minha vida, mas sinto como se fosse um peso para a alcateia, um monstro indesejado.

Você me ensinou a ser firme, a lutar, a nunca abaixar a cabeça. Mas também me ensinou a amar com o peito aberto, mesmo quando isso nos deixa vulneráveis.... Hoje, carrego em mim as cicatrizes da guerra, da perda, da rejeição… e sei que tudo isso também feriu você, mesmo que tenha escondido atrás do seu olhar forte.

Pai, me perdoa por não conseguir continuar ao seu lado neste momento tão difícil. Não porque deixei de amar, mas porque preciso me reencontrar. Preciso entender quem sou, o que restou de mim… e se ainda há algo da filha que você criou com tanto amor dentro desta casca marcada por maldição e dor.

Já sinto falta do seu abraço. Do seu cheiro. Da sua voz dizendo que tudo vai ficar bem, mesmo quando tudo desmoronava. Sua presença era meu fôlego. Agora, estou tentando respirar sozinha, está difícil, é como se o ar faltasse a cada passo.

Não quero que me veja como uma covarde, e sim como alguém que precisa se reconstruir antes de voltar para casa.

Se eu não voltar... saiba que você foi o melhor pai que a deusa da lua poderia me dar. Que cada escolha minha, mesmo as erradas, foram feitas com amor. E que, até o fim, meu coração vai te pertencer.

Com amor eterno, Sua filha, Hoop Kristyn

***

A noite envolve a casa em silêncio, e o som dos meus passos ecoa como um sussurro de despedida. Cada movimento é carregado de emoção, um misto de medo e determinação. Ao fechar a porta atrás de mim, sinto o peso da minha decisão, mas também a liberdade que ela traz.

Olho uma última vez para casa. Cada canto guarda uma lembrança, agora pesada como correntes de aço presas ao peito. Respiro fundo. Já não há mais lugar para mim ali.

Lá fora, o mundo me aguarda com seus desafios e descobertas. Eu sei que o caminho será difícil, mas estou pronta para enfrentá-lo. Com a lua como testemunha, dou o primeiro passo em direção ao desconhecido, guiada pela esperança de encontrar meu verdadeiro destino.

***

Esgueiro-me pelas sombras, evitando as escoltas noturnas. O frio da madrugada corta minha pele, mas o calor da dor que queima em meu peito é mais forte. Sigo até a cerca da divisa… e então vejo uma silhueta pequena, sentada ao pé de uma árvore, como se me esperasse.

— Meg?! — pergunto confusa ao reconhecer minha amiga.

— Eu tinha certeza de que tentaria fugir — diz Meg, com a voz firme.

— O que está fazendo aqui? Vá embora!

— Não. Eu vou com você.

— Está louca?! Você não vai comigo. Tem uma vida na alcateia.

— E você também, se não se lembra, você é a Luna agora!

— Tinha, Meg. A Crystal se foi, humana não pode ser Luna. — Minha voz falha e Meg leva a mão à boca, surpresa. — Sou uma humana inútil agora.

— Então, agora precisa mais ainda de mim. Como vai se virar sozinha sem sua loba?

— Meg, não. Como Luna, eu te proíbo de me seguir. — Digo firme, tentando persuadir minha amiga, mas, no fundo, estou com medo e adoraria que Meg fosse.

— Não tenho medo desse tom e acabou de dizer que não é Luna. — Meg diz em tom de deboche, o que me faz revirar os olhos. — E sou mais forte agora. — Ela cruza os braços, desafiadora.

Reviro os olhos novamente. Conheço aquele olhar. Meg não desistiria e eu agradeço internamente.

— Vai ser por sua conta e risco — resmungo, mas, no fundo, um sorriso brinca em meus lábios. Estou feliz. Feliz por estar com minha amiga, mesmo que o destino seja o desconhecido.

Nenhuma de nós jamais havia saído da aldeia da alcateia.

Meg apenas sorri, cúmplice, e se levanta sem hesitar.

Naquele sorriso há determinação e lealdade. Há amor. Há lar.

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