capítulo 5

A noite se estendia calma sobre a clareira, mas Lara avançava em passos rápidos, os olhos marejados mais por frustração do que por tristeza. O coração batia firme, não de dor, mas de cálculo. Ela já havia medido as consequências — sabia que as palavras que soltara pela cidade fariam efeito. Agora era hora de colher o resultado.

Encontrou Rhis perto do celeiro, distraído em conversa com um dos batedores. O estômago dela se revirou ao vê-lo tão tranquilo, como se o mundo não estivesse prestes a desabar sobre ele. Despediu-se do controle e se jogou no papel que escolheu com perfeição.

— Como você pôde? — disse, deixando a voz embargada. — Todo mundo já sabe! A alcateia inteira fala sobre a sua companheira como se eu nunca tivesse existido!

Rhis se virou, surpreso, e mandou o batedor embora com um aceno. Aproximou-se devagar, mas ela recuou. Era preciso manter a tensão — a imagem da ferida traída era sua armadura.

— Lara... do que você está falando?

Ela baixou os olhos por um segundo, ensaiando o momento exato.

— De você! — explodiu. — De você ter encontrado sua companheira e não ter me dito nada! De todo mundo comenta, como se fosse um conto feliz, como se não houvesse ninguém sendo deixada para trás!

Rhis franziu o cenho. Confusão genuína. Perfeito.

— Eu não contei isso para ninguém. Nem para o Alfa, nem para o conselho. Como... como isso se espalhou?

— Então quer dizer que é mentira? — Ela se fez vacilar, cuidadosamente. — Porque todos sabem, Rhis. Todos. E sabe quem estava estranhamente presente quando começaram a comentar? Lyra.

Ah, Lyra. A desculpa perfeita. Uma presença notável, uma figura fácil de culpar. Lara sabia que era arriscado envolvê-la, mas também sabia o quanto Rhis queria fugir daquela união forçada. Forçá-lo a reagir era o único caminho.

— Lara, escute-me — disse ele, firme, tentando acalmá-la. — Sim, eu encontrei a minha companheira. Mas isso não significa nada. Eu escolhi você.

Ela lutou para manter o olhar vulnerável, mesmo quando o coração queria vibrar com a certeza da vitória.

— Como pode dizer que não significa nada? — sussurrou. Lágrimas falsas escorriam com perfeição. — A ligação de sangue... é impossível de ignorar.

— Mas é possível recusar. — Ele segurou suas mãos. — O instinto escolheu por mim, mas o coração... o coração já tinha dona antes disso. Não vou cumprir esse laço. Não com ela.

Era exatamente o que ela precisava ouvir. Mas ainda não era hora de ceder.

— Então por que ela faria isso? Por que espalhar essas fofocas?

Rhis desviou o olhar, como se tentasse montar o quebra-cabeça que ela cuidadosamente desmontou.

— Porque ela quer que eu me sinta preso. Quer que a alcateia pressione uma responsabilidade que eu não aceitei. Mas não vou ceder, Lara. Eu escolhi você. E vou repetir isso quantas vezes forem necessárias.

Ela encostou a testa no peito dele, o gesto quase sincero. Por um breve momento, uma fagulha de culpa tentou queimar em seu peito. Mas ela a apagou rapidamente. Amor era guerra — e ela estava decidida a vencer.

— Só não quero ser a opção ignorada... de novo.

— Nunca será — ele sussurrou. — Nem por um instante.

Rhis não podia deixar que ela se sentisse de tal maneira, iria deixar claro pra Lyra que Lara era sua escolhida.

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