No décimo dia após o nascimento do selo de Kiera, o mundo perdeu o céu.
Não que ele tenha desaparecido. Ainda havia estrelas e nuvens. Mas agora, ao erguer os olhos, era possível ver cidades refletidas, girando sobre si mesmas. Edifícios flutuantes, luzes piscando no vazio, ruas paralelas às do mundo físico. Uma sobreposição.
Era como se um espelho imenso e invisível tivesse se curvado sobre a Terra.
— O Véu não apenas afinou — disse Ezra, observando com binóculos espirituais. — Ele se inverteu. E o reflexo… agora nos observa.
Kieron se manteve em silêncio. Estavam sobre o telhado da sede da Ordem da Lembrança. Ao seu lado, Evelyn e Lia também olhavam o céu que já não era céu. Kiera dormia em um cômodo protegido por runas de contenção.
Na mão de Kieron, o colar de Evelyn tremia. Vibrava como um sino ancestral.
— Alguém está tentando atravessar — disse ele.
— Do outro lado? — perguntou Lia.
Kieron assentiu.
— Mas não de uma cidade. De algo maior.
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O primeiro caso ocorreu em Lisboa.