Ponto de vista de Claire.
Naquela noite, Aaron estava diferente.
Mais selvagem.
Mais intenso.
O absoluto governante do império mafioso Moretti me levou ao limite repetidas vezes, como se pretendesse esvaziar cada gota de força que ainda existia em mim.
O ar estava denso, com uma mistura pesada de desejo, suor e fumaça de Cohiba envelhado.
As chamas da paixão ainda não haviam esfriado na minha pele.
Ele se inclinou, a respiração quente e irregular contra meu ouvido.
— Claire. — Murmurou ele, a voz baixa e rouca.
— Vivian vai voltar em alguns dias.
Por um instante, meus pulmões congelaram.
Mas a imobilidade durou apenas alguns segundos. Eu forcei minha compostura de volta.
O homem que comandava o submundo, seu poder absoluto.
Um leve brilho de suor cobria seu peito esculpido, capturando a luz, irradiando um apelo bruto, primal.
Tentador, porém perigoso.
Mas, em breve, tudo aquilo não significaria nada para mim.
Vivian era filha do motorista de Aaron, o homem que levou um tiro por ele e nunca voltou para casa.
Desde então, Aaron cuidava dela de forma especial. Por culpa, por um senso de dívida que acreditava nunca poder pagar.
Ela era apenas uma atriz de pequeno porte, mal conhecida além de algumas revistas brilhantes, mas Aaron insistia que sua reputação era intocável.
Ele dizia que ela não podia suportar um único escândalo, nem mesmo um sussurro.
Então, toda vez que ela voltava para a cidade, ele se divorciava de mim, para que o mundo o visse como solteiro e a visse como inocente.
E quando ela ia embora, ele voltava para mim de novo, como se nada tivesse acontecido.
Na primeira vez em que ele pediu o divórcio, eu desmoronei completamente.
Gritei, chorei, implorei que ele voltasse atrás.
Mas ele não voltou.
Depois, aprendi a aceitar, ou pelo menos fingir que aceitava.
Eu rastreava onde ele estava, aparecia nos restaurantes favoritos dele, hotéis, até leilões, fingindo que era tudo coincidência.
Só para ter a chance de dizer algumas palavras a ele.
Ele riu na minha cara por isso.
Disse tão calmamente que quase soava como um fato.
— Claire, você é patética. Você não consegue viver sem mim.
Eu queria odiá-lo por aquilo, mas ele tinha razão.
Os homens dele também zombavam de mim.
Para eles, eu não passava da mulher que Aaron largava e reatava, uma interesseira barata e desesperada que nunca aprendia a lição.
Mas desta vez, eu o empurrei enquanto ele ainda estava dentro de mim.
— Tudo bem. — Eu disse.
— Amanhã seguimos com o divórcio.
Minhas pernas ainda tremiam, mas minha voz estava gelada e firme.
Os papéis do divórcio já tinham a minha assinatura. Eu os entreguei a ele.
Aaron piscou, pego de surpresa pela minha decisão.
Então, um leve sorriso curvou o canto de sua boca.
Satisfeito, aprovando.
— Finalmente, você aprendeu a se comportar, Claire.
Ele assinou o próprio nome e me devolveu os papéis.
— Quando ela for embora, nós nos casamos de novo. Só um mês, espere por mim.
Ele segurou meu queixo, inclinando-se para um beijo.
Mas eu virei o rosto.
Normalmente, eu o faria assinar, em seu papel como chefe da família Moretti, uma promessa gravada em tinta:
"Eu, Aaron Moretti, vou me casar novamente com Claire em [data]."
Mas desta vez, eu não disse nada.
Afinal, aos olhos de Aaron, a reputação de Vivian importava mais que qualquer coisa.
Qualquer súplica minha, qualquer recusa, só poderia parecer cruel, até impiedosa, à filha de seu benfeitor.
Mas Vivian nunca escondeu sua hostilidade comigo.
Sua possessividade sobre Aaron sempre ficou completamente exposta, bem diante de mim.
Se o casamento era apenas um jogo que ele podia jogar ou descartar quando quisesse, então eu não ia mais jogar.
Entrei no closet e arrumei minhas coisas.
Em menos de um quarto de hora, saí de lá arrastando minha mala atrás de mim.
Aaron pareceu um pouco surpreso.
— Claire... talvez eu pudesse colocá-la em um hotel, e você não precisaria ir embora?
— Esqueça. — Eu disse.
— Ela é mais importante do que eu.
Eu não queria que ele carregasse o peso de decepcionar a filha de seu benfeitor.
Virei-me para ir embora, mas Aaron segurou meu pulso.
— Já que você aprendeu a ser boa, seja boa até o fim. Nada de encontros armados. E mantenha nossos assuntos fora da mídia.
Eu admito que fiz escândalos, fiz coisas estúpidas.
Mas o cerco da mídia e as exposições não tinham nada a ver comigo.
Já perdi a conta de quantas vezes os paparazzi os seguiram para camarotes de boates, quartos de hotel, tirando fotos íntimas.
Vivian estava sempre apoiada no ombro de Aaron, ou bêbada nos braços dele, com a mão no peito dele, posando de forma tão sugestiva.
Todas as vezes, a história ia parar nos assuntos mais comentados.
Vivian chorava para limpar o próprio nome, enquanto toda a culpa caía sobre mim: "a interesseira abandonada".
Os fãs dela lançavam os insultos mais vis, me atacando sem parar.
A "inocência" dela era construída pisando na minha reputação.
Tentei desabafar com Aaron, mas ele me desconsiderou.
— Quem liga para o que dizem? Você me tem, isso basta.
Eu?
Tê-lo?
Aquelas noites, eu enfrentava a tempestade de abusos sozinha, enquanto ele nem se dava ao trabalho de explicar uma única palavra.
Memórias do passado me feriram, enchendo-me de nojo.
Eu sacudi a mão dele e me virei para a porta.
— Claire. — Aaron chamou atrás de mim.
Eu parei, mas não olhei para trás.
— Dia 20 do mês que vem. Não esqueça, é quando nós nos casamos de novo.
Eu acenei levemente por cima do ombro e empurrei a porta.
O portão pesado se fechou atrás de mim.
Dia 20?
Meu celular iluminou com meu itinerário de voo.
E, claro... a partida estava marcada para o dia 20.