Ponto de vista de Claire.
Aaron vinha me ligando há dias desde aquele convite para jantar.
Toda vez que o nome dele acendia na tela, eu lembrava dos sussurros suaves e insinuantes de Vivian naquela noite, e deixava o telefone tocar até parar.
Então veio uma mensagem:
[Aaron: Claire, por favor. Saia. Eu só quero te ver.]
[Eu: Desculpa. Já cansei de ser o "talvez" de alguém.]
Antes, não importava o quanto eu estivesse com raiva, no momento em que ele estendia a mão, ainda que minimamente, eu enxugava as lágrimas, forçava um sorriso e corria de volta para os braços dele.
Mas tudo mudou quando Vivian voltou.
Quanto mais ela aparecia, menos paciência ele tinha comigo, com nós dois.
Ele deixou de ser o homem que tentava. Eu era sempre a que pedia desculpas, sempre a que implorava para ficar.
Hoje, olhando para trás, mal consigo suportar a mulher que fui.
Tudo o que eu queria desta vez era um último jantar no dia 19, a noite anterior à minha partida, pra encerrar tudo.
Naquela tarde, enrolei meu cabelo nas mesmas ondas suaves que usei cinco anos atrás. Os fios castanhos caíam sobre meus ombros como uma cascata de seda.
Bella me ligou justo quando eu terminava a maquiagem.
— Ei, adivinha? Fiquei sabendo que a Vivian e o Aaron brigaram ontem à noite. — A voz dela transbordava empolgação.
— Sério? — Arqueei uma sobrancelha enquanto ajustava o batom.
— Isso é raro. Achei que ele praticamente construía o mundo dele ao redor dela.
Bella elevou um pouco o tom de voz:
— Parece que foi por sua causa! Ninguém sabe o que aconteceu, mas o Aaron saiu furioso do jantar e deixou a Vivian lá.
Mantive o tom neutro.
— Obrigada por me avisar, Bella. Agradeço.
Ela hesitou.
— Você… não se importa?
Um riso suave escapou antes que eu pudesse conter.
— Estou indo embora. Que eles tenham qualquer versão de felicidade que conseguirem.
Dei uma risadinha.
— De qualquer forma, estou partindo. Desejo sorte a eles.
Então vesti o mesmo vestido azul de cinco anos atrás, arrumei o cabelo e a maquiagem exatamente como naquela noite, e fui para o Celestia.
Onde tudo começou, e onde terminaria.
Era a mesma mesa. A mesma vista.
Aaron certamente fizera o restaurante preparar tudo com antecedência. Celestia estava ainda mais luxuoso do que cinco anos antes.
Cristais finos, velas tremeluzentes e um arranjo de lírios brancos perfumavam o ar.
Não havia outros clientes naquela noite, apenas uma fileira discreta de garçons à distância.
Ele tinha reservado o lugar inteiro de novo.
Típico do Aaron.
Suspirei, olhando pela janela onde as luzes da cidade se confundiam com o anoitecer.
O que eu deveria dizer quando ele chegasse?
Será que aceitaria em silêncio? Ou perderia o controle, como sempre fazia quando algo escapava de suas mãos?
Meu telefone vibrou. O nome de Aaron iluminou a tela.
— Claire, me desculpe. A reunião durou mais do que eu esperava. Estou indo para aí agora.
— Faz tempo demais. Eu senti sua falta.
Eu podia ouvir o ritmo suave dos passos dele, o calor baixo na voz que um dia fez meu coração disparar.
— Tudo bem. — Respondi leve, fingindo despreocupação.
— Você deu sorte que estou com disposição para perdoar hoje à noite.
Mas conforme o céu passou do âmbar ao índigo, o assento à minha frente continuou vazio.
Meia hora passou.
Depois, uma hora.
Aaron ainda não tinha chegado.
Liguei…
Sem resposta.
Então o nome da Bella apareceu na tela.
— Claire, olha as notícias. A Vivian enlouqueceu.
Meu estômago se apertou enquanto eu abria as manchetes.
O carro de Vivian havia cortado a pista de Aaron, parando bem na frente dele.
Os dois carros colidiram num "T" perfeito. Não forte, mas o bastante para atrair uma multidão.
As câmeras captaram tudo:
Aaron correndo até ela, o pânico estampado no rosto enquanto a puxava para os braços.
Outra foto mostrava ele parando um táxi, carregando-a como algo frágil, indo direto para o hospital.
Os tabloides se deliciavam:
"Batida leve, mas o desespero de Aaron diz tudo: ele parecia com medo de perdê-la."
"Vivian não parecia machucada. Nos braços dele, parecia… feliz."
"Depois da discussão intensa da noite anterior, o casal parece ter se reconciliado de forma dramática e apaixonada."
Uma dor surda e insistente pairou no meu peito, sutil, mas constante, como um sussurro impossível de ignorar.
Pratos impecáveis estavam dispostos diante de mim, o perfume das velas preenchia o ar, o restaurante inteiro envolto num brilho romântico e suave.
Um garçom se aproximou.
— A senhora gostaria de esperar mais um pouco?
Silenciei o telefone.
— Vou começar sem ele.
Um jantar luxuoso sozinha não era tão ruim, eu disse a mim mesma.
Se ele não vinha, eu podia simplesmente aproveitar tudo por conta própria.
Mas… a lagosta não tinha o sabor rico de sempre.
O foie gras tinha um leve amargor sutil, mas inconfundível.
Pensei em chamar o chef, mas a ideia pareceu ridícula.
Depois de algumas mordidas, mais por hábito do que por fome, afastei a cadeira e me levantei.
Aquele restaurante não me veria nunca mais.
Arrastando minha mala pelas ruas silenciosas da noite, fui para o aeroporto.
O café onde me instalei estava quase vazio, mas meu celular não parava de vibrar com ligações de Aaron.
Eu bloqueei.
E então começaram as mensagens pelo aplicativo:
[Claire, me desculpa. A Vivian se machucou; preciso cuidar dela primeiro.]
[Ainda temos tantos aniversários pela frente, certo? Vou compensar você.]
[Amanhã nós nos casamos de novo. Não esquece.]
A curiosidade — ou talvez uma necessidade de fechamento — me fez abrir o perfil de Vivian.
Já fazia muito tempo que eu não olhava nada dela.
E lá estavam: fotos dela com Aaron em todas as ocasiões possíveis.
A atualização mais recente, publicada poucas horas antes:
"Você prometeu que sempre cuidaria de mim."
"E eu sempre acreditei…"
Na foto, ela se apoiava no peito dele, frágil e delicada, enquanto ele a segurava com uma ternura que eu um dia pensei que fosse só minha.
Um sorriso irônico escapou, sem que eu percebesse quando as lágrimas começaram a escorrer.
Salgadas, amargas.
O amanhecer começava a tingir o céu.
Enxuguei o rosto, arrumei o cabelo, e garanti que eu parecia composta.
Às 7 horas, já tinha feito o check-in.
Uma mensagem de Aaron piscou na tela, perguntando se eu estava a caminho.
Não respondi.
Apenas o removi da lista de contatos.
Às 8 horas, eu estava na fila de embarque.
Números desconhecidos apareciam insistentemente na tela, mas eu não atendia, sabia que era ele tentando me alcançar.
Às 9 horas, o avião começou a taxiar pela pista.
Quando eu estava prestes a desligar o celular, a ligação de Bella entrou.
No instante em que atendi, a voz de Aaron tensa, urgente, soou na linha:
— Claire, onde você está?!