No mesmo dia em que foi amaldiçoada, Hoop também perdeu aquilo que mais a definia: sua forma lupina. Consumida pela dor ela escolhe deixar a alcateia de Vale Verde na calçada da noite. Na estrada da fuga e do recomeço, Hoop cruza com Connor, um lobo misterioso cuja presença acende nela uma conexão intensa e inexplicável. Mas a paz é breve. Capturada por uma alcateia rival, Hoop cai nas garras do implacável Alpha inimigo de seu pai, tornando-se prisioneira e escrava num território hostil. O destino, no entanto, tem suas próprias armadilhas. Dividido entre a lealdade ao pai e o laço de companheiro com Hoop, Connor é forçado a confrontar verdades que podem mudar tudo. Entre cicatrizes do passado, laços proibidos e o risco iminente de guerra, Hoop precisa lutar para proteger o que restou de si, e reacender a chama selvagem que nunca deixou de arder dentro dela.
Ler maisHoop
Sou Hoop Kristyn, ou pelo menos era. A Luna da alcateia Vale Verde. A rejeitada.
Tudo começou na maldita noite em que as bruxas do norte invadiram nosso território. Mulheres sem alma, sem coração. Sedentas por poder, por território… por destruição.
Eu vi tudo. Em meio à confusão de bruxas e lobos, a líder delas cravou um arpão enfeitiçado no coração da minha mãe, bem diante dos meus olhos.
Foi como se aquele arpão tivesse atravessado meu próprio peito. O grito que saiu da minha garganta foi selvagem, rasgado. Minha mãe caiu lentamente, os olhos se apagando. E do outro lado, eu vi meu pai… se quebrar.
A alma gêmea dele estava morrendo, e a minha também, minha mãe era o alicerce da nossa família, a Luna perfeita para nossa alcateia.
“Eu nunca serei como ela”.
Eu senti a dor dela.
A dor dele.
A dor da alcateia, que uivava em agonia.
E a minha própria dor.
Eu não pensei. Só agi. Num impulso de fúria, desespero e dor, corri em direção à bruxa. Ninguém percebeu minha aproximação. Encarei aqueles olhos negros como a própria noite, e com minha mão, arranquei o coração dela. Levantei o braço, mostrei a todos. Esmaguei o coração negro diante dos olhos de todos. Era o mínimo diante do que ela nos causou.
O tempo parou.
O silêncio caiu sobre o campo.
Todos me olharam. Uns com orgulho. Outros, com espanto. Outros com ódio.
Foi quando a segunda no comando das bruxas me lançou uma maldição:
“O que é tão belo aos olhos nus, horroroso se tornará, e nenhuma besta te aceitará.
O que um animal faz, uma bruxa supera, e uma nova essência a espera.
Aquilo que repudia, será tudo o que se tornará.”
Assim que ela terminou, sumiram como fumaça ao vento.
Eu não tive tempo de entender. Uma dor insuportável tomou meu corpo e me fez cair de joelhos. Senti como se garras invisíveis rasgassem minha carne. Eu era apenas uma espectadora do meu próprio corpo. Meu rosto começou a se retorcer, arder.
Gritei. Gritei de dor. Minha loba uivava dentro de mim, desesperada. Cicatrizes vermelhas, grossas e grotescas surgiram na minha pele. Me tornei… horrível. A mulher e loba mais feia que já havia pisado naquele chão.
Naquele dia, senti a dor mais profunda da minha vida.
‘Cristal’ chamo minha loba pelo elogio mental.
‘Desculpe, Hoop... Estou fraca demais para te ajudar...’
A voz da Cristal estava fraca, sofrida. Minha loba, sofria… então, o silêncio se instalou.
— Cristal? Cristal?! Onde você está?! Eu preciso de você! Cristal! POR FAVOR!
Eu gritava. Em desespero. Mas ela não respondia.
Então, senti braços me envolvendo. Pelo cheiro, eu soube: era meu pai.
— Não chore, minha menina. Estou aqui. Sempre vou estar.
As lágrimas escorriam pelo meu rosto, que ardia muito.
Com cuidado, ele levantou meu queixo. O espanto nos olhos dele me destruiu.
— Está tão feio assim? — perguntei, mal conseguindo conter as enxurradas de lágrimas prestes a cair.
— Nada pode tirar sua beleza, minha princesa — ele respondeu, com a voz falhando, enquanto tenta segurar seu choro.
Não acreditei. Mas, me agarrei àquele gesto como quem se agarra à última tábua antes de afundar. Ele me acolheu no colo, como quando eu era criança. Me escondi em seu peito.
Com firmeza, ele ordenou que ninguém entrasse na propriedade além de Meg. Nem meu companheiro pôde se aproximar. Depois, ele me deixou no quarto e foi cuidar dos funerais. Foi se despedir do amor da vida dele.
Enquanto isso, a alcateia se dividia. Alguns me viam como uma guerreira, como a nova Luna corajosa que matou a líder das bruxas. Outros diziam que eu os condenei. Que minha aparência era a prova de que eu devia ser temida… ou rejeitada. Já se perguntavam se o Beta ainda me aceitaria.
