Mundo ficciónIniciar sesiónA partir do momento que fez seus planos, Liz começou a colocar em prática. Ela começou a ir em lugares onde as pessoas costumam dizer que o amor acontece, sempre acompanhada de seu estagiário, para que assim que acontecesse o amor, ela conseguisse contornar qualquer imprevisto.
Ela foi jantar em restaurantes, mas descobriu que lá, só havia os casais formados.
Ela foi em boates e descobriu que aqueles lugares estavam lotados de jovens inconsequentes que não queriam saber de compromissos.
Ela foi em parques e praças, descobrindo que não era tão fácil assim o amor bater a porta.
“Por que a senhorita não vai a encontros às cegas?” — sugeriu o seu estagiário, percebendo que Liz estava buscando um novo amor.
Ela foi aos encontros às cegas, mas não encontrou nenhum parceiro ideal. Alguns eram desempregados, outros tinham empregos de níveis muito baixos, outros fumavam e outros bebiam. Tudo o que ela não queria, todos eles não se encaixavam no seu modelo de homem ideal.
Foi aí que, frustrada, ela acabou dando abertura para a aproximação de Lauro. Com o intuito de ajudá-la, ele foi ficando cada vez mais próximo. Com a desculpa de lhe dar conselhos, ele a convidava para jantares em restaurantes românticos. Dizendo que queria consolá-la, ele foi lhe dando presentes todos os dias, de chocolates a buquês de flores.
Quando Liz se deu conta, estava totalmente apaixonada pelo seu estagiário. Ele não era o seu homem dos sonhos, era mais jovem, tinha um emprego de estagiário e ganhava pouco, mas ele foi o único homem em todos esses anos que não a tratou como uma CEO e sim, como uma mulher de verdade, que tem sentimentos.
Bem, o final dessa história já sabemos e o coração de Liz estava destroçado nesse momento.
Não acreditando mais que poderia ser amada, Liz tentou se satisfazer fazendo tudo o que deixou de fazer em todos esses anos.
No seu novo país, ela comprou a sua casa dos sonhos e decorou do jeito que desejava. Diferente da casa dos seus tios que tinha uma decoração mais rústica e vitoriana, agora a nova casa de Liz tinha mais cores e um ar mais fresco e moderno.
Liz fez viagens para conhecer os lugares que sempre sonhou e não fez, por temer que sua família precisasse de sua ajuda e ela estivesse fora. Ela viajou para praias paradisíacas, viajou para lugares montanhosos e gelados, visitou castelos medievais, fez tudo o que já quis e mais um pouco.
Nesse tempo também, Liz conseguiu um novo emprego. Não era um de CEO, como antes, mas com suas habilidades ela conseguiu um emprego em cargo executivo de alto escalão. Demonstrando que suas habilidades não tinham fronteiras e poderiam ser reconhecidas em qualquer lugar que fosse.
Durante todos os anos em um país estrangeiro, ela sempre recebia mensagens de sua prima e de seus tios, pessoas que ela não conseguia bloquear, por, lá, no fundo, de seu coração, ainda sentir uma ligação forte com eles, porém, ela ignorou todas as mensagens e não respondeu uma sequer.
No início o seu tio lhe dizia que não era para ela se preocupar, que ele iria cuidar de tudo, que ela precisava realmente de umas férias para colocar os pensamentos no lugar e voltar quando quisesse.
Quando ele percebeu que ela não iria voltar, ele lhe pediu perdão e disse que não sabia que aquilo iria a machucar tanto. Ele lhe pediu para voltar e disse que faria todas suas vontades, menos Lauro, ele não poderia lhe dar Lauro, pois ele acreditava que Liz não estava a altura dele.
Em suas últimas mensagens, o tio de Liz disse que sua família estava desmoronando, que Liz não tinha ideia do quanto todos a amavam e do quanto ela era importante para aquela família. Ele lhe disse que se soubesse que a decisão de apoiar o casamento de Carla teria causado tanto sofrimento, ele teria sido contra, mas também seria contra que Liz se casasse com aquele homem, pois ela e nem Carla mereciam ele.
