O ar na sala privada do Blue Moon estava morto.
Eu segui Dante andando para dentro da sala e senti isso imediatamente.
Isabella estava sentada na mesa de cartas, o rosto branco como giz, as mãos tremendo.
Sobre a mesa, havia um revólver banhado a prata.
— Dante! — Ela nos viu e se jogou nos braços dele. — Me salve! Estou com tanto medo!
Em frente a ela estava Marco Valenti, um sorriso cruel em seu rosto de setenta anos.
— Na hora certa. — Ele disse a Dante. — Sua noiva me deve cinquenta milhões. Mais juros.
— Eu posso te dar o dinheiro. — Dante disse, segurando Isabella firmemente. — Agora mesmo.
— Não, não, não. — Marco balançou a cabeça. — Dinheiro é entediante. Eu quero que ela jogue um jogo mais interessante.
Ele apontou para a arma na mesa.
— Roleta Russa. Seis câmaras, uma bala. Se ela tiver sorte, sai viva daqui.
Isabella começou a soluçar. — Eu não vou fazer isso! Dante, eu não quero morrer!
— Ela sabia das apostas quando se sentou. — Marco zombou. — A penalidade é a morte.
Dante protegeu Isabella atrás de si, os olhos cheios de intenção assassina.
— Deixe-me tomar o lugar dela.
— Não. — Marco balançou a cabeça. — Tem que ser ela. O pacto é claro. Ou...
O olhar dele se desviou para mim, um brilho perverso em seus olhos.
— Deixe a garota tomar o lugar dela. Quem se importa se ela morrer?
— Absolutamente não. — Dante recusou instantaneamente.
Uma ponta de calor me atravessou. Pelo menos ele ainda estava me protegendo.
— Então sua noiva pode fazer isso sozinha. — Marco pegou a arma, carregou uma única bala e girou o tambor. — Vou contar até três. O jogo começa.
— Um.
Isabella gritou, agarrando-se a Dante.
— Dante, me salve! Eu não posso morrer! Nós vamos nos casar! Nós vamos construir uma família!
— Dois.
— Espere! — Dante gritou de repente.
Ele olhou para Isabella, que chorava, e então olhou para mim.
Eu vi a luta em seus olhos, a agonia.
Então, ele fez sua escolha.
Ele olhou para mim, o rosto inexpressivo. A voz dele era serena. Desprovida de emoção. — Elara. Sente-se no lugar dela.
Meu mundo desmoronou.
— O quê? — Eu não podia acreditar no que estava ouvindo.
— É uma ordem. — Ele não conseguia me encarar nos olhos.
Isabella parou de chorar imediatamente, um toque de sorriso triunfante em seu rosto.
— Obrigada, querido. — Ela ficou na ponta dos pés e beijou a bochecha dele. — Eu sabia que você me protegeria. Afinal, eu sou aquela com quem você vai se casar.
Ela olhou para mim, os olhos cheios de satisfação venenosa.
— E ela é só uma funcionária descartável, não é?
Marco bateu palmas, deliciado. — Excelente! Isso é muito mais interessante! Parece que o Senhor Costello sabe fazer a escolha certa!
Dois guardas me empurraram para a cadeira.
Olhei para Dante. A expressão dele era tão fria quanto a de um estranho.
— Por quê? — Minha voz era quase um sussurro. — Você salvou minha vida dez anos atrás. Você vai ser quem me mata agora?
— É a única escolha. — Ele disse, a voz calma. — Isabella é uma Rossi. A vida dela está ligada a uma aliança que mantém meus homens seguros. A vida dela tem valor. — Ele fez uma pausa, seu olhar me transformando em pedra. — E você... você trabalha para mim.
Apenas uma funcionária.
As palavras foram uma faca no coração.
Isabella sorria com presunção. — Você ouviu isso? Esse é o seu lugar no coração dele. Não se iluda mais.
Marco empurrou a arma sobre a mesa em minha direção.
— As regras são simples. Gire o tambor, coloque-a na sua têmpora e puxe o gatilho. Se estiver vazio, você vence. Se não estiver...
Ele fez um gesto de cortar a garganta.
Minhas mãos estavam tremendo.
