A noite se estendia calma sobre a clareira, mas Lara avançava em passos rápidos, os olhos marejados mais por frustração do que por tristeza. O coração batia firme, não de dor, mas de cálculo. Ela já havia medido as consequências — sabia que as palavras que soltara pela cidade fariam efeito. Agora era hora de colher o resultado.
Encontrou Rhis perto do celeiro, distraído em conversa com um dos batedores. O estômago dela se revirou ao vê-lo tão tranquilo, como se o mundo não estivesse prestes a desabar sobre ele. Despediu-se do controle e se jogou no papel que escolheu com perfeição. — Como você pôde? — disse, deixando a voz embargada. — Todo mundo já sabe! A alcateia inteira fala sobre a sua companheira como se eu nunca tivesse existido! Rhis se virou, surpreso, e mandou o batedor embora com um aceno. Aproximou-se devagar, mas ela recuou. Era preciso manter a tensão — a imagem da ferida traída era sua armadura. — Lara... do que você está falando? Ela baixou os olhos por um segundo, ensaiando o momento exato. — De você! — explodiu. — De você ter encontrado sua companheira e não ter me dito nada! De todo mundo comenta, como se fosse um conto feliz, como se não houvesse ninguém sendo deixada para trás! Rhis franziu o cenho. Confusão genuína. Perfeito. — Eu não contei isso para ninguém. Nem para o Alfa, nem para o conselho. Como... como isso se espalhou? — Então quer dizer que é mentira? — Ela se fez vacilar, cuidadosamente. — Porque todos sabem, Rhis. Todos. E sabe quem estava estranhamente presente quando começaram a comentar? Lyra. Ah, Lyra. A desculpa perfeita. Uma presença notável, uma figura fácil de culpar. Lara sabia que era arriscado envolvê-la, mas também sabia o quanto Rhis queria fugir daquela união forçada. Forçá-lo a reagir era o único caminho. — Lara, escute-me — disse ele, firme, tentando acalmá-la. — Sim, eu encontrei a minha companheira. Mas isso não significa nada. Eu escolhi você. Ela lutou para manter o olhar vulnerável, mesmo quando o coração queria vibrar com a certeza da vitória. — Como pode dizer que não significa nada? — sussurrou. Lágrimas falsas escorriam com perfeição. — A ligação de sangue... é impossível de ignorar. — Mas é possível recusar. — Ele segurou suas mãos. — O instinto escolheu por mim, mas o coração... o coração já tinha dona antes disso. Não vou cumprir esse laço. Não com ela. Era exatamente o que ela precisava ouvir. Mas ainda não era hora de ceder. — Então por que ela faria isso? Por que espalhar essas fofocas? Rhis desviou o olhar, como se tentasse montar o quebra-cabeça que ela cuidadosamente desmontou. — Porque ela quer que eu me sinta preso. Quer que a alcateia pressione uma responsabilidade que eu não aceitei. Mas não vou ceder, Lara. Eu escolhi você. E vou repetir isso quantas vezes forem necessárias. Ela encostou a testa no peito dele, o gesto quase sincero. Por um breve momento, uma fagulha de culpa tentou queimar em seu peito. Mas ela a apagou rapidamente. Amor era guerra — e ela estava decidida a vencer. — Só não quero ser a opção ignorada... de novo. — Nunca será — ele sussurrou. — Nem por um instante. Rhis não podia deixar que ela se sentisse de tal maneira, iria deixar claro pra Lyra que Lara era sua escolhida.