2- Audiência

Isabella:

Seattle – EUA

Manhã seguinte...

Mais uma mensagem do Alê.

Alessandro:

São sete da manhã, Bella. Já está nesse humor?

O que houve?

Algum problema?

— Alguns, Alê... alguns... — murmurei, exausta, começando a digitar a resposta.

Isabella:

É, as coisas não andam bem. Tenho muitas coisas pra te contar.

Mas você deve estar indo pro trabalho, né? Quando tiver um tempinho, vou te alugar por algumas horas.

Enviei e soltei um longo suspiro.

Coloquei o celular de volta na bolsa, peguei-a e saí do banheiro, tentando parecer normal.

Minha mãe estava sentada no sofá, distraída folheando alguns papéis, mas levantou o olhar assim que me viu no corredor.

— Ainda está de pijama? — ela perguntou, franzindo a testa.

— É... ganhei uma folga hoje. Não vou trabalhar — menti, tentando soar natural.

— E por que está com essa bolsa?

Merda.

Eu tinha levado a bolsa pro banheiro porque era lá que estavam as caixas dos testes de gravidez. Poderia ter sido um pouco mais discreta.

— Eu... esqueci a bolsa no banheiro ontem à noite — improvisei.

— Se não ia trabalhar, não precisava ter acordado tão cedo, filha.

— Força do hábito — respondi, me aproximando para beijar a testa dela. — Como está se sentindo hoje?

— Estou ótima.

— Sério? Então por que não para de ficar lendo esses exames?

Ela deu um sorrisinho cansado.

— Força do hábito, assim como você. Minha consulta é às oito e gosto de chegar com antecedência. Estava te esperando pra sairmos juntas, mas já que você não vai trabalhar hoje...

— Posso te acompanhar, mãe. Me dá dois minutinhos que já troco de roupa.

— Não, querida. Você tem trabalhado demais. Aproveite a folga pra descansar.

Ainda tentei insistir, mas ela só me deu um beijo no rosto e saiu.

Fiquei parada por alguns segundos, ouvindo a porta se fechar.

Depois me deixei cair no sofá, afundando nas almofadas, com o peso do mundo nos ombros.

Grávida.

Desempregada.

E com a mãe doente.

Um combo e tanto.

Meu celular vibrou dentro da bolsa.

Peguei-o, achando que fosse mais uma mensagem do Alê — e meu coração se animou por um instante.

Eu queria muito conversar com ele.

Mas o nome na tela não era o dele.

Era Giuliana.

Por um segundo, precisei forçar a memória pra lembrar por que aquele nome ainda estava salvo no meu celular.

Fazia tanto tempo desde a última vez que nos falamos que eu mal reconhecia a sensação de ouvir a voz dela.

— Giuliana? — perguntei, incerta se era mesmo ela ou se alguém tinha roubado o celular.

Você respondeu ao e-mail do papai? Como você respondeu ao e-mail do papai? — ela disparou, em tom histérico.

Ah, sim. Era ela. Minha meia-irmã surtada.

— Que e-mail, Giuliana? Faz anos que eu nem falo com ele.

— Você sabe bem qual!

— São sete e meia da manhã, Giuliana. Eu mal sei o meu próprio nome a essa hora. De que e-mail você tá falando?

— O que ele mandou ontem à noite. Eu acabei de ver e... meu Deus, eu não paro de tremer.

— Não olhei meu e-mail de ontem pra hoje. O que tem de tão importante assim nele?

— O que tem de tão importante? Meu Deus, Isabella... ai, meu Deus, eu não consigo respirar...

Do outro lado da linha, o som da respiração dela era rápido, entrecortado — como se estivesse tendo uma crise de asma.

— Giuliana, você tá bem? Quer que eu chame um médico?

— Estou bem! Você não quer que eu esteja bem, mas eu tô ótima, entendeu? Se você não quer me contar o que respondeu ao papai, tudo bem. Mas saiba que eu não vou entrar nessa pra perder.

Nos vemos daqui a uma semana.

— Nos vemos onde, Giuliana? Do que você tá falando? ... Giuliana?

Mas ela já tinha desligado.

Fiquei parada, com o celular no ouvido, ouvindo o silêncio.

Suspirei fundo, a curiosidade me corroendo, e abri meu e-mail.

Entre propagandas e spam, lá estava ele — um e-mail do meu pai. Enviado pra mim e pra ela.

Li.

Cada linha, cada palavra.

E, no fim, precisei respirar fundo outra vez.

Aquilo podia ser real.

E podia ser também a minha salvação.

...Ou não.

Porque, sinceramente, nas minhas condições atuais, que chance eu tinha?

Saí do aplicativo de e-mail e voltei às mensagens.

O último texto do Alê ainda estava ali, piscando como um convite.

Alessandro:

Podemos conversar a hora que você quiser, Bella.

Se estiver com qualquer problema, fala comigo.

Foi aí que uma ideia completamente absurda me atravessou.

E eu nem pensei demais. Se pensasse, talvez desistisse.

E eu precisava tentar.

Digitei rápido:

Isabella:

Conversamos à noite, então.

Logo que você sair do escritório.

E aguarde por uma grande surpresa.

A resposta veio quase instantânea.

Alessandro:

Não sei se gosto das suas surpresas.

Mas ficarei aguardando.

Larguei o celular no sofá, o coração acelerado.

Corri pro quarto.

Precisava arrumar uma bolsa pequena, comprar passagens.

Era pessoalmente que eu iria conversar com Alessandro.

E precisava me apressar se quisesse chegar a Nova Iorque ainda naquela noite.

...

Alessandro:

Nova Iorque – EUA

Eu deveria gostar de audiências de divórcio.

Afinal, eram o que sustentava meu escritório e enchiam minha conta bancária.

Era a minha especialidade.

E, na teoria, o que eu fazia de melhor.

Quanto mais ferrenho o casal, quanto mais sangue eles estivessem dispostos a derramar um do outro, maiores os meus honorários.

Simples assim.

Mas ultimamente, aquilo tudo me cansava.

Cada discussão parecia mais barulhenta, mais sem propósito.

Como agora — minha cliente e o futuro ex-marido se digladiando dos dois lados da mesa de reuniões.

A mansão de Los Angeles era dos meus pais! — o homem berrou, o rosto vermelho. — Nem fodendo você vai ficar com ela!

Pelo vocabulário, ninguém diria que se tratava de um ator milionário famoso pelos papéis de bom moço em Hollywood.

Você nunca se importou com aquela casa! — minha cliente rebateu. — Se você quer tanto ficar com aquele maldito iate, é justo que eu fique com a casa de praia!

— Senhores, por favor... — pedi, respirando fundo. O advogado do homem já tinha desistido de intervir. — Se não há acordo, resolveremos no tribunal.

Reforço que minha cliente não está disposta a abrir mão da casa da Califórnia nem do apartamento em Boston.

E como o senhor está inflexível, deixaremos que o juiz decida.

— Isso é um absurdo! — o homem gritou, antes de ser puxado pra fora pelo advogado.

Fiquei observando o drama sair da sala.

Depois, voltei-me pra minha cliente, que me olhava com gratidão.

— Fique tranquila. Eu vou garantir que você receba tudo o que merece — garanti. E o sorriso dela se abriu, confiante.

Era sempre assim.

No final, a parte que eu representava quase sempre levava a melhor.

E, no fim das contas, era isso que me tornava o melhor na minha área.

Mas, naquele dia... eu mal conseguia sentir satisfação.

Porque, por algum motivo que eu não entendia, o som da voz da Isabella ecoava na minha mente.

Conversamos à noite... E aguarde por uma grande surpresa.

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