Orson não sabia quanto tempo havia dormido. Sua cabeça estava pesada, mergulhada em um estado constante de torpor. Às vezes, ele sentia como se estivesse caminhando em uma geleira, cercado por um frio cortante. Outras vezes, a sensação era oposta: ele parecia estar vagando por um deserto, com um calor sufocante que o fazia arder por inteiro. No meio desses devaneios, ele teve a impressão de ver Zara. Ela estava de pé, com o cenho franzido, olhando para ele. Seu olhar carregava uma expressão de impaciência e irritação. Instintivamente, Orson tentou estender a mão para alcançá-la, mas, assim que ele se mexeu, Zara recuou. A aversão em seus olhos era tão clara que ele não teve outra escolha a não ser recolher a mão devagar. Ele não sabia exatamente quanto tempo havia passado até que, finalmente, abriu os olhos. O quarto estava escuro, e a noite já havia caído. Ainda deitado, ele percebeu que sua testa estava úmida. O adesivo, que antes estava gelado, agora tinha a mesma temperatur
O quarto estava mergulhado em um silêncio sufocante. Zara não tinha mais nada a dizer a Orson. Ela simplesmente permanecia sentada no sofá, com os olhos fixos na porta, como se estivesse pronta para sair correndo assim que ela se abrisse. Orson, por outro lado, sentia uma vontade imensa de tomar banho. O suor ainda grudava em sua pele, fruto da febre alta que tivera. Mas ele hesitava. Tinha medo de que, se deixasse o quarto, Zara desaparecesse. Embora a porta estivesse trancada e, se ela pudesse sair, já teria ido embora há muito tempo, ele não queria correr o risco. Ainda exausto pela febre e pela falta de descanso, ele se recusava a dormir. Ficava apenas sentado na cama, observando-a em silêncio. — Você vai se casar com o Emory? — Perguntou Orson de repente. A pergunta quebrou o silêncio de forma abrupta, ecoando pelo ambiente. Ele sabia que Zara tinha ouvido, mas ela não reagiu imediatamente. Apenas parou por um instante e, sem sequer virar a cabeça, recusou-se a res
O barulho ensurdecedor finalmente chamou a atenção de outras pessoas, e a porta que havia mantido Zara presa por um dia inteiro foi enfim aberta. Foi só nesse momento que Zara percebeu que Orson já sabia como sair do quarto há algum tempo, mas simplesmente não tinha feito nada antes. As sobrancelhas de Zara se franziram imediatamente. Ela olhou para ele, mas Orson já estava colocando o casaco. Ele não disse nada, nem sequer a olhou. Assim que terminou de vestir o casaco, saiu do quarto sem olhar para trás. Erwin, que tinha ouvido o barulho, estava parado na porta, observando a cena com curiosidade. Quando seus olhos encontraram os de Zara, ele ainda teve o descaramento de sorrir e cumprimentá-la com um tom brincalhão. Zara ignorou completamente Erwin e virou-se para o outro lado, caminhando na direção oposta. Erwin arqueou as sobrancelhas, claramente intrigado, mas logo apressou o passo para alcançar Orson. — Como assim? Vocês dois não fizeram nada? Isso é inaceitável! Eu c
Emory parecia responder com tranquilidade, mas Zara sentiu uma pressão evidente naquelas palavras. Ela hesitou por um instante antes de responder: — As coisas não são como você pensa... — Eu sei. — Respondeu Emory rapidamente, com um sorriso. — Não precisa ficar tão nervosa. Você e o Orson... Os outros podem não saber, mas eu sei. Com certeza ele armou para te levar até lá, não foi? E, de qualquer forma, você nunca deixaria a Natália de lado. Então, eu acredito em você. A paciência na voz de Emory parecia querer tranquilizá-la, mas, ao mesmo tempo, era como se algo pesado estivesse colocado sobre os ombros de Zara, um peso que ela não sabia como lidar. — Você provavelmente também não dormiu nada essa noite. Vai descansar. — Disse Emory, levantando-se logo em seguida. — Eu também vou indo. Zara assentiu com a cabeça. Mas, quando Emory passou por ela, seus passos de repente pararam, e ele se inclinou rapidamente em sua direção, encurtando a distância entre os dois. O movime
