Ela sabia que Orson nunca esteve cercado por falta de admiradoras. No passado, Zara já tinha visto muitas mulheres belas ao lado dele. Até pouco tempo atrás, ele não estava no supermercado com outra mulher? Se Orson quisesse, sempre haveria uma fila de mulheres dispostas a fazer qualquer coisa para se aproximar dele, para dividir a cama com ele. Ele tinha muitas opções. E Zara sabia que ela nunca seria a “melhor” escolha, nem antes, muito menos agora. Naquele momento, ela sentiu com clareza a rigidez no corpo de Orson e o olhar dele pousado diretamente em sua cicatriz. Zara sentiu vontade de rir. Ela deixou escapar um leve sorriso irônico e disse: — Então, Orson, você tem certeza que ainda quer continuar? Quando ela terminou de falar, Orson levantou os olhos para encará-la. O olhar dele continuava profundo e indecifrável, como sempre. Zara estava prestes a dizer algo mais, mas, antes que pudesse continuar, ele abaixou a cabeça. No instante seguinte, os lábios de Orson toc
— Zara! Zara! — A voz de Melissa chamou, e só então Zara pareceu voltar à realidade, olhando para ela com um olhar meio perdido. — O que aconteceu com você? — Melissa franziu a testa. — Você está com uma cara de quem perdeu a alma. — Eu… Não é nada. — E esses seus olhos? Olhe essas olheiras! Você não disse que ia para casa descansar ontem à noite? Como é que está ainda pior do que quando ficava aqui no hospital? — Eu… Não dormi bem ontem. — Zara tentou forçar um sorriso. — Acho que é porque não consigo ver a Nati. Fico preocupada. — Preocupada com o quê? Tem tantos médicos e enfermeiros cuidando dela aqui. Além disso, os médicos já disseram que, se o transplante correr bem, a Nati vai se recuperar e receber alta. A propósito, falando nisso, quando o Orson vai assinar o consentimento para a cirurgia? Essa pergunta foi como uma flecha que atravessou o coração de Zara. Seu rosto mudou de expressão imediatamente. Melissa percebeu na hora. — O que foi? Não me diga que o Orso
— Ele está agindo assim porque não aceita a derrota. — Disse Zara, interrompendo Melissa. — Ele já experimentou frustração e decepção por minha causa, e agora só quer que eu sinta o mesmo. — Mas eu acho que… — Começou Melissa, antes de ser cortada novamente. — Se ele realmente ainda gostasse de mim, ele saberia que, de qualquer forma, não deveria usar a nossa filha como uma arma para me ameaçar. — O tom de Zara era firme. — Eu estou fazendo o que ele quer agora porque quero que a Nati tenha a chance de passar pela cirurgia. Mas, com uma relação baseada nisso, o que isso significa? Nada. Melissa, entre mim e ele, nunca mais vai existir qualquer possibilidade. ... A noite chegou rapidamente, e Zara percebeu que tinha começado a temer esse horário. Seus olhos não saíam do celular. Ela tinha medo de que Orson enviasse alguma mensagem. Mas, ao mesmo tempo, temia ainda mais que ele não enviasse nada. Afinal, ele ainda não tinha assinado o consentimento para a cirurgia. Mas aque
A mão de Orson ficou suspensa no ar por um momento. Quando ele percebeu que Zara não tinha a menor intenção de pegar o cartão, sua expressão imediatamente se fechou. Zara, no entanto, fingiu não notar. Em vez disso, tirou os documentos que havia preparado e os colocou sobre a mesa. — Em vez do cartão, que tal falarmos primeiro sobre as condições deste acordo? — Disse ela, com a voz firme. Orson não respondeu. Ele apenas baixou os olhos para os papéis nas mãos dela. — Este é o termo de consentimento para a cirurgia. Por favor, assine primeiro. — Zara continuou, sem se abalar. Na última vez, ele havia dito que não tinha prometido nada, e Zara não tinha como refutá-lo. Mas, desta vez, ela veio preparada. Orson era um homem de negócios. E, como todo bom empresário, ele sabia que palavras não tinham tanto peso quanto um contrato assinado. Além do termo de consentimento, Zara também havia preparado outro documento. Era uma espécie de contrato que estipulava os limites da relaçã
