A fita azul escorregava lentamente das mãos do menino sem olhos, como se cada fibra guardasse as memórias da mulher que Kieron perdera. Evelyn. Seu nome parecia ecoar silenciosamente pelas paredes do necrotério, carregado por um vento que vinha de lugar nenhum.
O garoto não se mexia. Apenas o encarava com a face em branco, imóvel, como um convite — ou um aviso. Quando sua boca se abriu mais uma vez, a voz do médico soou distorcida, como um eco vindo do fundo de um túnel de séculos.
— Você ainda pode fugir, Key’Ryn. Mas se escolher guiar… eles virão todos. E nem todos querem partir.
Kieron sentiu o colar de Evelyn vibrar contra seu peito. Um calor antigo, protetor, como se a alma dela ainda estivesse ali, observando, cuidando. Ele ergueu os olhos para o menino.
— Eu não vou fugir.
A porta do necrotério se fechou sozinha atrás dele. A sala mergulhou numa penumbra viva. Um estalo percorreu o teto. As paredes começaram a rachar — não como concreto, mas como vidro.
O Véu… estava rachando.