VIKTORFicamos uma semana no hospital. Longa e Intensa. Mas agora estamos voltando pra casa com nossas filhas nos braços. Só de pensar nisso, me dá um nó na garganta.Meus pesadelos diários,aqueles onde eu repetia os erros do meu pai,foram enterrados no momento em que Valentina e Viktoria olharam pra mim pela primeira vez. Eu nunca, nunca vou machucar esses anjinhos. Elas são tudo o que eu tenho de mais puro.Minhas filhas são gêmeas idênticas. Mesmo rosto, mesmo choro, mesma carinha de bolacha. Tivemos até que por pulseirinhas com seus nomes para identificar elas. Óbvio,que para os outros. Porque eu e Isabella sabemos. É mais pela intuição,do que pela aparência. Viktoria é um pouco menor, mas seus pulmões são excelentes,faz um escândalo que parece que tão matando. Valentina, ao contrário, é totalmente na paz. Desde que esteja colada na mãe, tá tudo certo. Viktoria é mais minha. Se acalma só de ouvir minha voz. E quando olha pra mim, eu juro… parece que me reconhece imediatamente.Tô
Isabella 1 ano depois— Amor, corre! Você vai perder! — grito, rindo e nervosa ao mesmo tempo, com o coração batendo acelerado.— Tô indo, amor! Segura elas aí! Só fui pegar a câmera!As meninas, com 1 ano e 1 mês, estão a segundos de dar os primeiros passos sozinhas. Eu já consigo sentir as lágrimas nos olhos só de pensar nisso. Viktor chega esbaforido, já com o celular apontado gravando,com aquele sorriso bobo que só ele tem.— Vem, minhas princesas… vem com o papai! — ele se abaixa, com os braços abertos, os olhos brilhando de ansiedade.E então… acontece.As duas, entre risadinhas e gritinhos, uma balbuciando “papa” e a outra “mama”, se lançam no mundo com cinco passinhos trêmulos. Sozinhas. Lindas. Corajosas.— Isso aiiiii, minhas meninas! — grito, gargalhando enquanto choro. Eu sou só emoção agora. Um mar de felicidade.Viktor as pega no colo no mesmo segundo em que chegam até ele, girando com elas nos braços. A sala explode de risadas e gritinhos. Valentina e Viktoria estão em
ISABELLATiros. Gritos. O cheiro de pólvora no ar.Estou agarrada à minha mãe, chorando desesperada. Meu coração bate tão forte que parece querer rasgar meu peito. Por que isso está acontecendo? Por que querem nos machucar?A porta é arrombada com um estrondo que ecoa por toda a sala. Um homem surge na entrada.— Te achei, sua desgraçada — ele rosna, o sotaque estranho tornando suas palavras ainda mais aterrorizantes.Ele aponta a arma para mim, um sorriso macabro no rosto. O som do disparo explode nos meus ouvidos.— ISABELLA! — O grito da minha mãe é a última coisa que escuto antes da escuridão me engolir.Acordo ofegante.O despertador toca ensurdecedor ao meu lado. Meu coração ainda está disparado, e a sensação horrível do sonho persiste. De novo, esse pesadelo. Se eu contar para minha mãe, ela vai dizer que minha imaginação é fértil demais. Mas por que isso parece tão real?Sacudo a cabeça, tentando afastar os pensamentos. Hoje é o primeiro dia do último a
ISABELLA Entramos no avião. Minha irmã se senta ao meu lado, os olhos fixos em nosso pai, esperando,não exigindo,uma explicação. Quando percebe que ele não diz nada, ela explode: — E então? Vai explicar que merda está acontecendo ou temos que implorar? — Livi nunca teve paciência para rodeios. Nosso pai solta um suspiro pesado. Seu olhar carrega um peso sombrio, como se estivesse prestes a abrir uma ferida que nunca cicatrizou. — Eu vou contar tudo. Vocês merecem saber a verdade. O silêncio que se segue é ensurdecedor. — Há vinte e dois anos, sua mãe fugiu do país onde morava, Rússia.Seu avô… — ele hesita, escolhendo as palavras com cuidado — é um homem cruel e detestável. Ele queria obrigá-la a se casar com um velho de setenta e cinco anos, ainda mais asqueroso que ele. Meu estômago revira. — A única alternativa dela foi fugir. Um soldado infiltrado do meu pai, que é o chefe da máfia nova iorquina, a ajudou a escapar. Trouxeram Melissa para a América, onde ela ficou s
