Me aproximo devagar da grade, como se estivesse pisando em cacos de vidro. Pego a marmita e a água. Sem talheres. Abro a tampa e o cheiro até que é bom, o que me surpreende. Meu estômago dá um nó de fome. Nem lembrava que estava faminta, mas bastou sentir o cheiro pra perceber o quanto preciso comer.
Como com as mãos mesmo, e sem consegui me conter choro. O gosto da comida se mistura ao gosto salgado do choro. E a cada garfada improvisada, a realidade me afunda ainda mais:
Estou presa.
Sozinha.
E ninguém sabe onde estou.
Será que vou morrer aqui? Será que vão me vender, ou... fazer coisas piores?
Tantos sonhos, tantos planos... nem vivi direito. Nunca disse à minha mãe o quanto a amo, não aproveitei a vida como deveria.
Seria assim o meu fim? Num lugar escuro e sujo, sem ninguém por mim?
Aperto os joelhos contra o peito e me encolho no canto mais afastado da cela. Tudo que posso fazer agora é esperar.
E orar.
Orar pra que alguém me encontre.
Ou pra que isso termine logo. Se