No momento seguinte, Orson, no entanto, virou-se para ir embora. Zara, ao perceber, não pensou duas vezes antes de segurar a mão dele. O gesto foi leve e hesitante. Zara já estava preparada para que ele a afastasse com desprezo, mas, para sua surpresa, ele não o fez. Orson apenas virou a cabeça e baixou os olhos para a mão dela, observando-a em silêncio. — Me desculpe. Eu não deveria ter pensado daquela forma sobre você da última vez. Foi meu erro. Mas a Nati é inocente. Você poderia… Por favor, ajudá-la? — Disse Zara, escolhendo cuidadosamente as palavras. Sua voz estava rouca e seca, como se cada frase fosse dolorosa de dizer. Se ela tivesse qualquer outra alternativa, jamais estaria ali, mendigando o tempo de Orson. Mas a verdade era que ela não tinha escolha. Zara sabia exatamente o que Orson queria. Ele desejava vê-la assim, humilhada, implorando. Quando ela terminou de falar, Orson finalmente a encarou. Ele segurou o queixo dela com delicadeza, mas firme o suficiente pa
Orson sempre tentou se controlar para nunca fazer essa pergunta. Afinal, ele era o homem que tinha sido abandonado por Zara. Ser deixado já era humilhante por si só, mas ser o homem que implora para saber o porquê… Isso seria ainda pior. Por isso, desde o dia em que se reencontraram, Orson nunca mencionou o assunto. Mas, naquele momento, ele não conseguiu segurar. Ele precisava saber. O comportamento de Zara na época sempre lhe pareceu contraditório. Ela disse que não queria passar dificuldades ao lado dele, mas também não levou nada que ele havia dado. Naquele tempo, ele a presenteou com itens valiosos, coisas que, se ela tivesse levado, garantiriam uma vida confortável por muitos anos. Mas ela escolheu ir embora de mãos vazias. Para Orson, era claro que o motivo que ela deu era apenas uma desculpa esfarrapada, algo que ela inventou para enganar a si mesma. Então, por que ela realmente foi embora? Orson a encarou, buscando desesperadamente uma resposta. Zara ficou em sil
— Você odeia sua própria filha, a ponto de querer vê-la morrer diante dos seus olhos? — Zara gritou, com a voz carregada de raiva. — Sim, eu disse antes que assinaria, mas está claro que não consigo. — Respondeu Orson, com uma tranquilidade quase cruel. A atitude de Orson era direta, sem rodeios. Ele estava assumindo, sem qualquer hesitação, que havia voltado atrás em sua palavra. Ele não faria. Mas… E daí? As regras do hospital eram claras: o consentimento para a cirurgia precisava ser assinado pessoalmente. A decisão estava inteiramente nas mãos de Orson. Enquanto ele não quisesse, ninguém poderia forçá-lo a pegar a caneta e colocar seu nome no papel. Zara nunca havia imaginado que isso pudesse acontecer. Por mais frio que ele fosse, ela acreditava que, no fundo, Orson ainda tinha um mínimo de humanidade. Afinal, como um pai poderia simplesmente assistir à própria filha definhar sem fazer nada? Mas a realidade provava que ela o superestimara. Ele realmente era capaz de tama
Quando Zara terminou de falar, Melissa ficou visivelmente atônita. Era como se, por um breve momento, sua mente simplesmente não conseguisse processar o que acabara de ouvir. Depois de alguns segundos em silêncio, ela finalmente perguntou de novo: — O que você disse? — Ele disse que não quer fazer… A cirurgia. — Repetiu Zara, com a voz rouca e quase inaudível. Melissa imediatamente tirou os fones de ouvido, jogando-os de lado. — O Orson está maluco! Sua voz saiu tão alta e aguda que até Natália, que dormia na cama do hospital, acordou assustada. Ainda meio sonolenta, a menina olhou para as duas mulheres, piscando os olhos devagar. — Mamãe… — Chamou Natália, com a voz suave. Zara correu até a filha e segurou sua pequena mão com delicadeza. — Acordei você? Me desculpe, meu amor. — Disse Zara, com uma expressão de culpa. Natália olhou primeiro para Zara e, depois, para Melissa, que ainda estava com o rosto vermelho de raiva. — Mamãe, você brigou com a Titia? — Pergun