• Segundo Volume da série Caminho das Estrelas • Depois de descobrir suas verdadeiras origens, Eveline ainda não está pronta para mais outra. Porém, o perigo parece compenetrado em arrastá-la para o meio do fogo cruzado, pondo a prova todas as suas noções de limites. O inimigo que espreita das sombras está prestes a chegar, e a velha maldição que a persegue de perto está prestes a se revelar. Por quais razões, sua Antecessora, Evangeline Hatthwey, teria sumido sem deixar rastros? Pela primeira vez em anos, a verdadeira face do horror está prestes a ser revelada, pondo em prova todos os limites e a resistência de Eve e Eron. Conseguiram, ambos, resistir contra o destino imposto e já traçado antes mesmo que os dois existissem? E como, conseguirão trazer Havana e Layan de volta, intactos, se Eve nem mesmo tem acesso aos seus poderes? Quando as luzes se apagam, as sombras predominam.
Leer másP A R T E I _ M O N T E D E C I N Z A S
“Você me acendeu, monte de cinzas que sou,
E me transformou, em fogo.”
_Charles Dickens. Um Conto de duas Cidades.
F A G U L H A
“Aqui, rasteje miserável, sob um conforto
em um redemoinho: toda vida e morte se extingue, e todo dia morre com o sono.”
—Gerald Manley Hopkins. “No Worse, There is None”.Miriad. Mansão dos Espelhos.
Dezessete anos atrás
Eram muitas imagens para representar todas as faces de uma única pessoa.
“Espelhos. São tantos espelhos!”.
Qual era o problema com reflexos? O que eles deveriam refletir quando apelados? Como confiar nas imagens que seus olhos recriavam a sua frente? Como confiar em si mesmo, diante de tudo que deveria ser considerado?
Espere. Ele ainda considerava algo?
Sim. Tinha alguma coisa. Porém as razões fugiam de sua compreensão cada vez que tentava agarrar e se ater as lembranças, que fugiam como pequenos fios dançantes toda vez que sua mente ousava se aproximar de mais. Perigoso. Inconfiável. Fácil de ser descartado. Os sentimentos se confundiam entre si.
“Tente! Tente mais um pouco! Apenas... mais uma vez.”.
Mas então, a próxima vez, era quase tão ruim e agonizante quanto a anterior. Tentar lembrar doía. Como se a verdade corroesse seus ossos e zombasse das lágrimas quentes que afloravam das suas órbitas em chamas, distantes, sombrias e inalcançáveis.
Piorando. Estava piorando cada vez mais. Era o único fato sobre o qual as certezas ousavam se revelar.
Havia o fogo. Ele estava consumindo cada espaço apertado de seu coração. Estava correndo veloz pelas veias. Estava carbonizando todas as suas células e incendiando todas as lembranças. Já não existia mais nada dele ali dentro. Ou existia? Céus, como poderia fazer para se encontrar? Reflexos não eram suficientes. Não contra isso. Alguém deveria alertá-los.
Espere, alertar quem?
“Maluco! Estou ficando maluco!”.
O tic-tac do relógio em algum lugar desconhecido do ambiente ribombava em um ritmo fúnebre e inalcançável aos seus ouvidos, lhe alertando sobre o término de seu tempo a cada segundo a menos, lhe prendendo em um inferno particular enquanto a fagulha, lá dentro, se encarregava de incendiar o restante. A Fagulha era esperta. Ela nunca errava uma. Tic. Tac. Fogo. Tic. Tac. Fogo. Tic. Fogo. Tac.
“Seu tempo está acabando. Você vai queimar. Você vai ter o seu inferno, seu cafajeste! Você plantou, hora de colher. Tic. Tac.”.
Como um lunático, sentado no chão molhado de suor e lágrimas, ele se agarrava as pernas, balançando para frente e para trás numa sinfonia doente e maníaca, mordendo os lábios com tanta força, que fazia o sangue quente e amarelado brilhante escorrer pelo queixo.
Ele já não sangrava mais vermelho.
Era só uma questão de tempo agora.
O tempo. Aquela pequena constante que determinava todo um futuro.
Sabia qual era o seu. Sabia para onde estava indo. E sabia que muito em breve, teria companhia.
Quando a pequena informação escapou, concedida por piedade Celeste de suas memórias perdidas, permitiu que um amargo sorriso aflorasse entre os lábios sangrentos.
”Ah, sim. Companhia.”.
Tic. Tac. O tempo havia se esgotado.
“Até o Inferno...”.
