Capítulo 113 Onde há fumaça, há sangue.— ÚLTIMA HORA! — A voz do repórter ecoava pelos noticiários internacionais. — Moradores de uma região desértica a caminho de Doha denunciaram um incêndio de grandes proporções. Bombeiros locais atenderam ao chamado e, após controlar as chamas, encontraram um corpo carbonizado dentro de um carro completamente destruído.A imagem era forte: chamas ainda vivas lambiam os destroços do veículo. O fedor de fumaça e carne queimada se espalhava no ar. Um saco negro era carregado por dois homens, escoltados por policiais locais.— As autoridades afirmaram que a identificação só será possível através da arcada dentária. Tudo indica que se trata de uma mulher. Uma suspeita já está sendo investigada. O carro foi visto horas antes trafegando por uma rota secundária, sem placas, com apenas uma condutora.No hotel em que estava escondida sob o nome de Vânia Salles, Celeste Laurent segurava uma taça de vinho diante da televisão. O noticiário rodava ininterrupt
Capítulo 114 Quando servir o mal é a única chance de não morrer com ele.A porta do quarto se abriu lentamente. A enfermeira contratada entrou cautelosa, seus olhos analisando o ambiente com receio. O local era amplo, elegante, mas abafado por uma tensão densa como fumaça. Em meio ao silêncio, Celeste apareceu segurando o bebê nos braços, com um sorriso no rosto e o olhar gélido de uma predadora satisfeita.— Seja bem-vinda, doutora Elodie — disse ela, com suavidade cortante. — Espero que tenha vindo disposta a obedecer.Elodie tentou sorrir. — Claro... é um prazer ajudar.Celeste a ignorou, se aproximando com o bebê e colocando-o delicadamente sobre a cama, envolto em uma manta azul.— Sabe aquele carro que foi encontrado queimado ontem no deserto? Com um corpo dentro? — perguntou sem tirar os olhos do bebê.Elodie arregalou os olhos, hesitante.— Sim... passou no noticiário.Celeste virou-se com um estalo. — Pois era a última mulher que ousou me contrariar.A enfermeira empalidece
Capítulo 115 Quando o amor não protege mais a verdade.Naia estava sozinha no quarto quando o celular vibrou. A mensagem chegou sem remetente. Um texto simples, mas que fez sua respiração prender por um segundo:"Volte para casa. A vida te deve um presente. E ele te espera no lugar onde você aprendeu a ser forte."Ela leu e releu a mensagem. Seus olhos se encheram de lágrimas. Havia algo naquela frase que atravessava a lógica. Era mais que um chamado. Era como se a própria vida sussurrasse para ela: volta pra tua raíz, Naia. Volta pro teu destino.Ela desceu as escadas e encontrou os pais na sala.— Mãe. Pai. Eu quero voltar para a França. Agora.Isabelle se levantou rapidamente.— Claro, filha. Já vou providenciar as malas.Augustus assentiu, com os olhos firmes.— Vamos voltar com você. Já falei com o hangar, o jatinho está pronto.Antes de partir, Naia encontrou Rafael na varanda.— Vou voltar pra casa. Não posso mais ficar parada. Eu preciso respirar onde eu tenho memórias feliz
Capítulo 116“Se fosse apenas um sequestro, já teriam pedido resgate.”Isabelle assentiu.— E talvez esteja mais perto do que a gente imagina. Muito mais.Augustus encarava a tela do celular, os olhos carregados de tensão após enviar os dados ao FBI.— Isso não foi um simples sequestro — disse, rompendo o silêncio da cabine. — Se fosse, já teriam entrado em contato. Já teriam exigido algo. Qualquer coisa.Isabelle se aproximou com passos contidos.— E por que eliminaram a enfermeira? Isso muda tudo. Alguém está apagando rastros com precisão.— Exato. — Augustus assentiu. — Descubra quem. E por quê. Antes que apaguem a próxima peça.Do outro lado do mundo, o céu de Doha ainda ardia em tons alaranjados quando Rafael desembarcou. O local do incêndio já estava isolado. Ele caminhava entre os destroços do carro, os olhos atentos, os passos firmes. — Foi um recado... ou uma distração.Ele fotografou as marcas no asfalto, observou o padrão das chamas, buscou o que não queriam que ele visse.
