Fátima entrou no restaurante vestindo pantalonas pretas e uma blusa branca de mangas largas. Nada muito formal, mas com ela, até o despretensioso parecia serio. Elias, já sentado, ergueu-se de imediato.— Demorou, mas valeu a espera. — comentou, puxando a cadeira para ela sentar. — Está linda.Ela apenas esboçou um sorriso impassível antes de se sentar.— Não sabia bem o que vestir. — disse. Ao perceber o brilho no olhar dele, completou, seca: — Não se ache. Não trouxe nada mais social.— E não precisa. — deu um leve sorriso. — Pra ser sincero, prefiro-te sem nada mesmo.— Cala a boca. — sussurrou, lançando-lhe um olhar carregado de constrangimento.— Juro. E não sou só eu. Qualquer homem pensaria o mesmo.— E tu achas que tens o monopólio da honestidade?Ele riu, divertido.— Devias sorrir mais.— Não me peça isso. — respondeu, séria. — Vamos deixar claro desde já: sem comentários estereotipados. Sou negra, mas não sei dançar. Não sou exótica. Não sou um tempero.— Mas és. — responde
— Estás a ir longe demais. Quem tu pensas que és? — Fátima perguntou, a voz irritada.O homem virou-se para ela, surpreso com a firmeza em sua postura perante ele. Havia dor nos olhos dele — uma dor crua, como se só agora compreendesse que a estava perdendo de verdade. Mesmo assim, no seu habitual descaramento, deu um passo à frente. Inclinou-se, os lábios perigosamente próximos dos dela.Fátima não recuou de medo. Seus instintos quase a traíram. O magnetismo entre os dois a puxava como um imã. Ela se inclinou, inconscientemente... e parou a um fio de distância. Se deteve logo que apercebeu.— Não preciso pensar. Eu sou o teu marido — disse ele, firme, convicto.—Fátima — repetiu, como uma oração. O calor que emanava dele parecia queimar o ar ao redor. Sua possessividade, por algum motivo, não a ofendia. Tocava uma parte esquecida dela; uma parte que queria pertencer a alguém, mesmo que não pudesse admitir isso. Mas iris ela algum dia aceitar isso?Nunca!Não a Fátima certinha. Ainda m
A temperatura caiu de forma abrupta, uma anomalia imprevista em meio ao verão. O céu, antes azul e ensolarado, deixou-se encobrir de nuvens pesadas e escuras, e lá se foram os últimos vestígios do dia. Uma escuridão opressora engolfa o dia, e as ruas movimentadas ficaram logo desertas. O uivar do vento cortante empurra as folhas secas e detritos pelos passeios da metrópole. Antes mesmo das primeiras gotas de chuva se fazerem sentir, o cheiro de terra molhada já envadira as entranhas dos moradores. Duma vez as gotas de chuva caem com força, tamborilando contra vidraças, telhados e postes. A tempestade que chegara sem aviso, não vinha surpreender somente o mundo lá fora.Dentro da cobertura do aranhaceu mais alto da cidade, SkyGate, Fátima sentava-se no chão frio, pernas dobradas contra o peito, seu corpo comprimido como se procurasse refúgio dentro de si mesma. O vento que se infiltrava sorrateiramente pelas frestas das janelas, fazia seus fios de cabelo desfrizado dançarem suavemente.