A tia de Liz lhe mandava mensagens parecidas, sempre dizendo o quanto ela fazia falta, que quando ela foi para a casa deles, ela ainda era uma criança assustada e que ela cuidou de Liz como filha. Ela pedia perdão e perguntava sempre se Liz estava bem, se estava indo ao médico e comendo direito.
Em suas últimas mensagens, ela pediu perdão a Liz e disse-lhe que esperava que um dia ela lhe perdoasse e que um dia percebesse que ela sempre pensou em seu bem, mesmo quando Liz duvidou disso.
Carla era quem mais enviava mensagens para Liz. Ela a tratava como se a relação de irmã das duas não tivesse acabado. Ela confessava a Liz, seus medos e seus anseios. Tirava fotos do jardim quando as flores abriam para Liz ver. Perguntava como era no lugar onde ela vivia, se era bonito e se Liz estava feliz.
Quatro anos após Liz ter ido embora, Carla mandou uma foto diferente, era uma foto de um ultrassom, ela mandou um emoji de coração e escreveu:
“Está vendo, Liz? Essa é a Aurora e eu vou ter um bebê. Os médicos disseram que meu corpo é fraco para aguentar uma gravidez, mas eu insisti e você será a madrinha da minha pequena. Eu sei que destruí seus sonhos me casando com o seu grande amor, mas espero que com as últimas energias do meu corpo eu consiga gerar essa menina para você. Você disse que destruí os seus sonhos de ter um filho, então eu vou devolver a você o que tirei. Não posso te dar o Lauro, mas após dar à luz eu não sei se vou continuar nesse mundo, então ela é sua. Eu espero que essa menina devolva toda felicidade que tirei de você”
Liz ficou muito brava com essa mensagem, muito mesmo. Ela bloqueou Carla imediatamente. Era como se aquela mensagem tivesse aberto a ferida em seu coração.
Para ela naquele momento, era como se Carla estivesse esfregando na cara dela que ela era mais capaz do que ela, mesmo doente. Liz se lembrou quando os médicos lhe disseram que aos 36 anos, ela estava no limite e quanto mais anos se passavam, menos ela teria chances de engravidar e agora, aos 40, Liz acreditava que as chances eram menores ainda. Sem contar que, sentia que ainda amava Lauro e não conseguiria se envolver com um homem que ela não amasse. Por isso, a mensagem de Carla, dizendo que mesmo doente, ela conseguia engravidar facilmente e ainda mais uma gravidez onde o pai do bebê era o seu grande amor, soou como uma grande ofensa para Liz.
10 anos, ao todo, se passaram e agora, Liz estava com 46 anos. Ela construiu facilmente uma vida perfeita. Ela tinha uma casa boa e fazia as suas vontades. Sem saber, ela aprendeu a se amar em primeiro lugar.
Mas ao aprender a se amar, algumas coisas perderam o sentido, como… amar Lauro.
Agora, com um novo olhar, ela percebeu que ele fez pouco por ela, que ele lhe deu flores, disse palavras românticas, lhe levou para jantar e lhe deu noites de sexo. Foi isso, só isso… mas não houve nada mais profundo entre eles.
Ela se lembrou que um dia antes do casamento, eles transaram e agora ela percebeu que, talvez, seu tio estava certo, Lauro não estava à altura dela. Porque o que ele fez demonstrava uma falta de caráter imensa.
Nesse tempo todo, além de aprender a se amar em primeiro lugar, Liz conheceu muito sobre a vida e sobre os homens. Ela conheceu homens muito mais interessantes do que Lauro. Homens que lhe deram horas de conversas profundas e interessantes, algo que foi muito melhor do que receber flores. Ela só não se envolveu com ninguém por, ainda não ter superado o trauma da traição, por não conseguir confiar seu coração a mais ninguém além dela mesma.
Pensar sobre Lauro lhe fez se perguntar como estava sua família hoje. Se depois de 10 anos eles ainda estavam a esperando, ou se eles já não gostavam mais dela.
