Gustavo Henri, um famoso jogador de futebol, tinha acabado de flagrar a sua mulher o traindo com o seu produtor na mansão onde eles moravam. Saindo às pressas de casa para não cometer uma loucura, ele provoca um grave acidente, quando atropela Kara, e não presta socorro a ela. Mas o que Gustavo não sabia é que em menos de vinte e quatro horas sua vida mudaria completamente. Por outro lado, Kara Jimenez jamais se esqueceria daquele momento, até o dia em que arruma um emprego de babá e descobre que o seu patrão será Gustavo, o jogador soberbo que ela admirou um dia.
Ler maisGustavo Henri
Eu havia esquecido minhas chuteiras da sorte em casa e já estava alguns quilômetros longe, quando fiz o retorno. Eu não estava disposto a jogar aquela noite sem o meu amuleto da sorte e embora eu soubesse que chegaria ao treino atrasado, voltei para casa.
Quando estacionei o carro avistei um veículo estranho na porta da minha mansão. Me questionei se a Bruna, minha esposa, estaria recebendo visitas. Bem provável que não. Ainda assim não dei muita importância. Subi as escadas rapidamente, enquanto ouvia risos, vindo da suíte, e quando abri a porta, me deparei com os olhos de Bruna arregalados, como se tivesse visto um fantasma.
Ela pulou da cama, puxando os lençóis e cobrindo sua nudez, enquanto Donovan se erguia, ficando frente a frente comigo.
— Gustavo – a voz dela estava tremula – o que você está fazendo aqui?
Cerrei os punhos, mas não tentei acalmar meus nervos. As coisas ficaram ainda pior quando vi minha filha dormindo tranquilamente, no mesmo quarto que a minha mulher me traia.
— E então é isso que você anda fazendo enquanto eu saio para trabalhar? – eu percebi o quanto ela ficou assustada com a minha última palavra, quando começou a caminhar na minha direção, eu avancei em Donovan.
Bruna tentou me impedir, Donovan levantou os braços e gaguejou alguma coisa a qual eu não dei importância, quando percebi já havia batido no rosto dele e a cena daquela bunda branca caindo no chão foi a única coisa que eu jamais me esqueceria.
— Eu posso explicar – agora Bruna chorava e tentava a todo custo me segurar – eu juro por Deus, Gustavo, essa é a primeira vez que aconteceu.
— Como se uma vez já não bastasse – eu estremeci com o pensamento de que ela estava mentindo – você não tem respeito nem mesmo pela nossa filha recém-nascida.
— Me perdoa – o choro dela se intensificou, mas as suas lagrimas me causavam nojo.
Eu não a respondi, caminhei até o closet avistando minhas chuteiras, enquanto Bruna corria desesperada atrás de mim. Ela gesticulava com a voz embargada, mas eu fingia que não escutava. O único som que eu ouvia era as batidas frenéticas do meu coração e minha respiração pesada, a qual eu já não conseguia controlar.
Eu precisava sair dali imediatamente, antes que eu cometesse uma loucura. Quando sai do closet, me deparei com Donovan, agora de pé e vestido, parado na minha frente. Eu acertei precisamente o rosto dele e o sangue escorrendo do seu rosto me encheu de satisfação.
— Vamos conversar, Gustavo – ele dizia, com uma expressão assustada.
— Saia da minha casa imediatamente – eu o segurei pelo colarinho da velha camisa e o arrastei para fora do meu quarto – eu não tenho mais nada para conversar com você. Está demitido.
— Demitido? – ele vinha correndo atrás de mim enquanto eu descia as escadas – e quem vai cuidar da sua carreira de jogador de futebol?
— Eu contrato outro – a cada palavra meus passos ficavam mais intensos. Se eu ficasse só mais um minuto ali, eu acabaria com a vida daquele homem – há dezenas de outros empresários nessa cidade loucos para trabalhar para mim.
Eu assenti. Donovan sabia de tudo. Ele sabia que eu não estaria em casa naquele dia porque havia um jogo importante. Tinha em mãos toda a minha rotina. Frequentava a minha casa como um amigo, era o meu empresário, o homem que cuidava da minha carreira, e embora fosse um homem mais velho e casado, eu jamais imaginei que ele me trairia dessa forma.
A dor dilacerava meu coração. Olhei para a Bruna pela última vez antes de entrar no carro e dizer a ela.
— Quando eu voltar, não quero mais vê-la na minha casa – ela avançou para cima do carro – arrume suas coisas e vá imediatamente embora daqui.
— Por favor, Gustavo, vamos conversar – eu fechei o vidro do carro e liguei o motor saindo em disparada dali.