ISABELLA Pousamos no Queens no meio da madrugada. O sono pesava, mas o frio na barriga falava mais alto. No momento em que descemos do avião, carros enormes e blindados já nos esperavam. Meu pai e meu tio saíram cumprimentando aqueles homens com tanta empolgação que até parecia reencontro de novela mexicana. Assim que entro no carro, faço questão de me certificar de que estou em um diferente de dona Melissa. Ainda não estou pronta para falar com ela. E se eu entrar no mesmo carro, vai que ela tenta puxar assunto? Prefiro evitar o risco. Nem percebo o tempo passar, só noto que chegamos quando os carros param. Olho pela janela e me deparo com um condomínio imenso: quatro mansões enormes e várias casas germinadas ao redor. O carro estaciona em frente à maior delas. Parece coisa de filme. Antes mesmo de absorver a grandiosidade do lugar, noto uma movimentação na porta da casa. Uma senhora sorridente surge acompanhada de um senhor elegante. — Vovó! Vovô! — Eu e meus irmãos gritam
ISABELLA Acordo me sentindo mais leve. Depois de uma noite bem dormida em uma cama digna de princesa, boa parte da angústia se dissipou. Ainda estou magoada com minha mãe, mas sei que não posso ficar sem falar com ela para sempre,especialmente agora, com essa guerra contra a família dela prestes a explodir. Me levanto e pego o celular: 15 chamadas perdidas e 50 mensagens não lidas. Josh. Meu melhor amigo desde os seis anos. Conheci ele no primeiro dia de aula, quando o encontrei apanhando de um valentão. Sem pensar, me joguei no meio da briga e gritei o mais alto que pude para chamar a atenção da diretora. Funcionou. Desde então, nunca mais nos desgrudamos. Hoje, ele é o capitão do time de hóquei e conseguiu uma bolsa para estudar engenharia em Nova York. O plano sempre foi irmos juntos,ele engenharia e eu artes,mas parece que a vida tinha outros planos. Sento na cama e ligo para ele antes que o senhor do drama decida sequestrar um helicóptero para me encontrar. — ALÔ,
ISABELLA Hoje é o nosso primeiro dia na imprensa. Logo pela manhã, teremos uma reunião por vídeo chamada com Nathanael, o chefe da máfia de Chicago. Ele é nosso aliado e guarda nossos melhores armamentos sem levantar suspeitas. Em troca, ajudamos a construir um dos maiores bunkers da região, com o acordo de usá-lo como bem quisermos. Além disso, Nathanael é pai de Romeu,marido da minha tia Emília e melhor amigo do meu avô. Desde as quatro da manhã, estou dentro do meu closet, revirando cada peça de roupa na tentativa frustrada de encontrar algo perfeito para vestir. Nada parece bom o suficiente. Pedir ajuda para minha mãe está fora de questão. Ela ainda não superou o fato de que eu e minha irmã escolhemos "essa vida", como ela sempre diz. As discussões intermináveis entre ela e meu pai são a prova de que, no fundo, seu problema não é a escolha em si, mas o medo de nos perder. Quando o relógio marca seis horas, desisto. Pego qualquer roupa, minha bolsa, escondo a arma na cintura e s
ISABELLA Chegamos à empresa junto com meus irmãos. Papai, vovô e tio Lucas sempre chegavam mais cedo. Assim que entramos, Otto se virou para mim, os olhos carregados de reprovação. — Onde você estava, irmã? Mamãe ficou louca por não te achar no quarto. Revirei os olhos, já esperando essa cobrança. — Mamãe tem que aprender que somos maiores de idade e não precisamos dar satisfação de cada passo que damos. Avisei a Gianna que estava saindo e pedi para ela contar à mamãe quando acordasse. Meu tom era firme, intransigente. Minha relação com dona Melissa nunca mais foi a mesma desde que descobri toda a verdade. — Ela só quer ter certeza de que você está bem — Otto rebateu, com a paciência de quem sempre tenta defender o indefensável. — Não é porque você é o puxa-saco dela, Otávio, que eu também devo ser — respondi, cruzando os braços. — Eu estava segura com meu armário particular. Ela sabe disso, e não precisa de mais informações. Apontei para Marcello, que nos acompanhava d