Narrado por Dmitri
O silêncio da madrugada é traiçoeiro. Ele embala como um véu pesado, mas basta uma fagulha para se romper em mil pedaços. E, naquela noite, foi o toque insistente do meu celular que rasgou a escuridão do quarto.
Peguei o aparelho com um reflexo quase automático, o coração marcando compasso firme no peito. O número era desconhecido, bloqueado. Normalmente, eu não atenderia. Mas meus instintos gritaram que eu devia.
— Dmitri Orlov — atendi com a voz baixa, grave, carregada de alerta.
Do outro lado, apenas silêncio por alguns segundos. Depois, uma respiração pesada. Grossa. Como se a pessoa quisesse que eu soubesse exatamente quem estava do outro lado: um inimigo.
Voz: — Você acha que é intocável, Don? Acha que pode matar poloneses e sair ileso?
Minha mão se fechou em punho sobre o lençol. Eu não respondi de imediato. Eu sabia que às vezes o silêncio é a melhor arma — deixa o outro falar mais do que deveria.
Voz: — A sua família vai pagar. Sua mulher grávida, suas amig