Estava tudo um silêncio ensurdecedor e uma escuridão tão amarga como sua tristeza envolvia o ambiente. Já haviam se passado algumas noites, e ela se confinara em sua própria casa. Tudo o que desejava que a morte a abraçasse a qualquer momento. Não tinha nada porque viver. Ele era sua vida, e agora seria a sua morte.No meio daquele silêncio opressor, um ru´do sutil se fez presente. Um barulho que vinha da porta. Seu coração falhou uma batida. Alguém estava alí. Será que ele voltou?Seus instintos despertaram, e , num impuslo, ela se levantou. Passou a mão pelo seu cabelo que por falta de cuidado já estava desengrenhado e opaco. Olheiras profundas por debaixo de seus olhos marcaram seu rosto abatido, e seu corpo debilitado por falta de alimentação, tremia levemente.Mesmo assim reuniu forças para descer as escadas da cobertura e se fazer a sala quanto antes. Cada movimento exigia esforço monumental e seus passos eram pesados.A porta se abriu devagar e lá estava uma silhueta esguia de
Fátima sentia-se afundar num abismo sem fim. Ninguem parecia perceber a gravidade de sua situação.−Está todo mundo preocupado” disse Selsabil cruzando os braços, sua expressão exasperada de quem se repetia deyenas de vezes. −Apesar de teres tomado o lado desse gigolô do teu marido, ele continua sendo teu pai, Fátima binti Ali Zacaria.−Fátima conseguia sentir ainda a irritação na voz de sua amiga, mas não se deu trabalho de responder.No que adianta, se ninguém parecia compreender.Selsabil abanou a cabeça, e suspirando saiu para atender a porta.A figura de Ali Zacaria, o magnata que a revista Forbes tantas veyes mencionara, surgiu. Mas ali não estava o homem poderoso que o mundo conhecia, ali estava um pai. Cansado, desapontado, mas incapaz de esconder tanto amor por sua filha mais nova.−Assalam alleikum, tio.− Cumprimentou o senhor que era um pouco mais baixo que ela, vestia uma roupa simples, mesmo sendo um empresário renomado, e a mesma simplicidade dera a sua filha; que não se
−Eu vou subir para o meu quarto.− Fátima anunciou, saindo o mais rápido possível. Virou as costas antes que alguém visse o véu de lágrimas que se formava nos seus olhos.Logo que fechou a porta do quarto atrás de si, deixou-se cair na cama. Ia se lamentar sozinha; pensar no que fez de errado para não merecer compaixão dele. Ela tinha feito tudo por ele, menos nada. Deu tudo. Sua lealdade, o seu corpo, a sua paz.Fátima olhava sem ler para o livro que tinha em sua mão. Coletânea de poemas de Rumi, tão profundos e emocionates, uma pêssima ideia ler enquanto com coração partido. Largou o livro no colo e passou os dedos pelo rosto, tentando conter a tempestade interior.Uma batida suave a fey erguer os olhos.−Oi...− Selsabil cumprimentou espionando através pela fresta da porta, um sorriso irreverent nos lábios. −Uau, estás com uma aura maravilhosa, a ler um livro.− Tentou soar optimista ao fechar a porta.−Oi, Selsa.− Fátima força um sorriso, mesmo tão cansada de fingir.−E então?− pergu
−Como consegues gastar tanto dinheiro numa única noite!− perguntou Salman, visivelmente irritado, enquanto atravessava a rua, vindo do Yatch Club. Postura sempre impecável, agora manchada pelo ar exasperado de uma pessoa impaciente. Trajava um fato escuro costurado para sim a medida, e no seu olhar muito desprezo.Yahya se mostrou despreocupado, dando de ombros, tira o telemóvel do bolso ignorando Salman por completo. Os dois entraram no mercedes classe S que encontrava estacionado ali perto.−Isso não vem ao caso. Bloquearam todos os meus cartões. Estou sem nem um tostão.− Yahya reclamou a injustiça, enquanto se acostava no acento do carro. − Estou a ser tratado como um criminoso. Uma injustiça, é o que é.Salman não se mostrava nada satisfeito, pois pensara que a imaturidade de Yahya ficara nos anos de faculdade. Apertou os dedos no volante, e olhou pelo canto dos olhos, batalhando a vontade de o expulsar do carro.−Está a ser investigado e se dá o luxo de gastar o que não tem?− O a
Depois de várias semanas desaparecido ele estava ali de joelhos, na sua frente a pedindo perdão. Fátima o amava, Yahya era o homem de sua vida. O prometera, o coração, a alma e a vida.Nada, absolutamente nada, a mudaria de ideia. Ela jurou pertencer a um único homem a sua vida inteira, e ela sempre soube que seria ele. Mesmo quando sua rival era sua melhor amiga, Ala. Nenhuma tinha de ficar chateada quando ele fizesse a escolha. E escolheu.−Acreditas em mim, Fátima?− Ela ficou em silencio após ouvir tanta desculpa esfarrapada.−Isso foi um complô contra mim.− insistiu. − E se Zacarias não abrir os olhos, logo vai perder muito mais, porque os seus verdadeiros inimigos ainda estão lá, na empresa.−−Eu não sei.− Ela tentou ser dura, e virou o rosto para não ser persuadida por aqueles olhos castanhos que a olhavam fundo e a despiam. −Quando a auditoria terminar... vamos saber a verdade.−−Você não parece mais aquela Fátima que eu conheço, que me fazia juras de amor... e que confiava em