Não olhei pelo retrovisor, não suportaria ver a minha história ficando para trás. Eu engoli em seco, enquanto um nó se formava na minha garganta. Uma lagrima escorreu pelos meus olhos, mas eu a limpei e impedi que outra fosse derramada. Eu amava aquela mulher e jurei que ao seu lado eu formaria uma família.
Agora nada mais importava. Acelerei o veículo e gritei. Coloquei para fora toda a minha dor e angústia e prometi que partir daquele momento eu seria fiel apenas ao meu trabalho.
Certamente fiquei cego pelo ódio. Eu já estava em frente ao centro de treinamento, quando me dei conta que o portão estava aberto. Eu estava pronto para entrar quando o meu carro se chocou com alguma coisa. O barulho estrondoso da frenagem do carro, me assustou e lançou meu corpo para frente. Fiquei tonto e sem entender o que havia acontecido.
Quando desci do veículo, vi uma mulher de joelhos no chão. Eu mal conseguia ver o seu rosto. Ela se levantou com dificuldade enquanto a raiva me consumia. Olhei no relógio e eu estava meia hora atrasado. Caminhei em direção a ela e agarrei o seu braço sem nenhuma cerimônia.
— Você não olha por onde anda? – ela tirou os fios de cabelo do rosto e olhou para mim, enquanto um gemido de dor escapulia pelos seus lábios.
— O quê? – eu a soltei em um acesso de raiva, enquanto a garota olhava, com os olhos arregalados para mim.
— Não tenho tempo para isso – caminhei de volta para o veículo pronto para sair dali – saia da minha frente imediatamente.
Eu não me importei se ela estava ferida ou se eu podia tê-la matado. Eu tentava escapar da confusão da minha vida e não queria me envolver em outra.
— Não tem tempo? – Ela caminhou mancando na minha direção segurando na porta do carro – você me atropela e depois diz que não tem tempo?
Eu olhei nos olhos furiosos dela. Eles tinham um brilho inigualável e a voz dela, embora a alterada soasse doce aos meus ouvidos, eu a ignorei completamente.
— Olha, menina, estou tendo um dia bem ruim hoje. Eu agradeceria se você não piorasse as coisas.
— Ele teve um dia ruim! – um sorriso debochado surgiu em seus lábios – e quem paga por isso sou eu?
Franzi a testa com o modo irônico como ela agia comigo. Abaixei o olhar e vi o joelho dela sangrando. Peguei a carteira no banco do passageiro e retirei algumas notas de dentro.
— Você quer dinheiro para o táxi? - segurando as notas, estiquei o braço, jogando o dinheiro no rosto dela – está aqui. Pegue-o e desapareça da minha frente.
Eu entrei no carro, observando-a olhar para o dinheiro no chão, com uma expressão de horror no rosto. Liguei o veículo e sai dali. Quando entrei no centro de treinamento, olhei pelo retrovisor. A garota parecia paralisada. Continuava no mesmo lugar. Mas eu não tinha mais tempo para sentir culpa por aquilo, sai do veículo e fingi que nada havia acontecido.
Kara Jimenez Quando meus pés pisaram em solo brasileiro, meu coração afundou. Eu tentei decifrar o que eu sentia por estar de volta, mas a felicidade de estar ao lado das pessoas que eu amava sempre iria prevalecer. Avistei de longe aquela garotinha dos cabelos dourados. Estava de costas para mim ao lado de Alexandre. Ele indicou para ela onde eu estava e Olivia correu ao meu encontro. Ela estava eufórica e, ao mesmo tempo, emocionada. Me segurava com tanta força que achei que nunca iria me soltar. Olhei para os olhos dela, cheios de lágrimas, o rosto vermelho, como se tivesse feito muita força e se cansado rapidamente. Com muita dor em meu coração, eu lhe disse: — Sinto muito ter abandonado você – acariciei seu rosto e limpei suas lagrimas. — O tio Gustavo cuidou muito bem de mim – ela sorriu convicta do que estava falando – e cumpriu a promessa de trazer você de volta. O Gustavo se aproximou com Caleb nos braços e eu fiquei observando qual seria a reação de Olivia ao receber
Gustavo Henri O tom frio e a voz triste da Kara fazem meu coração se afundar dentro do meu peito. Eu a observei virar as costas e entrar indo na direção do Caleb. Acompanhei os policiais para fora para prestar o meu depoimento, mas o que eu queria era ficar com a Kara, não havia ninguém que precisava de mim mais do que ela. Afrodite veio buscá-la e já era tarde da noite em Nova Iorque. Eu estava na delegacia quando Alexandre ligou para mim. Ainda era madrugada e eu me assustei com a urgência da ligação. — A audiência da guarda da Jasmim acontecerá amanhã – meu coração se descontrolou – precisa voltar para o Brasil imediatamente. Meu mundo desmoronou mais uma vez. Eu ainda não podia voltar, precisava resolver as coisas entre mim e a Kara. Prometi a Olivia que traria sua irmã de volta, como eu chegaria no Brasil sem a Kara ao meu lado? Eu apenas concordei com as orientações do Alexandre e pedi para que Afrodite fosse me buscar. Amanhecia e o céu ganhava tons alaranjados com os pr
