Narrado por Anya Petrova
Entrei no apartamento da Polina como quem volta de um campo de batalha. O corredor cheirava a chá e a limpeza recente, mas nada disso segurava o tremor das minhas mãos. Fechei a porta com cuidado, dois giros na fechadura, e apoiei a testa na madeira fria.
Polina surgiu da cozinha com um pano ainda úmido nas mãos. O olhar dela me percorreu dos sapatos à garganta, medindo cada fissura.
Polina: — Você demorou. Ele te prendeu lá?
Anya: — Não. Ele… me mostrou a casa. Fez questão de cada detalhe, como se pudesse me dobrar com mármore e vidro.
Polina: — Você comeu?
Anya: — Ele me obrigou a sentar à mesa. Eu comi.
Ela afastou uma cadeira com o pé e apontou para que eu me sentasse. O gesto simples doeu como um carinho esquecido.
Polina: — Senta aqui. Bebe água. Respira.
Sentei. As pernas amoleceram, e só então percebi o quanto estava cansada. Passei a mão pela barriga, por reflexo, como se confirmasse que a vida ainda estava ali, intacta.
Anya: — Eu tentei dizer que nã