Capítulo 117 “Cassian morreu tentando te encontrar.”A porta da casa se abriu com um estalo seco.Naia entrou devagar, os olhos marejados, a respiração falha. Os passos eram curtos, como se carregasse o peso do mundo. Isabelle e Augustus se levantaram do sofá imediatamente.— Filha? — chamou a mãe, preocupada. — Aconteceu alguma coisa?Naia largou a bolsa sobre a mesa e passou as mãos no rosto, tentando se recompor. Mas não havia mais como esconder a urgência no seu peito.— Eu preciso ir à clínica. Agora. Eu preciso saber o que aconteceu com os meus óvulos.Isabelle congelou. Augustus franziu o cenho.— Saber o quê? — a mãe perguntou, já tensa. — Por que essa pressa toda?Naia ergueu os olhos para eles. Os olhos cheios de lágrimas contidas.— Porque tem algo errado. Muito errado. — disse com a voz embargada. — Rafael me sequestrou. Me levou pra aquela maldita ilha. Disse que Cassian queria me matar porque achava que eu estava grávida dele... do Rafael.Ela respirou fundo, o corpo tr
Capítulo 118 “Ele morreu sem saber... que deixou um pedaço dele no mundo.”A água ainda caía com força sobre o corpo nu de Naia. O vapor cobria o espelho, as paredes, e o chão já era um mar entre lágrimas e lembranças.Flashback…Os lábios de Naia roçaram a testa dele, um beijo leve, quase uma promessa silenciosa de que ela estaria ali. Cassian fechou os olhos, permitindo-se ser envolvido por aquele gesto. Era como se o toque dela fosse o único lugar seguro no meio do caos.— Estou aqui — ela sussurrou, suas mãos acariciando suavemente as costas dele, deixando que o calor de seu toque afastasse o frio que parecia envolver o coração de Cassian.Ele ergueu o rosto, os olhos vermelhos das lágrimas, mas havia algo mais ali: um pedido mudo. Naia entendeu. Suas mãos foram até o rosto dele, os polegares acariciando a linha da mandíbula enquanto ela o olhava nos olhos.Cassian a pegou no colo, e olhando em seus olhos suavemente a penetrou. Ela fechou os olhos e gemeu baixinho mordendo o lábi
Capítulo 119 “Ele sabia... e eu confiei nele.”Naia saiu do banheiro cambaleando, como se o corpo fosse só um eco da alma. O cabelo pingava, os olhos vermelhos ardiam. Ela se vestiu sem pensar, sem lembrar que roupa pegou, e desceu as escadas com os pés ainda molhados, o coração esfarelado.Ela não sabia como chegou até a sala. Só sabia que estava lá. Sentada. Vazia.Isabelle, ao vê-la, se levantou imediatamente.— Filha... meu Deus. — correu até ela, ajoelhando-se à sua frente. — O que aconteceu? O que foi, filha?Naia abriu a boca, mas a voz não saiu de imediato. Só depois de alguns segundos e um choro novo se formando na garganta, ela conseguiu falar:— Eu descobri, mãe.— Descobriu o quê?— Tudo estava na minha cara o tempo inteiro... e eu não enxerguei.Ela passou a mão no rosto, os olhos fixos em um ponto perdido no chão.— O Cassian conversou comigo. Antes de morrer. Ele me falou sobre a inseminação. Ele... ele suspeitava que tinham usado o embrião dele. Que eu tinha sido inse
Capítulo 120 “Algumas verdades só se revelam quando o coração já não tem mais força para mentir.”A campainha soou com um toque discreto, abafado pelo vento da tarde. Naia manteve a respiração presa enquanto esperava. O coração, no entanto, parecia não ter recebido o comando — batia forte, desordenado, quase como se já soubesse o que viria.A porta se abriu. Um homem de meia-idade, com expressão neutra, fez um leve gesto de cabeça.— Senhorita… entre, por favor.Ela avançou devagar. Cada passo pesava mais do que o anterior. O saguão da casa era amplo, de janelas altas e silêncio sufocante. Logo, passos se aproximaram.— Oi, Naia. — disse Diego, parando a poucos metros dela.Ela se virou com surpresa e o abraçou, quase instintivamente.— Di... Meu Deus. Quantos anos.— Verdade. — ele sorriu com carinho, mas os olhos carregavam tensão.Ela se afastou um pouco, o encarando.— É você? Você está falando comigo no celular?Diego baixou os olhos. O silêncio respondeu antes dele.— Não... —