— Eu não vou jogar.
— Então todos vocês três morrem. — A voz de Marco ficou perigosa. — Ninguém quebra minhas regras.
Dante se inclinou, o hálito um sussurro frio no meu ouvido. — Jogue o jogo, Elara. Faça o que eu digo.
O maxilar dele se contraiu. Ele ficou rígido, duro como pedra.
— Isso é para o bem maior. — As palavras foram esmagadas entre seus dentes.
O bem maior.
Eu ri, um som quebrado. Lágrimas escorreram pelo meu rosto.
— Sabe de uma coisa, Dante? — Minha voz falhou. — Eu nunca pedi nada. Eu só queria ser mais do que uma estranha para você.
Eu peguei a arma. O peso dela era real na minha mão.
— Mas agora eu entendo. Para você, eu não sou nem mesmo uma estranha.
Isabella observava, um sorriso presunçoso no rosto. Ela estava gostando disso.
— Você deveria ter aprendido o seu lugar. — Ela zombou. — Você realmente pensou que transar com ele por alguns anos mudaria alguma coisa?
Marco iniciou a contagem regressiva.
— Dez segundos, querida. Faça uma escolha.
Eu pressionei o cano contra a minha têmpora.
O metal estava frio contra a minha pele. Eu podia sentir a morte respirando em mim.
Eu vi Dante se encolher, um solavanco brusco e violento, como se a bala já o tivesse atingido.
— Sabe o que eu mais odeio, Dante? — Olhei fixamente para ele. — Não é o fato de você não me amar. É que você me deixou acreditar que me protegeria.
— Você salvou a minha vida uma vez. Agora eu estou devolvendo-a.
Eu puxei o gatilho.
Click.
Vazio.
Eu estava viva.
Mas não havia alívio.
Eu vi os olhos de Dante se apertarem por um segundo. A garganta dele se moveu, um engolir forçado, como se estivesse contendo algo.
— De novo. — Marco disse, a voz tonta de excitação. — Melhor de três.
Eu levantei a arma novamente. Girei o tambor. Sem hesitação desta vez.
O segundo puxão.
Eu vi a mão de Dante, caída ao lado do corpo, se fechar em um punho.
Os nós dos dedos dele estavam brancos.
Os olhos dele nunca me deixaram, mas a frieza tinha sumido.
Substituída por algo que eu não conseguia ler. Uma mistura de dor e puro terror.
Click.
Ainda vazio.
A terceira vez.
Fechei os olhos.
Pensei em todas as boas lembranças dos últimos dez anos.
Tudo era uma mentira.
Desta vez, eu não olhei para Dante, mas podia sentir o olhar dele queimando em mim.
Click.
Ainda vazio.
— Droga! — Marco bateu a mão na mesa. — Vadia de sorte! Saiam! Os dois!
O jogo tinha acabado.
Isabella se jogou nos braços de Dante.
— Oh, graças a Deus! Estamos seguras! — Ela se virou para mim, os olhos pingando veneno. — Que gentileza a sua estar disposta a morrer por mim. Mas esse é o seu trabalho, não é?
Eu me levantei, observando-os eles se abraçarem.
Dante acariciava o cabelo de Isabella, confortando-a.
Mas ele parecia exausto, toda a força tinha sumido de seu corpo. Ele estava mais pálido do que ela.
Os olhos dele estavam fixos em mim, bem por cima do ombro dela.
O olhar de um animal moribundo.
Eu caminhei até a porta.
— Elara.
A voz de Dante me parou. Estava áspera. Rouca.
Eu me virei.
— Você se saiu bem. — Ele disse, e eu pude ouvir o tremor em sua voz. — Vou te dar o que você quer.
Eu empurrei a porta e tropecei para a rua.
Minhas pernas tremeram até eu não conseguir mais ficar de pé.
Onde o cano da arma havia pressionado minha pele, permaneceu uma marca fria, como um beijo da morte.
Olhei para o homem que me sacrificaria por outra mulher sem hesitar.
O último resquício de amor que eu tinha por ele estava enterrado para sempre, junto com aquelas três balas que não dispararam.
Talvez a morte fosse a única forma de eu realmente ficar livre dele.