Desde o início de tudo, tal palavra cruel nos rondava.Maldição.Esteve nos lábios de Eron desde a primeira vez em que nos beijamos. Esteve em cada um dos poemas sombrios que acompanharam meus dias. Esteve nos olhos de tia Peg e Arena cada vez que um acontecimento desastroso se desenrolava, e esteve gravitando a história de Evangeline desde que eu descobrira sobre ela.A prenuncia esteve sempre ali, maldita sobre nossas cabeças. Pesada sobre nossos ombros. Real sobre nossos pesadelos.Um fantasma que enfim resolvera se materializar e dar as caras.“Não se esqueça que fui eu quem destruiu todas as suas Antecessoras! Fui eu quem observou a maldição destruir cada uma delas! ”_ Zórem havia dito, “ .... até... a... quarta... geração....”.Enquanto Meninges corriam para lá e para
SE EM ALGUM MOMENTO DA VIDA, ALGUÉM TIVESSE ME DITO QUE antes mesmo dos dezoito, haveriam Estrelas Caídas se ajoelhando aos meus pés... bem, eu diria que este alguém precisava, com certa urgência, de uma consulta com algum psiquiatra Falange para possíveis tomadas de precauções. Sua saúde mental estaria totalmente prejudicada. Falida. Destroçada.No entanto, naquele momento, destroçada estava eu.Tão boquiaberta que nem mesmo fui capaz de expelir qualquer tipo de meia palavra.Haviam Estrelas.Caídas, mas ainda eram Estrelas.E elas se ajoelhavam como se eu fosse alguma... Nebulosa?Meus olhos procuram Arena em desespero, na ânsia de obter algum auxílio, mas ela parecia quase tão perdida e atônita quanto eu. Hanna parecia como se tivesse quebrado os pulmões, e Arbo parecia se decidir mentalmen
A VISTA POR DE TRÁS DO PORTAL RECOBERTO DE LIQUENS coloridos foi apenas mais uma surpresa.Depois de um longo túnel muito semelhante ao qual havíamos percorrido, a vegetação passou a mudar, de morta e aparentemente bipolar, para aceitavelmente mais viva, mas ainda não verde. Ao invés de verde, as folhagens apresentavam uma coloração semelhante ao vinho envelhecido. Algumas raízes chegavam a serem vermelhas, tão vivas quanto a pimenta. Quando a luz começou a verter em abundancia pela abertura a frente, um céu acinzentado, cujas cores escuras carregadas pintavam nuances como a tela de um pintor enlouquecido, nos saudou com sua dose de realismo.Quando apontamos abaixo da entrada, meu queixo voltou a cair. A paisagem parecia, de fato, um quadro não muito elaborado nos detalhes, cujas técnicas em pastel eram apreciáveis e
HAVIAM MUITAS BIFURCAÇÕES, E AS PAREDES SE comportavam como se estivessem vivas. Vez ou outra, uma ondulação estranha nos cercava, ecoando pela terra, a fazendo com que raízes finas se desprendessem da mesma e agissem como braços pútridos e ressecados. Na última vez, uma raiz se prendeu teimosamente nos cabelos de Hanna, e ela gritou tanto, que o teto tremeu, ameaçando despencar sobre nossas cabeças.O lado bom, foi que saímos antes que ele despencasse.E a nova bifurcação possuía um ar interessante.Cheiro de azevinho e folhas secas nos recebeu em forma de brisa, e um brilho intenso e estranho se refletia no teto alto e cheio de depressões estranhas.Uma longa e íngreme ponte de pedras retorcidas se estendia a nossa frente, cujo outro lado, se agigantava dentro da cena na forma de um imenso portal escuro feito de vin
O MUNDO ERA UM REDEMOINHO CONFUSO. Um ciclo vicioso cheio de ondulações errantes.Num momento, eu estava em pé, sobre o chão, sentindo o mundo tremer como se o planeta estivesse se deslocando de seu eixo natural. No outro, o mundo havia se aberto e eu caía na toca do coelho e rolava como um tatuzinho de quintal desgovernado.A sensação de ser puxada para baixo com tanta brutalidade era quase tão ruim quanto a de ser virada ao avesso depois de cruzar uma Passagem.A descida íngreme era apenas uma de minhas preocupações enquanto tentava entender onde eu começava, e consecutivamente, onde terminava. Minha cabeça parecia ter trocado de lugar com as pernas, e depois, meus ombros estavam a frente de tudo e mais adiante, meu quadril rodopiava. Cada pensamento sensato pulou para fora de minha mente. Não havia onde se segurar, n
VOCÊ SABE QUANDO ESTÁ MARCHANDO PARA O ABISMO.A sensação é horrível.Você caminha, e o chão treme. Instável e sem segurança. Você quer gritar. O medo vem como um soco no estômago. Mas não pode parar, ou a terra pode te engolir como areia movediça.Um passo após o outro.Medo. Passo. Tremor leve. Passo. Dor. Medo.Não existe como fugir.Eu calculava a base de autocontrole que iria precisar desenvolver mentalmente, enquanto o ritual de passagem para o mundo de Tríade era cria
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