Deu mais alguns passos, devagar, como se cada movimento pesasse toneladas.
Parou diante da porta do quarto de hóspedes, o mesmo onde Beatriz dormira durante quase dois anos.
Mas, depois que Vitória apareceu, ele a expulsou dali, mandando-a para o cômodo menor, o que antes servia de depósito.
Levantou o olhar.
A porta do banheiro estava entreaberta, o interior mergulhado em silêncio.
E, como um golpe, a lembrança veio.
Beatriz, sozinha, ajoelhada no chão frio, lavando com água gelada as queimaduras que ele próprio provocara pela segunda vez.
Os olhos vermelhos, o rosto molhado de lágrimas, e a voz partida, cheia de dor, gritando para que ele sumisse da vida dela.
A cena o atravessou como uma lâmina.
O peito se contraiu, latejando.
Ele sentiu, com clareza cruel, que não passava de um monstro.
Por fim, chegou ao quarto menor, o antigo depósito.
O mesmo quarto onde Beatriz dormira antes de ir embora.
O mesmo quarto onde, agora, ele dormia.
Fechou a porta.
Encostou as costas na madeira fria