Assim que fiquei sozinha, me tranquei no banheiro. Quando olhei no espelho, entendi porque meu pai me embalou em seus braços, tentava esconder. Eu estava horrível. Uma cicatriz em forma de raiz descia do canto dos meus olhos, atravessando a face direita até o busto. Tirei a camiseta e virei de costas: mais cicatrizes.
A raiva e a dor me consumiram. Quebrei o espelho. Mas o que queria quebrar era eu mesma.
Encolhida no canto do banheiro, chamei por Cristal. Mas o silêncio persistia.
— Amiga, você está bem? — Ouvi a voz de Meg do lado de fora.
— Vai embora, Meg! — gritei.
— Sabe que não vou. Que barulho foi esse? Você está bem?
— Vá embora! Não quero ver ninguém! — sussurrei, sem forças.
— Sai de perto da porta, ou eu vou derrubar.
Não respondi. Levantei, fui até o box, liguei o chuveiro. Entrei com roupa e tudo. Esfreguei meu rosto com força. A carne ardia, mas eu não parava. Queria apagar aquilo.
Até que uma mão gentil segurou meu pulso. Meg.
Ela tirou a esponja da minha mão e me abraçou.
E eu desabei. Chorei. No colo da minha melhor amiga, deixei toda a dor sair.
Depois que me acalmei, ela me ajudou a sair do banho, escolheu uma roupa e trouxe um chá quente.
Eu nem percebi quando adormeci. Mas logo acordei…
Com uma discussão acalorada do lado de fora.
Ainda sonolenta…
Segui até onde a voz do meu pai estava alterada e senti como se estivesse saindo de um pesadelo... apenas para viver outro.
— Eu não vou me acasalar com aquela aberração! Você olhou bem no rosto dela? — Ouvi Tom dizer, com repulsa escorrendo de cada palavra.
— Ela não é uma aberração. É minha filha. Sua Luna. Sua companheira — respondeu meu pai, com aquela firmeza de Alpha que sempre me enchia de segurança... até hoje.
— Era minha companheira! Não existe a menor condição de me juntar a ela. Eu não vou sentir desejo, e sim repulsa. Como vamos procriar? O que dirão de mim, de nós, da alcateia quando a apresentarmos?
Minhas pernas ficaram bambas. Era como se alguém tivesse enfiado uma lâmina no meu peito e torcido com força. Desde criança, eu era apaixonada por Tom. Ele foi o primeiro a me prometer algo. Quando disse que eu era dele, meu mundo ganhou cor. Eu estava prometida ao amor da minha vida.
E agora... ele me rejeitava. Da forma mais cruel possível.
A dor era absurda. Insuportável.
‘Ele não pode nos rejeitar… Estou muito fraca… Se ele nos rejeitar, eu temo não…’ Cristal sussurrou em nossa conexão, mas eu a interrompi com firmeza.
‘Você está proibida de continuar essa frase.’
Respirei fundo e dei um passo em direção à sala. O silêncio que se fez foi ensurdecedor. Os sussurros começaram. Eu senti os olhares queimando sobre mim. Alguns, cheios de piedade. Outros de medo. Mas o que me dilacerou... foi o olhar dele.
Nojo. Repulsa do Tom.
Ele me encarou com ódio e desprezo. Sem qualquer hesitação, ele declarou:
— Hoop Kristyn, eu te rejeito como minha companheira.
HoopConnor me carregou como se eu fosse feita de vidro. Seus braços fortes me envolviam com uma firmeza gentil, como se ele temesse que o mundo inteiro pudesse me quebrar caso eu não estivesse segura junto a ele. O vento da floresta batia contra o rosto dele, bagunçando seus cabelos castanhos, mas seus olhos não desgrudavam dos meus.— Já estamos chegando, meu amor — murmurou, como se falasse com algo precioso demais para ser tratado com pressa.Ele me levou até a casa de Morgana, onde estávamos desde que chegamos à cidade humana, escondida entre edifícios e casas de humanos, com a bruxa Morgana seguia ao lado dele, com Meg e Hand próximos o suficiente para reconhecer seus cheiros misturados. Ao chegar à casa, Morgana diz:— Deite-a sobre a mesa.— Pode deixar, eu cuido dela. — Connor diz seco. Sem dar chance para protestos, Connor dirige para o quarto que ela nos deu quando chegamos.Era pequeno, mas aconchegante, com uma cama arrumada e algumas velas acesas, iluminando pelos pequ
ConnorAjeitei as ataduras nas mãos com força, puxando até sentir a pele estalar. O ar estava denso, pesado com a umidade da manhã, mas carregado de uma energia vibrante. Estava me preparando para ir a um campo de treinamento improvisado no meio da floresta humana. Era o melhor que tínhamos e o mais seguro, segundo Morgana.— Não quero ficar aqui sozinha. — Hoop diz e me corta o coração.— Você treinou conosco ontem, meu amor, hoje precisa treinar seus poderes.— Estou com um mau pressentimento.— Ei, não se esqueça de que estamos ligados, sinto tudo o que você sente, — faço um carinho em seu rosto, e ela deita a cabeça sobre a palma da minha mão, como uma gatinha manhosa. — E sabe que pode me chamar pelo elo, a qualquer momento. — Ela faz um biquinho fofo, que não resisto e a beijo.Nosso beijo começa calmo, mas, como em todas as outras vezes, fica quente, e minha vontade é jogá-la na cama e fazer amor pelo resto do dia. Ela solta um gemido que não me ajuda muito.— Se continuar gem
