Herdeira da noite e o Alfa Supremo.
Herdeira da noite e o Alfa Supremo.
Por: Lara Maison
O Grito na Escuridão

— Tudo vai ficar tudo bem, minha filha... confie em mim...

A voz da minha mãe ecoa distante, como se viesse de outro mundo. Estou deitada sobre uma pedra fria e úmida, imobilizada. Meus dedos se agarram ao que podem, mas tudo escorrega, como se a realidade se dissolvesse sob mim.

Sinto o coração martelar contra meu peito, tão rápido que chega a doer. Um arrepio gélido sobe pela minha coluna quando percebo que não estou sozinha.

Meus olhos se voltam, devagar, para a sombra ao lado. E lá estão eles. Olhos roxos. Intensos. Inumanos. Cravados em mim com uma fome silenciosa.

— Não... não...

A dor vem como uma faca quente. Um corte profundo rasga minha mão, e o sangue escorre morno pelos meus dedos, pingando sobre a pedra.

— AAAAH!

Meu grito corta o ar. Mas ninguém responde. Ninguém vem.

O som morre.

Tudo morre.

O silêncio que se instala é tão absoluto que posso ouvir as batidas apressadas do meu coração ecoando dentro da minha cabeça. A escuridão me envolve como um cobertor sufocante.

E então... ouço

- Está feito!

---

— Acordo arfando.

O lençol está encharcado de suor. Minha respiração está descompassada, e meu peito dói como se o pesadelo tivesse sido real.

— De novo esse sonho..., murmuro, sentando na beira da cama. Passo as mãos trêmulas pelos cabelos desgrenhados. Lá fora, o sol já começa a nascer, tingindo o vilarejo com tons dourados que, por algum motivo, parecem zombar da minha inquietação.

Respiro fundo.

Não posso me deixar levar por isso agora. Hoje é a bendita festa da mimada da Rebeca Carson — a filha do homem mais poderoso daqui. A vila inteira foi arrastada para esse evento como se fosse uma obrigação sagrada. E eu, claro, tenho uma lista interminável de tarefas para cumprir antes que o primeiro convidado apareça.

— Vamos, Lara. Você não pode se dar o luxo de sonhar — digo a mim mesma, como um mantra.

Me levanto. O chão de madeira range sob meus pés descalços. Cada som do quarto parece mais real que o sonho, mas algo dentro de mim diz que aquilo não foi apenas um delírio noturno.

A mansão Carson está um verdadeiro caos. Empregados correm de um lado para o outro como formigas em dia de tempestade, tentando dar conta da decoração, da comida e das exigências absurdas de Rebeca.

Ela, por sua vez, gira pelo salão como uma criança em dia de coroação. Seus cabelos loiros estão perfeitamente trançados, e o vestido azul celeste parece ter sido feito sob medida para ostentação.

— Ele vem, Lara! — ela exclama, girando para mim como se eu fosse sua melhor amiga.

Seus olhos brilham. — O Grande Alfa dos Filhos da Noite confirmou presença! Hoje à noite!

Eu me contenho para não revirar os olhos.

— Que bênção, não é mesmo? — ela continua, sonhadora. — Se eu tiver sorte, posso me tornar sua luna. Imagine só... a escolhida do Alfa!

Me limito a responder com um leve murmúrio. Por dentro, só consigo pensar no quão patético isso tudo parece. Essa obsessão dela por poder, por títulos, por atenção. E por um homem que provavelmente nem sabe que ela existe.

Enquanto ela se enxerga como uma futura rainha, eu apenas vejo um circo prestes a desabar.

De repente, sua expressão muda. Fica fria, venenosa.

— Lara, vá até o jardim buscar flores novas. As rosas estão murchas.

— Agora? — pergunto, surpresa. — A festa começa em menos de duas horas...

Ela sorri de forma azeda.

— Exato. Quanto menos você estiver aqui, melhor. — Seus olhos percorrem meu corpo com desdém. — Sabe como meu pai fica... distraído... quando você está por perto.

E lá está. O verdadeiro motivo.

Rebeca me odeia. Odeia o modo como o pai dela me trata — com respeito. Odeia o fato de, mesmo sendo apenas uma criada, eu despertar olhares e sussurros. Odeia o que vê em mim. Talvez algo que nem eu mesma consiga enxergar.

Sem discutir, viro as costas e deixo a casa. O ar livre me envolve, e mesmo com a humilhação recente, é um alívio escapar daquele ninho de cobras.

A trilha que leva ao jardim atravessa parte da floresta. O vento dança entre as árvores, trazendo o cheiro da terra molhada, das flores silvestres e de algo mais... estranho.

Vou colhendo margaridas e violetas com as mãos, mas, de repente, um calafrio percorre minha espinha. Meus passos cessam.

Olho ao redor. As árvores estão quietas demais. Até os pássaros parecem ter fugido.

Respiro fundo.

— Tem alguém aí? — pergunto, num sussurro inseguro.

Nada responde.

Mas eu sinto.

Estou sendo observada.

O ar muda, como se algo imenso estivesse prestes a emergir da própria floresta.

E então... eu o ouço.

Um som baixo, grave, quase como um rosnado abafado. Não vem de um animal comum. É algo mais... ancestral.

Minhas mãos apertam as flores com força. O calor do sol começa a desaparecer sob as sombras das árvores.

E é nesse instante que os olhos surgem entre as folhas — escuros, selvagens, inumanos. Mas não são como os do meu pesadelo. Esses são ainda mais profundos. E perigosamente reais

Meus pés estão colados ao chão. O ar da floresta parece pesar mais do que deveria, como se o tempo tivesse desacelerado ao meu redor. E então, eu o vejo.

Ele emerge da sombra, como se fizesse parte dela.

Alto. Ombros largos. Um andar predador, silencioso. O casaco negro aberto revela parte de um peitoral forte, com marcas de batalha em sua pele, como cicatrizes que contam histórias. Seus cabelos são escuros como a noite sem lua, levemente bagunçados pelo vento da floresta.

Mas é seu rosto que me faz esquecer como se respira.

Um rosto rude, esculpido como pedra, másculo em cada traço. E seus olhos... Meu Deus, seus olhos. Um azul tão escuro que parece conter o próprio oceano em tempestade. Eles me observam com intensidade — não como um homem observa uma mulher, mas como um predador observa algo que deseja profundamente.

E, para minha própria surpresa... meu corpo responde.

Sinto um calor subir do meu estômago, espalhando-se por meus membros como fogo líquido. Meu coração dispara, não de medo, mas de algo que eu não quero nomear. Meus pelos se arrepiam, minha pele vibra sob aquele olhar. Um desejo bruto e incontrolável corre por minhas veias, mesmo quando minha mente me implora para fugir.

— Quem é você... — penso, mas não ouso dizer.

Ele dá um passo à frente, e o chão parece estremecer sob seus pés. Os olhos continuam presos aos meus, famintos, como se ele pudesse me despir por dentro apenas com aquele olhar.

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