Capítulo 4 - A Voz da Parede

O espelho partiu-se em silêncio. Estilhaços não caíram — sumiram, como se sugados pelo próprio reflexo. E por um instante, Kieron viu... olhos.

Olhos por trás do vidro. Observando.

A parede tremia.

Nix não falava. Não precisava. Sua presença se recolhera, como se temesse o que viria a seguir.

Kieron se aproximou da rachadura na parede. Ela se estendia como veias pelo cimento. Havia algo ali dentro. Algo... vivo?

Ele encostou o ouvido.

Silêncio.

Depois...

— Vocês acham que podem esconder.

Mas a parede escuta.

A parede nunca esquece.

Kieron recuou.

A voz era de uma mulher. Grave. Ferida. Cheia de fúria contida.

Como se tivesse sido enterrada dentro da casa e forçada a assistir.

— Nix viu o quarto.

E você... a abriu.

Então olhe. Veja o que ela viu.

---

O mundo girou. Não com o corpo. Mas com a mente.

Como se fosse puxado para dentro da parede.

A sala ao redor desapareceu. No lugar, flashes.

Luz fluorescente.

Correntes.

Jovens sentados em círculo.

Mãos levantadas.

Uma voz dizendo:

“Vamos apagar as dores.

Vamos reprogramar os erros.”

Nix estava ali. Menor. Frágil. E do outro lado, Eve.

Elas se entreolhavam, com medo. Mas unidas.

Então, o caos.

Um grito.

Uma porta arrombada.

Uma câmera quebrada.

E alguém — uma mulher de jaleco — dizendo:

“Elas descobriram. Elas precisam sumir.”

---

Kieron caiu de joelhos. A parede parou de vibrar.

A respiração de Nix voltou em sua mente. Ofegante. Assustada.

— Eles apagaram nossas memórias... — ela disse. — Disseram que iam nos curar. Mas nos... apagaram.

Kieron se levantou, furioso.

A Casa Branca não era só um abrigo.

Era um experimento.

— Quem está por trás disso?

A parede respondeu:

— A mulher do espelho.

Aquela que veste pele de cordeiro e mente com sorriso.

A mentora da Casa.

Sra. Miriam.

---

No escuro, Kieron apertou os punhos.

Nix precisava lembrar de tudo. E os outros jovens também.

E se a mulher que fingia ajudar fosse a mesma que enterrava memórias vivas?

A guerra não era mais entre o mundo dos vivos e dos mortos.

Era entre a verdade e a manipulação.

E a parede acabara de abrir a primeira fresta.

Kieron saiu da Casa Branca com o coração batendo feito sirene. O céu ainda estava escuro, mas não tanto quanto os segredos que começavam a emergir.

No bolso, além da pulseira azul de Nix, agora havia algo novo: uma pequena folha manchada de sangue seco, arrancada de um fichário escondido no assoalho do porão.

Nomes.

Doze.

Todos riscados.

Exceto dois.

Elisabeth “Nix” Raines

Evelyn L. Carter

As únicas não marcadas com um "X".

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De volta ao necrotério, Kieron se trancou na câmara onde os corpos eram preparados.

Era ali que ele sentia mais lucidez.

Mais conexão.

Mais verdade.

— Nix… — chamou, em voz baixa.

Ela apareceu. Não como fantasma, mas como presença. Um ar frio que ondulou as luzes, um arrepio que dançava entre os instrumentos de aço.

— Evelyn. Ela... ela estava comigo, não estava? — perguntou ele.

Sim.

A voz veio como um eco dentro da mente dele.

Ela era como eu. Mas mais forte. Mais… consciente. Quando tentamos fugir, ela ficou para trás. Me empurrou. Disse: ‘Se alguém escapar, que seja você.’

Kieron segurou o papel.

— Se Evelyn ainda estiver viva, ela pode ter as respostas. Ela pode ser a chave.

Ou... estar sendo caçada.

O pensamento ficou suspenso no ar. E então, uma batida.

Três toques na porta do necrotério.

Secos. Firmes.

Kieron congelou.

O necrotério estava fechado. Ninguém deveria estar ali.

Ele se aproximou, devagar, e espiou pela abertura da porta.

Uma figura de sobretudo cinza. Chapéu cobrindo o rosto.

Na mão, uma pasta preta.

A figura não falou nada. Apenas colocou a pasta no chão e se afastou, sumindo no corredor como fumaça.

Kieron pegou a pasta com cuidado.

Dentro, havia:

– Cópias de prontuários.

– Fotos dos internos.

– E uma única frase em letra tremida, num papel à parte:

“Ela ainda está viva. Evelyn sobreviveu. Mas não por muito tempo.”

---

A mente de Kieron fervilhava.

Nix, Evelyn, a Casa Branca, os apagamentos de memória, a Sra. Miriam.

Não era apenas sobre almas perdidas.

Era sobre provas enterradas.

E talvez... sobre vingança.

Mas para seguir adiante, ele teria que encontrá-la.

Evelyn.

A única sobrevivente.

Aquela que enfrentara o espelho… e talvez, tivesse vencido.

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