Lhe fez se perguntar, como estava a sua sobrinha hoje e… Carla? Será que a maldição que ela jogou em seu casamento funcionou? Pensar sobre o desejo que ela fez ao queimar o vestido de casamento na porta da igreja, lhe deu um aperto no peito. Não por Lauro, mas sim por Carla.
Com o coração curado das mágoas de sua família, Liz resolveu voltar. Ela não pretendia voltar à empresa do tio ou se mudar novamente para a casa deles, ela só queria vê-los e verificar se estavam bem.
Liz voltou e foi até a mansão de seus tios e, para sua surpresa, o lugar estava abandonado.
O jardim florido estava coberto de folhas e galhos secos, a pintura estava velha e descascando. No portão de ferro havia grandes correntes com um cadeado fechando e uma placa velha, escrito “VENDE-SE”.
Liz ficou alguns momentos abismada, olhando tudo, se ela não tivesse certeza que era aquele o endereço, ela não teria reconhecido o lugar.
De repente, alguém apareceu no portão. Um senhor de cabelos brancos vestindo um macacão marrom-claro, gasto e com algumas manchas de cloro.
— Olá! A senhorita é da imobiliária?
— Da imobiliária? — Liz pergunta, um pouco perdida nas lembranças — Na verdade, não. Eu sou… eu sou uma velha amiga da família que morava aqui e resolvi visitá-los. Ninguém mora mais nessa casa?
O homem olhou com desconfiança para Liz e disse:
— Já trabalho aqui há algum tempo, como nunca a vi?
— Ah, sim… eu… eu fiquei fora por 10 anos. Olhe! — Liz mostrou uma foto antiga que tinha com toda a família para o homem.
Ele olhou com cuidado e após disse:
— Ah, entendo porque nunca a vi. Comecei a trabalhar aqui há menos de dez anos. Bem, sobre a família… você não soube? A família não existe mais.
Liz ficou um pouco confusa:
— Está dizendo que eles se mudaram?
— Não, estou dizendo que essa família não existe mais. O casal que morava aqui, eram idosos e a filha era doente. O senhor dessa casa, faleceu já faz alguns anos, ele trabalhou muito para não deixar a empresa cair em mãos erradas, era um homem muito bom com os empregados, mas infelizmente tinha um genro imprestável. A sua única filha era doente e precisava de alguns cuidados médicos, que o genro nunca prestava a cuidar e o senhor se desdobrava para cuidar da família e dos negócios, negligenciando a si mesmo. Ele acabou falecendo de uma doença que não foi tratada a tempo. Quando o senhor morreu, tudo piorou, a filha estava grávida e precisava de ainda mais cuidados médicos, a senhora mal conseguiu ter tempo para o seu luto, porque deveria cuidar da filha que ficou a gravidez toda internada no hospital. O genro acabou tomando conta de tudo, da casa, dos negócios e de todas as finanças da família. Ele trouxe outra mulher para dentro dessa casa, enquanto a senhora Carla estava no hospital com a mãe.
— Quando a senhora Carla e a mãe voltaram para casa com o bebê no colo, o genro as expulsou de casa, dizendo que agora a casa era dele e de sua nova família. As duas coitadas passaram por muita dificuldade, dependendo da ajuda de amigos. A senhora Carla precisava de acompanhamento médico que era muito caro. A sua mãe, que já era idosa, acabou morrendo de tristeza por não conseguir cuidar da filha de sua neta. A senhora Carla, mesmo não podendo, ela amamentava o bebê, algo que deixou seu corpo ainda mais fraco. Ela resistiu por um bom tempo para cuidar da filha, soube que vendia frutas na feira e mesmo não podendo, carregava peso. Mas essa vida difícil não era para ela e ela faleceu.
— Não! — Liz gritou, pois aquela história não era exatamente o que ela queria ouvir. Ela sentiu sua garganta seca e não queria mais ouvir aquilo, acreditava que aquele homem estava mentindo.
Liz se virou de costas para ir embora, quando o homem gritou:
— A senhorita não quer saber sobre a menina? Bem, na verdade, a família não se acabou totalmente, pois a menina está viva.







