As horas se arrastaram.
A chuva não cessava.
Vitor dormiu no meio da tarde, e eu fiquei sentada junto à janela, observando as gotas escorrendo pelo vidro — tentando não olhar o relógio, tentando não esperar.
Mas ele não ligou.
Quando finalmente o ouvi chegar, já era noite.
A chave girou na fechadura, e o som ecoou pelo apartamento silencioso.
Por um segundo, meu coração pareceu ganhar vida — esperei ouvir meu nome, o som da voz dele quebrando o silêncio. Mas nada.
Zahir entrou e passou por mim sem dizer uma palavra. O rosto estava fechado, exausto, o olhar distante. Apenas pendurou o paletó no encosto da cadeira, largou a pasta sobre o aparador e afrouxou a gravata com um gesto lento, sem me encarar.
O perfume dele — aquele aroma amadeirado que sempre me envolvia — espalhou-se pelo ar, preenchendo o espaço entre nós com uma presença que doía.
Pensei em dizer algo, qualquer coisa, mas a garganta se fechou.
Ele atravessou a sala e seguiu direto para o quarto, deixando para trás o som ab