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Parte 3 - Não há lugar como o nosso lar

Acordei com o som suave e constante da chuva batendo na janela. O dia lá fora estava cinza, molhado e convidava a ficar na cama. Mas o lado de Demétrio estava vazio, já frio. Ele já tinha saído para a clínica, como em tantas manhãs, aproveitando as primeiras horas antes do trânsito piorar.

Levantei devagar, sentindo o ar fresco do quarto na pele. Fui para o banheiro, tomei um banho rápido para despertar de verdade, sentindo a água quente aliviar um pouco a tensão nos meus ombros. Vesti algumas roupas simples para ficar em casa.

Assim que saí do quarto, pronta para descer para a cozinha e fazer um café, ouvi um barulho. Vinha do quarto ao lado, o de hóspedes, o quarto da Vivian. Um som estranho, abafado, como um engasgo? Vômito?

A porta estava entreaberta. Parei por um segundo, ouvindo de novo, confirmando o que parecia ser. Empurrei a porta de leve e entrei sem pensar. A luz do banheiro que ficava dentro do quarto dela estava acesa, uma fresta amarela na escuridão suave do quarto.

Fui direto para o banheiro. E lá estava ela. No chão frio de azulejo, de joelhos, curvada sobre o vaso sanitário. Vomitando. O cabelo caindo para a frente, o corpo tremendo com o esforço.

Corri para o lado dela, sem pensar na sujeira, no cheiro, em nada além de ajudá-la. Me ajoelhei ao lado dela, sentindo o frio do chão. Segurei o cabelo dela para trás com uma mão, enquanto a outra pousava nas suas costas, esfregando suavemente.

Minhas mãos tremiam um pouco enquanto eu fazia isso. Aquilo só significava uma coisa.

O mundo pareceu girar por um segundo, e meu coração disparou no peito. A imagem clara e inegável. Grávida. Ela estava grávida.

Claro.

O Marcos. Tinha que ser dele. O casamento tóxico de onde eu a tirei três semanas atrás. Faziam exatamente três semanas que ela estava aqui, morando sob o mesmo teto, com a gente. Três semanas e ela não disse nada. Não me contou. Nem uma palavra.

As ondas de enjoo diminuíram. Ela levantou a cabeça devagar, o rosto pálido e suado, os olhos fechados por um momento. Abriu-os lentamente.

"Vivian?", eu disse baixinho, ainda segurando o cabelo dela, minha voz controlada apesar da tempestade de pensamentos dentro da minha cabeça. Quando ela conseguiu se virar um pouco, o olhar cansado encontrou o meu. "Eu já passei por isso uma vez", eu disse, minha voz calma agora, tentando dar a ela algum tipo de conforto na minha certeza. "Conheço esses sintomas." Respirei fundo. "Posso dizer com certeza. Você está grávida, não está?"

Ela não pareceu surpresa com a minha pergunta. Nenhum choque, nenhuma tentativa de esconder ou mentir nos olhos cansados. Apenas assentiu com a cabeça, lentamente, olhando para o vaso sanitário como se estivesse esgotada demais para qualquer outra reação. Apenas a confirmação silenciosa e pesada.

Ajudei a Vivian a se levantar devagar do chão frio do banheiro. Ela estava fraca, o corpo ainda tremendo um pouco. Fui até a pia, molhei um pouco de papel toalha e ajudei ela a limpar o rosto suado, a boca. Ela jogou uma água fria no rosto sozinha depois, um gesto pequeno de recuperação.

Terminado, saímos do banheiro. O quarto parecia um pouco mais acolhedor que o banheiro gelado. Fomos para a cama. Ela se sentou na beira, com a cabeça baixa de novo, parecendo pequena e perdida no meio dos lençóis arrumados.

Sentei ao lado dela, deixando um pequeno espaço entre nós. O cheiro fraco de chuva lá fora e o resquício de vômito ainda pairavam um pouco no ar. Tentei não focar nisso. Minha mente ainda estava processando a informação que eu tinha acabado de confirmar. Havia a pergunta óbvia, o próximo passo lógico na minha cabeça.

