Não sei quanto tempo se passou até que fui despertada do sono profundo pelo som da discussão acalorada entre Norberto e seu pai.
Percebi que estava novamente deitada na fria cama de hospital.
Ao me ver acordada, Norberto pareceu respirar aliviado, mas olhou para o pai com evidente desagrado.
— É essa a esposa exemplar que você escolheu pra mim? Sai de casa de madrugada pra encontrar algum playboy!
Sebastião, o pai, tremia de raiva: — Encontro? Você sabe o que a Glória foi fazer ontem?
Interrompi os dois, com a voz firme: — Pai, já passou.
Sebastião me olhou, percebendo o cansaço e a decisão nos meus olhos, e conteve a raiva.
Norberto, porém, fez pouco caso, acenando com a mão:
— Já que ela acordou, não tenho mais o que fazer aqui. A Adriana está me esperando, vou embora.
O velho gritou furioso: — Volte aqui agora!
— Não me importa pra onde você vai hoje, mas amanhã, você vai voltar comigo junto com a Glória!
Antes mesmo que terminasse de falar, Norberto já havia sumido pela porta.
Sebastião soltou um longo suspiro e me entregou um documento.
— Este é o acordo de divórcio entre você e Norberto. Já organizei tudo. Assim que você assinar, o casamento de vocês estará oficialmente encerrado.
Glória, amanhã é o funeral do seu filho com Norberto. Espero que você venha se despedir dele.
Olhando para aquele senhor de cabelos brancos, meu coração amoleceu.
Na manhã seguinte, vesti-me de preto e fui até a antiga mansão da Família Rios.
Desde o nascimento, eu cuidei daquele menino.
Mas o destino foi cruel. Um bebê com apenas um mês de vida, levado tão cedo deste mundo.
Enxuguei as lágrimas que escorriam pelo rosto. Por dentro, sentia um vazio imenso, como se todos os laços que me prendiam a este mundo tivessem sido arrancados pela raiz.
Até o fim do enterro, Norberto não apareceu.
Horas depois, as redes sociais explodiram com uma notícia no topo dos assuntos mais comentados:
Eram fotos dele e Adriana experimentando vestidos e ternos de casamento em um ateliê de luxo.
Adriana, triunfante, me mandou uma mensagem:
— E daí que você teve um filho? No fim, o Norberto escolheu a mim.
— Aliás, você achou que o Norberto cuidou de você enquanto estava desacordada? Na verdade, ele ficou comigo o tempo todo.
Estávamos numa suíte VIP no quarto ao lado do seu no hospital, aproveitando bastante a cama macia.
Não respondi. Apenas encaminhei todas as mensagens e fotos para Sebastião.
Peguei uma caixinha de couro.
Dentro, estavam o cartão com as pegadas do bebê, entregue pelo hospital no dia em que nasceu, e uma pequena foto dos seus pezinhos.
Sussurrei: — Meu querido, mamãe sempre vai te amar.
Retirei a aliança do dedo anelar e me despedi de Sebastião.
Quando a noite caiu, Norberto voltou para a antiga mansão da Família Rios, embriagado.
O clima na sala era pesado. A lareira estava apagada, e só uma lâmpada do lustre permanecia acesa.
Na mesa central, coberta por veludo preto, velas queimavam suavemente.
Um vaso de rosas brancas repousava à frente.
Norberto parou, atônito, dando um passo atrás instintivamente.
— Quem... morreu? Foi... a mãe da Glória?
Desorientado, Norberto procurou os empregados, querendo saber o que havia acontecido.
— O que houve? Onde está a Glória? E a mãe dela, está bem? Será que ela está muito triste? Preciso ir vê-la.
Sebastião levantou-se da escuridão e atirou pesadamente o acordo de divórcio no peito de Norberto.
— A mãe da Glória faleceu, e hoje é o sétimo dia de luto do seu filho recém-nascido!
— A Glória já foi embora.