O som... era distante. Como se o mundo estivesse do outro lado de uma parede grossa. Um zunido preenchia tudo. Meu corpo parecia feito de vidro, leve e pesado ao mesmo tempo. Tentei abrir os olhos, mas só consegui sentir o calor da luz batendo nas pálpebras.
A dor veio depois. Sutil no início. Depois, como brasas acesas no ombro.Mas não era a dor física que me fazia querer chorar. Era a lembrança. O estampido. O olhar de Enzo. O grito de Dante. O nome da minha filha escapando de mim como uma prece Vitória Montanari.Acordei de verdade quando ouvi as vozes. Baixas. Cansadas. Familiares.— ...ela vai acordar logo, eu sei disso Enzo. — Era Dante. Sempre tão contido, mas agora a voz dele tinha uma rachadura, uma urgência nova.— Ela é mais forte que todos nós juntos. — Enzo. E só o som do nome dele me fez o peito doer e aquecer ao mesmo tempo.— Você acha que ela nos ouviu? — Dante perguntou, num tom que não esperei.— Não