((Dante))
Os dias passaram como um sussurro constante. O som do monitor cardíaco no hospital era a única certeza que tínhamos. Anna dormia em silêncio, mas não em paz, dava para ver pelos músculos tensos de seu rosto, pela forma como apertava levemente os lençóis nas mãos.Eu ficava ao lado da cama, vigiando sua respiração. Enzo, na poltrona, dormia pouco e com os olhos sempre semicerrados, como se quisesse capturar cada movimento. Havia cansaço em nós dois, mas também uma decisão inabalável. Ela voltaria. E quando voltasse, nada mais a tocaria sem passar por nós antes.Foi no quarto dia, quando os médicos disseram que o ombro dela estava cicatrizando bem, que ela despertou. Não com sobressalto. Anna abriu os olhos como quem decide abrir uma porta, calma, mas definitiva.Ela nos olhou. Primeiro a mim, depois Enzo.— Ainda estamos vivos? — sussurrou.— Você mais do que nunca — respondi, engolindo um alívio que doía.(( En