"O Marcos... ele sabe?", eu perguntei, a voz calma, apesar da agitação por dentro. Era o marido dela, afinal. O pai, presumivelmente.

Vivian levantou a cabeça depressa, os olhos marejados, encontrando os meus com uma intensidade que me surpreendeu. "Ella, esse bebê não é dele!", ela afirmou, a voz mais firme agora, cheia de uma certeza que me atingiu como um soco no estômago. Não era uma pergunta, era um fato para ela.

Meus olhos se arregalaram na hora. "Não é dele?" Minha mente disparou, tentando desesperadamente encontrar uma resposta. De quem é, então? O único homem que ela via regularmente nessas últimas três semanas era o Demétrio, mas não. Isso não fazia o menor sentido. Sem ser o Demétrio, que mal a via antes de ela vir para cá, quem mais ela conheceu nesse tempo? Talvez... alguém na clínica? Um funcionário novo que eu não conheço? Um cliente que ela atendeu e...

Vivian se levantou de novo, inquieto, andando alguns passos no quarto. As mãos nervosas, mexendo nos dedos. Ela parecia prestes a explodir. "Você precisa me prometer que não vai contar pro Demétrio." Ela parou e me olhou, os olhos implorando. "Por favor, Ella. Ele vai me despedir na hora se souber que estou grávida. Mal comecei no trabalho, ainda estou em teste, e terei que me ausentar em breve por causa da gravidez. Ele nunca vai me manter lá. É a única chance que eu tenho agora."

Concordei na hora. Vê-la tão desesperada e nervosa de novo, tão pálida... A promessa saiu sem que eu pensasse muito. "Eu prometo. Não vou contar pro Demétrio", eu disse, minha voz séria, querendo aliviar essa pressão imediata para ela. "Ele não precisa saber disso agora." Respirei fundo, tentando voltar para a questão principal. "Mas Vivian... você não me disse quem é o pai."

Ela parou de andar de novo, se virou para mim. Os olhos cheios de uma dor nova, profunda. "Eu... Eu não posso falar quem é ele agora, Ella." A voz quase inaudível, cheia de alguma coisa que eu não conseguia identificar. Mágoa? Medo? Culpa? Ela se sentou novamente na cama, encolhendo os ombros, fechando-se um pouco.

"Vivian, eu preciso saber!", eu comecei, me aproximando dela na cama, minha própria voz ficando tensa com a frustração e a preocupação. Era minha irmã, grávida, sozinha, e o pai era um mistério? "Como assim você não pode falar? É importante! Quem é o pai desse bebê? Ele sabe? Ele vai ajudar?"

Mal terminei de falar e o rosto dela se contorceu. A emoção que ela estava segurando explodiu. As lágrimas que estavam presas jorraram com força. Ela cobriu o rosto com as mãos e começou a chorar alto, soluçando, um som doloroso que encheu o quarto.

Na hora, toda a minha necessidade de respostas sumiu. Ver minha irmã daquele jeito... Tão pequena, tão quebrada, chorando com aquela intensidade. Deixei de lado as perguntas, a curiosidade, a preocupação com o mistério do pai. O que importava era ela, ali, sofrendo. Me movi para perto dela na cama, a abracei com força, puxando-a para o meu lado. A cabeça dela se apoiou no meu ombro, e eu a segurei apertada.

"Pronto, pronto, Vi", eu murmurei, embalando-a suavemente, sentindo as lágrimas dela molhando minha blusa. "Está tudo bem. Shhh. Calma." Não fiz mais nenhuma pergunta. Apenas a segurei enquanto a chuva continuava caindo lá fora, um fundo melancólico para o som do choro da minha irmã. O mistério do pai teria que esperar.