Kara Jimenez Meu coração batia descontroladamente dentro do meu peito e isso transparecia em todo o meu corpo. Sei que Sebastian me esperava atrás dessa parede, mas eu não conseguia parar de pensar nas últimas palavras de Gustavo para mim. Sua declaração havia soado tão doce e eu não consegui fazer nada a respeito. Eu saí tão rápido que quase tropecei nas minhas próprias pernas. Parei subitamente a um passo de ver o Sebastian e me acalmei. Estava no momento de resolver aquilo de uma vez por todas. Enchi os pulmões com ar e fechei os olhos antes de dar um passo e ficar de frente com ele. Os dois estavam parados atrás do balcão e os olhares se voltaram para mim. Um sorriso maquiavélico repuxou os lábios de Celeste, mas ela não estava feliz em me ver, aquilo era puro cinismo de alguém que sabia que se daria bem em cima da própria filha. Ouvi um rangido vindo do corredor e girei o pescoço para ver e garanti que não era o Gustavo pronto para estragar tudo. Vi Clemente cruzar a porta e
Gustavo Henri. Os olhos de Kara escureceram. Ela não conseguia entender. Eu imediatamente me culpei por dar uma notícia dessa forma. Não foi assim que planejei e, quando percebi, ela, perdendo as forças, a agarrei, segurando-a com força contra o meu corpo. Silenciosamente, Kara chorou e naquele momento considerei o silêncio minha melhor opção. Eu apenas a segurei em meus braços enquanto permitia que ela colocasse para fora toda a dor. — Como descobriu isso? – ela se afastou e eu lamentei – porque eu não fiquei sabendo… — A notícia estava em todos os jornais da cidade – respondi, mas Kara permanecia de cabeça baixa - não tinha como você ficar sabendo. Lamento muito. Ela permaneceu ali como se estivesse congelada no tempo ou afundada pelas próprias memórias. Percebi então que eu sabia muito pouco sobre esse lado da vida da Kara. Desde quando a conheci, ela nunca gostou muito de falar sobre sua família, seus pais e o relacionamento que havia tido com eles. Era tudo muito vago, aind
Kara Jimenez Aquilo era um pesadelo que eu não conseguia acordar. De repente o Gustavo bateu na minha porta, voltou para minha vida e quando descobriu que tivemos um filho juntos ficou com raiva e partiu, me deixando com um nó enorme na garganta cheio de palavras que eu ainda precisava dizer a ele. Observei da janela Afrodite tentar convencê-lo de voltar e terminar nossa conversa. Aliás, foi isso que pedi a ela para que fizesse por mim, já que a ideia brilhante de levar o Gustavo de volta para minha vida havia sido exclusivamente dela. Mas a conversa pareceu não terminar bem. Ele olhou para mim pela última vez e entrou no carro de Afrodite. Meu coração disparou e eu concluí que agora era a vez dele partir da minha vida para sempre. Caleb dormia tranquilamente no berço quando eu o deixei e corri na direção da rua, mas Gustavo já havia partido. — Para onde o Gustavo foi? – temi a resposta, tanto que nem olhei nos olhos de Afrodite. Ela demorou para me responder e até tentou disfa
Decidi parar de ouvir e simplesmente deixei que as lágrimas falassem por mim. Ainda paralisado no mesmo lugar, eu apenas olhava para aquela criança que dormia tão tranquilamente e não acreditei no que Kara dizia a mim. — Meu filho? – Certamente minha pergunta poderia ofendê-la – um menino? Os olhos de Kara se estreitaram e ela sorriu. Eu tentei acompanhar o seu ritmo, mas Kara estava visivelmente mais emocionada do que eu. No silêncio, ela apenas balançou a cabeça. Ainda que se esforçasse para dizer algo a mais, ela não conseguiu. Nem mesmo eu sabia o que dizer naquele momento. Kara o entregou para mim e minhas mãos tremulas denunciaram o quanto aquele momento era único em minha vida. — O nome dele é Caleb Henri – ela disse e eu olhei para ela sem acreditar que, mesmo decidindo ter um filho longe de mim, ela havia pensado em absolutamente tudo – e ele nasceu há três dias. Peguei Caleb em meus braços. Jamais negaria que seria meu filho, ele se parecia comigo quando eu era criança.
Último capítulo