Narrado por Anya Petrova
A manhã começou como qualquer outra.
Cheguei cedo, como sempre, a pasta cheia de provas para corrigir e o coração pesado demais para alguém que deveria apenas ensinar verbos e fórmulas. Sorri para os alunos, mesmo sem sentir vontade, e tentei acreditar que a sala de aula era o último lugar seguro que me restava.
As carteiras estavam alinhadas, o quadro branco cheio de rabiscos da aula anterior. O cheiro de giz, misturado ao perfume doce de algum aluno, dava ao ambiente uma falsa sensação de rotina. Eu me agarrei a isso como quem segura uma tábua em alto-mar.
— Abram o livro na página cinquenta e três — pedi, tentando manter a voz firme.
As vozes infantis começaram a se sobrepor, páginas sendo folheadas, risadinhas nervosas aqui e ali. Era um som que me trazia paz. Talvez o único ainda capaz disso.
Mas a paz não dura.
O primeiro som veio abafado.
Um estalo seco, distante, que poderia ser uma porta batendo. Alguns alunos ergueram o rosto, curiosos. Eu fingi que