Mais uma semana escorreu pelos dedos. Agora, quatro semanas desde que a Vivian chegou. E o afastamento dela só aumentou. Ela estava presente na casa, sim, vivendo sob o mesmo teto, comendo à mesma mesa, mas parecia morar em outro lugar, dentro dela mesma. A vulnerabilidade daquela manhã chuvosa no banheiro foi substituída por uma casca de normalidade, uma rotina focada no trabalho na clínica. Pensei em ligar para a minha mãe, contar tudo sobre a gravidez e o mistério do pai, pedir que ela falasse com a Vivian, talvez a fizesse abrir comigo de novo. Mas notei que a Vivian também não atendia mais as ligações da nossa mãe. Mandava uma mensagem rápida depois, com uma desculpa qualquer. Ela estava se isolando de todos nós, menos... menos do Demétrio.

Agora era cedo no sábado, e o ar estava elétrico. Não pela chuva fina que ainda insistia em cair nos últimos dias lá fora, deixando o dia cinza e molhado, mas pela energia do lugar. O ginásio de boxe estava cheio, vibrando com a expectativa. O cheiro de suor, couro velho e spray antisséptico pairava no ar, um perfume estranho, mas familiar nos dias de luta do Dante.

Eu estava na frente de um espelho grande, no vestiário onde os lutadores se preparavam – vazio para os lutadores naquele momento. Olhei para minha maquiagem no reflexo. Leve, só para realçar um pouco os traços. Meus olhos. Grandes, verdes, emoldurados por cílios escuros, sempre foram a parte que eu mais gostava do meu rosto. Meus lábios em formato de coração, com um brilho sutil. Meus cabelos loiros, na altura da cintura, com grandes cachos que caíam sobre os ombros e as costas. Meu corpo. Magro, sim, desde sempre, mas com curvas que eu aprendi a apreciar. Conferi minha roupa uma última vez – uma calça confortável e uma blusa com o nome de Dante. Estava pronta, por fora pelo menos.

Saí do vestiário, o barulho da multidão lá fora crescendo, a música de entrada de algum lutador preenchendo o ginásio. Precisava encontrar meu lugar na arquibancada. Podia ouvir a voz do apresentador, a empolgação do público. O Dante já devia estar no ringue, esperando.

Eles não vieram. Demétrio e Vivian.

Disseram que havia muitas consultas hoje na clínica, pacientes agendados que não poderiam ser remarcados de última hora. Mesmo sendo sábado. Mesmo sendo a luta importante do Dante, uma das maiores até agora para ele. O trabalho em primeiro lugar. Sempre.

O Dante ficou decepcionado de novo com o pai, claro. Era uma decepção antiga, conhecida. Mas eu vi nos olhos dele antes de ele ir para o ringue que ele estava ainda mais decepcionado com a tia. Ela, que estava vivendo na nossa casa, com ele, que ele recebeu tão bem naquele primeiro dia, que ele quis tanto que visse suas lutas... Parecia não se importar por não estar aqui para ele. Ou talvez o novo emprego e a proximidade com o Demétrio fossem mais importantes agora do que o sobrinho adolescente que a idolatrava. Doía ver a decepção no meu filho, uma decepção silenciosa que ele tentava esconder.

Enquanto eu procurava meu assento, o som da campainha tocou, anunciando o início da luta. Meu foco precisava estar no ringue agora. No Dante. No meu filho e na paixão dele.

A multidão explodiu aos gritos, a energia no ar estava subindo instantaneamente. A luta começou. Dante se moveu pelo ringue com uma leveza surpreendente para o tamanho dele, os olhos fixos no oponente do outro lado.

Ele foi para o ataque primeiro, rápido, uma série de movimentos fluidos, tentando dar um soco que encontrasse uma abertura. O outro garoto se esquivou, mas o Dante já estava longe, se movendo com uma agilidade incrível, os pés deslizando no tablado. A forma como ele se esquiva...