— Como assim “besteira”? Aquilo é de uma marca de luxo, super cara! Eu fiz questão de... — Essa marca não vai me fazer passar vergonha? — Disse Zara, apertando os dentes. — Mas eu nem tive tempo de... — Melissa começou a se justificar, mas de repente parou, percebendo algo. — Peraí, como você sabe qual marca é essa? Olha só, Zara, parece que sua vida não é tão inocente assim, né? As palavras de Melissa pegaram Zara de surpresa. Por um momento, ela ficou sem saber como rebater e, no final, apenas revirou os olhos. — Não vou discutir com você. — Não, espera aí. — Insistiu Melissa, cruzando os braços. — Então, me conta: você e o Emory... — Não aconteceu nada. — Respondeu Zara, de forma direta. Melissa, a princípio, achou que Zara estava apenas sendo evasiva, tentando esconder algo. Mas, ao encontrar o olhar sincero dela, percebeu que realmente nada havia acontecido. — Que decepção! — Melissa suspirou, jogando-se contra o balcão. — Nunca ouvi falar de alguém que vai para um
Ao cair da noite. Natália tinha passado o dia inteiro dentro do carro. Quando foi tomar banho, seus olhos já estavam quase se fechando de tanto sono. Agora, Zara estava secando seu cabelo, e a cabeça da menina balançava levemente, como se fosse dormir a qualquer momento. Zara riu ao vê-la assim e disse: — Se você estiver com sono, pode dormir direto. Hoje a gente não precisa contar história, tá bom? — Não, mamãe. — Respondeu Natália, abrindo os olhos rapidamente. — Eu quero ouvir uma história. — Tá bom. Hoje você quer ouvir qual? Natália imediatamente se levantou e foi até sua pequena estante. Ela começou a procurar com seriedade até que escolheu seu livro favorito: Meu Monstrinho. Zara pegou o livro das mãos da filha. Natália já tinha ouvido aquela história incontáveis vezes, mas parecia nunca se cansar. Sempre prestava atenção como se fosse a primeira vez. Quando Zara chegou à última página, Natália olhou para ela e perguntou: — Mamãe, o monstrinho vai ficar com a N
Zara percebeu o estado de espírito dele e, após apertar sua mão, finalmente disse: — Nos últimos anos, seu foco de trabalho tem sido em Cidade N, né? A pergunta pegou Emory de surpresa. Ele hesitou por um instante, mas não mentiu. Apenas assentiu devagar com a cabeça. — Mas eu não quero voltar para lá. — Continuou Zara. — Eu gosto bastante daqui, do ambiente, da tranquilidade. Então... A distância entre nós seria um problema. — Isso não é problema nenhum! — Respondeu Emory imediatamente, com uma urgência quase palpável na voz. — Hoje em dia, com tantas opções de transporte, eu posso vir te ver todos os meses. Além disso, a E.A. ainda está no começo. Quando as coisas se estabilizarem em dois ou três anos, eu planejo abrir filiais em outras cidades. E, quando chegar a hora, minha primeira escolha será Cidade F. A maneira como ele falou, com aquela ansiedade, fez Zara sentir como se Emory fosse um homem se agarrando desesperadamente a um pedaço de madeira flutuante no meio do oc
— Emory, há quanto tempo. Uma voz calorosa soou atrás dele, e Orson parou por um instante. Mas ele não se virou. Continuou conversando com a mesma expressão impassível com a pessoa à sua frente. Ele não tinha intenção de participar daquele evento, mas o anfitrião, um velho conhecido, insistiu tanto que ele decidiu aparecer por cortesia. O que Orson não esperava era encontrar exatamente a última pessoa que queria ver. Ele sabia que Emory e Zara estavam juntos. Erwin havia lhe enviado, poucos dias atrás, uma foto dos dois de mãos dadas. Orson já tinha decidido parar de se importar com o que acontecia entre eles. Mas Erwin, como se tivesse encontrado um novo brinquedo divertido, parecia não se cansar de usar aquele assunto para provocá-lo. Orson não sabia se era o prazer de vê-lo desconfortável que fazia Erwin insistir tanto ou se era apenas uma forma de esfregar na cara dele o quanto suas promessas de fidelidade a Zara tinham sido ridículas. Independentemente do motivo, Ors