Narrado por Anya Petrova
O avião cortou o céu como se quisesse levar a Grécia inteira consigo, mas assim que a pista de Moscou apareceu abaixo, algo no meu peito se enrijeceu. A luz aqui, cinzenta e pesada, não perdoa ínterims. Eu já sabia: a viagem fora um oasis. Agora a realidade voltava, com suas regras duras, seus horários e o vulto que Dmitri assumia quando atravessava a porta de casa.
Descemos, passamos pela alfândega, o carro nos esperava no hangar — blindado, discreto. No trajeto, ele ficou mais fechado, os olhos no horizonte, o telefone vibrando com mensagens que eu preferi não ler. Aquela transformação sempre me atingia como uma lâmina fria: o homem doce nas férias se recolhia, aparecia de novo o Don que mandava no conselhos, que vivia na lógica do cálculo e do risco.
Quando entramos na mansão, a diferença foi imediata. Irina nos recebeu com a eficiência de sempre, mas havia olhares que falavam do dia seguinte: reuniões, relatórios, homens a alinhar. Dmitri caminhou pelo sal