Alpha StygianEle avançou um passo. Veias saltavam de seu pescoço.— Ela te rejeitou, Stygian. Aceita. Não importa o que diga, ela me amava.Neguei com a cabeça, cerrando os dentes.— Você a enfeitiçou. Vi nos olhos dela… a confusão. O vazio. Ela não sabia o que fazia. Você roubou a escolha dela com magia. Ilusão. Mentira.Um murmúrio se espalhou entre meus guerreiros, mas continuei, firme.— Ela nunca teria me abandonado. Não por você.Lohan avançou mais um passo, com o corpo tremendo de raiva.— Mesmo depois de tudo… mesmo após te deixar, de te negar, você ainda finge que ela te pertenceu um dia. Até o último suspiro, Alana pensava em mim. E você sabe disso. Sabe que ela estava com você porque o pai a obrigava. Mas quando o elo se formou entre mim e ela, ninguém pode negar que éramos parceiros.Engoli em seco, porque essa era a parte que mais doía. Porque, no fundo, temia que fosse verdade.— E agora você vai além. — A voz dele era uma lâmina. — Libertou as bruxas do norte para me m
Alpha LohanNão me importo com o horário. Sigo firme para minha alcateia e solto um uivo de comando que ecoa pela noite silenciosa.Luzes se acendem quase de imediato. Soldados sonolentos emergem das casas com pressa, despertados pela urgência em minha voz.— A profecia começou. E a Luna de vocês está no centro de tudo. — Minha voz ressoa firme. — Não temam o que está por vir. Haverá perdas, talvez muitas… mas no fim, o bem vencerá.Alguns lobos uivam em resposta, vibrando com a esperança de vitória. Outros me olham em silêncio, assustados com o que pressentem. Eu entendo. A guerra não é uma promessa, é uma sentença. E estamos prestes a cumpri-la.— A Xamã revelou verdades que não podem mais ser ignoradas. Hoje, vamos vingar minha parceira. Sua Luna. Aquela que foi perdida em meio à dor e à desgraça!Um novo coro de uivos me responde, mais forte, mais agressivo. O sangue começa a ferver.— Hoje, declaramos guerra contra Pelo Negro. Quero a cabeça de Stygian!Os uivos agora são ensurde
EgohenMeu pai me espera sentado no seu trono, imponente, mãos cruzadas sobre o peito, expressão de pedra.— Então decidiu correr para o monstro? — zomba.— Vim porque quero respostas. Porque não acredito no que dizem sobre Connor — encaro-o com o queixo erguido.— Pois a única verdade é que ele não é mais filho meu — diz com frieza. E com um gesto displicente, ordena — Tranque-a no quarto de hóspedes. Vou mandar Maximus vir buscá-la ao amanhecer. Você pertence a ele. Não tem que estar aqui, ainda mais sozinha.— Eu não pertenço a ninguém! — berro, mas os soldados já me arrastam.Jogam-me no meu antigo quarto, as janelas estão lacradas, iluminado somente por uma lamparina acesa na penteadeira que um dia guardou meus pertences. Meu coração aperta, mas não cedo. Ele não me controla mais. Nem ele. Muito menos Maximus.Um tempo se passa, perdida em meus pensamentos, não sei se foram minutos ou horas. Escuto meu nome.A porta se abre.— Egohen… encontrei você. — Ela diz em um sussurro. —
EgohenA luz fraca da manhã entra pelas frestas mal vedadas da janela, carregada por um vento cortante e gelado. O ar na alcateia de Pelo Branco está pesado, mais do que o comum. Sinto como se o vento gélido estivesse sussurrando, de forma estridente, aquilo que venho reprimindo há anos: uma parceria com um ser monstruoso e desprovido de alma.Entro na sala e escuto um soldado dizer o nome do meu irmão.Sei que Maximus, meu parceiro por uma aliança entre meu pai e o pai dele, odeia quando alguém interrompe suas reuniões, mas é do meu irmão que estão falando, e sem pensar pergunto.— Do que estão falando? Ouvi o nome do meu irmão.Maximus me fuzila com os olhos, mas não me importo. Quero saber o que estão falando do meu irmão.Nós sempre nos comunicávamos com cartas, mas depois da última que enviou, dizendo que iria sair em missão, nunca mais escreveu, o que me deixa muito preocupada.— Seu irmão colheu o que plantou. Um traidor não merece nem viver — vocifera Maximus, com aquele maldit
Último capítulo