...me fez lembrar. Lembrei de quando ele nasceu. Meu Dante. Eu era tão jovem... e tão assustada. Uma adolescente grávida, sem saber direito o que fazer. Passei os primeiros quatro anos da vida dele ainda na casa da minha mãe, lá no Arizona. Aquela era a nossa antiga cidade, onde crescemos – eu, Demétrio, Vivian – onde as nossas famílias ainda moram. Onde minha mãe mora.

Enquanto o Demétrio fazia a faculdade dele, se preparando para ser dentista. Ele morava com a família dele por lá na época.

Mas eu ainda posso me lembrar do Demétrio naquela época, lá no Arizona. Como ele ficou feliz quando o Dante nasceu! Orgulhoso, tirando fotos, mostrando para todo mundo. Um pai babão, apesar da pouca idade. Ele era diferente. Tão carinhoso comigo, me ligava todo dia, vinha nos visitar sempre que podia na casa da minha mãe. Dizia a todo momento o quanto me amava, que éramos a família dele, que tudo ia dar certo assim que ele se formasse.

E com o tempo, ele mudou. Aconteceu assim que a gente se mudou de lá. Sair de perto de tudo que eu conhecia – minha mãe, a cidade pequena onde cresci, meus amigos de infância e adolescência – para vir para a cidade grande. Para que o Demétrio tivesse mais oportunidade de trabalho depois da faculdade, para a carreira dele crescer de verdade, como ele tanto queria. Ele focou na carreira, e eu... eu me perdi um pouco nisso. Eu e o Dante fomos ficando em segundo plano, sem que ele percebesse, ou talvez percebendo e aceitando.

A família do Demétrio inteira ficou lá no Arizona. A mãe dele... ah, ela nunca gostou muito de mim. Até hoje, acho que ela me culpa por o Demétrio ter saído da cidade dela. Como se eu o tivesse levado embora, roubado ele do futuro que ela imaginou para ele lá.

Ele ainda tem mais dois irmãos lá no Arizona. A Lina, que era a do meio, uns três anos mais velha que ele. Ela se separou e tem um filho da idade do Dante, o Jack. Eles moram com a mãe deles, Sônia, e com o Sebastian. Ele era o caçula. Ele deve ter uns dezenove anos agora e trabalha em uma academia de boxe lá no Arizona.

O Sebastian mantém contato com a gente. Mais com o Dante, na verdade. Eles se dão super bem por causa do boxe. Conversam muito por telefone, sobre treinos, lutas, tudo isso. Sebastian apoia Dante de longe. Eu só vi o Sebastian quando ele era criança, na época que eu ainda morava no Arizona. Depois que nos mudamos para a cidade grande, o contato é mais dele com o Dante mesmo, pela paixão em comum.

Meus pensamentos foram interrompidos de repente pelos gritos ensurdecedores da multidão. Voltei a olhar para o ringue na hora, meu coração dando um pulo. Dante! Ele tinha acertado em cheio! Um soco forte, preciso, que pegou o outro lutador desprevenido. O garoto cambaleou, os olhos reviraram e ele caiu no chão, mole, desmaiado. Nocaute!

O juiz correu para o centro do ringue. Começou a contagem, mas logo parou. Não precisava continuar. Agarrou a mão do Dante, limpando o suor, e levantou para o alto com força.

"O ganhador! Por nocaute no primeiro round... Dante!"

Pulei na arquibancada, sem me importar com mais nada, meu corpo respondeu sozinho à vitória! Gritei com todo o meus pulmões o nome do meu filho! "Dante! Dante! Dante!" O orgulho inchou no meu peito, quente e enorme, uma onda que me lavou por dentro.

Vi o juiz colocar o troféu na mão dele, o sorriso cansado e vitorioso no rosto do meu filho, o suor escorrendo pela testa. Ah, meu Dante... Todo o nosso esforço. As dietas controladas, os treinos puxados, as idas e vindas, as ausências do pai, as minhas próprias renúncias... tudo valeu a pena por esse momento. Ele conseguiu. Ele é incrível.

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