3- Situações de risco

Alessandro:

Fiquei sozinho por alguns minutos na sala, depois que minha cliente saiu. Peguei o celular e mandei uma mensagem para a Isabella:

Alessandro:

Acabei me enrolando em uma tentativa de acordo entre a minha cliente e o por enquanto ainda marido dela, mas já encerrei o expediente.

Vou sair agora com o Teo e o Lorenzo.

Mas estou livre para conversar com você quando quiser.

E diga logo o que aconteceu, porque estou ficando preocupado.

Ela visualizou em poucos segundos, mas logo ficou offline de novo. Imaginei que estivesse ocupada — talvez ainda presa no trabalho, como sempre.

Guardei o celular no bolso e respirei fundo.

Meu escritório de advocacia ocupava um andar inteiro de um dos prédios mais importantes do centro de Nova Iorque. Saí da sala de reuniões e fui até o hall, onde Matteo, meu melhor amigo e sócio, me esperava sentado em um dos sofás.

Mesmo com o escritório já fechado e todos os funcionários fora dali, ele continuava me esperando. Isso era bem típico dele.

— Lembre-me de nunca me casar — resmunguei, cansado, jogando-me no sofá ao lado.

— Não sou exatamente o cara certo pra te dar esse tipo de conselho — Matteo retrucou, rindo alto.

Ele tinha razão.

Eu nunca tive planos de me comprometer com alguém, mas Matteo era o tipo de homem que fazia o celibato parecer uma religião. O título de “solteiro mais convicto da América” certamente era dele.

Nos conhecemos no ensino médio. Ele era um ano mais velho que eu e um mais novo que o meu irmão, Lorenzo. A amizade começou quando entramos numa briga pra defender o meu irmão de uns idiotas que o humilharam por ser bolsista. Desde então, viramos um trio. Às vezes, Isabella se juntava a nós — e éramos um quarteto inseparável.

Bons tempos.

Lorenzo sempre foi o certinho — o que casou cedo e assumiu a empresa do nosso pai. Matteo, por outro lado, só queria saber de festas e mulheres.

No trabalho, pelo menos, ele era impecável. Depois que nos formamos em Direito, abrimos juntos o escritório, e não demorou para que ele se tornasse um dos mais renomados do país.

Eu, no quesito “mulheres”, ficava no meio-termo. Não queria compromisso, mas também não era inconsequente. Tinha meus casos fixos, sem rótulos, sem promessas.

— Nunca vou entender — Matteo começou, mexendo no relógio — por que as pessoas se metem nessas enrascadas. Casamento, juramento de amor eterno... só pra depois gastarem uma fortuna contratando advogados como a gente pra se matarem por casa, carro e guarda de filho.

— Acho que o amor é isso — murmurei. — É eterno... enquanto dura.

— Isso não faz o menor sentido, Alê. — Ele riu, balançando a cabeça. — Como alguém pode amar tanto a ponto de querer dormir e acordar com uma única pessoa todos os dias... e depois transformar tudo isso em ódio puro?

— Nem todos os casais se separam. E mesmo quando se separam, às vezes sobra algo bom. Amizade, respeito... convivência civilizada.

— Me dá um exemplo. Um único exemplo.

— Esse tipo de gente não costuma precisar dos meus serviços.

— Então cita alguém da tua vida, não cliente.

— Os pais do meu irmão ficaram juntos pra sempre.

— O pai do teu irmão traía a mulher com a tua mãe.

— E ainda assim eles continuaram casados até o fim.

— A mulher morreu antes dos quarenta. Eles não se aturariam por muito mais tempo — Matteo provocou. — E o Lorenzo? Quanto tempo acha que esse casamento vai durar?

— Até onde sei, eles estão bem. E vão ter um bebê em breve.

— Aí é que a coisa vai começar a desandar.

Revirei os olhos. Matteo era um cético incurável, e eu já me acostumara a não discutir com ele sobre isso. Ainda assim, ele soube a hora de parar, principalmente quando ouvimos o som do elevador se abrindo.

Menos de um minuto depois, Lorenzo entrou no hall. Estava como sempre — terno alinhado, expressão séria e o celular ainda na mão.

— E então, já estão prontos? — ele perguntou.

— O atrasado aqui é você — falei. — São quase sete da noite.

— O único dentro do horário sou eu — Matteo se apressou em responder. — Já estou aqui há quase uma hora. Teu irmão ficou preso em mais uma briga de casal, e todo o escritório já foi embora.

Lorenzo deu um meio sorriso cansado. — Também fiquei preso em reunião. Mas estamos indo pra um bar, certo? Qual o problema de chegar um pouco mais tarde?

— O problema — Matteo rebateu — é que daqui a pouco você vai começar com “tá tarde, a Allegra tá me esperando pra jantar”.

— Que culpa eu tenho de ter uma mulher que me ama me esperando em casa? — Lorenzo retrucou, divertido.

— Quando eu digo que esse tipo de vida não é pra mim... — Matteo murmurou.

Lorenzo estava prestes a responder quando ouvimos batidas na porta.

Aquela hora? Estranho.

Levantei-me e fui até lá. Assim que abri, o ar me faltou por um segundo.

— Bella? — perguntei, surpreso.

Ela estava ali, enfiada num moletom, cabelo loiro preso num coque bagunçado, o rosto um pouco suado, como se tivesse corrido até aqui.

Mas mesmo assim... aquele sorriso.

Aquele mesmo sorriso moleque que eu conhecia tão bem.

— Que bom que encontrei você aqui — ela disse, ofegante, com o olhar brilhando.

Naquele instante, tive a nítida sensação de que Isabella estava prestes a me arrastar pra algo grande. Algo completamente fora dos planos.

E, sinceramente, parte de mim... estava pronto pra isso.

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