A expressão de Lúcia também mudou ligeiramente.

Mas ela logo se recompôs. Forçou lágrimas a descerem e, com ar de desespero, pegou o celular.

— Sra. Avelina realmente deu à luz ontem, e o bebê está na unidade neonatal. — Ela disse.

— Eu sabia que a senhora tentaria me prejudicar, então pedi ao médico que gravasse um vídeo do bebê. — Em seguida, estendeu o celular.

No vídeo aparecia um bebê aparentemente com cerca de um mês de vida. A filmagem era grosseira, artificial e claramente falsa.

Vincenzo olhou por um instante e, sem hesitar, acreditou.

— Você ousa mentir? — Gritou ele furiosamente. — Para me comover, você conseguiu até providenciar uma barriga falsa e sangue falso?! Que nojo, que sujeira!

— Achou que eu cairia nessa de novo? — Vincenzo retrucou. — Sonhou!

Ele levantou a perna e desferiu um forte chute no meu abdômen.

Mal consegui gritar, meu corpo enregelava e enrijecia.

Perdi as forças para suplicar. Encolhi-me no meu próprio sangue, tremendo em silêncio.

Vincenzo tirou o paletó manchado de sangue e, com um ar de compaixão, virou-se para Lúcia.

— Desculpe, Lúcia, por esse cheiro nojento. Vou cuidar dela agora e, quando tudo acabar, te levo para nossa lua-de-mel numa ilha privada. Considere isso uma compensação por eu ter desconfiado de você, tudo bem?

Lúcia abanou a cabeça, com os olhos cheios de lágrimas, e falou com fingida tristeza:

— Não. Se você me levar agora, Avelina pode tentar de novo separar meu filho de mim.

— Então vou embora com o bebê. Que o filho dela seja o herdeiro. — Ela disse, com cuidado, carregando uma tristeza calculada.

O que ela disse acertou bem no ponto que fez Vincenzo ficar ainda mais furioso. O rosto dele escureceu de raiva, mas a voz permaneceu doce e firme:

— Fique tranquila. Não darei mais nenhuma chance para ela te prejudicar ou prejudicar o bebê.

Ele levantou a mão e ordenou:

— Trancem-na na adega. Quando eu anunciar oficialmente o herdeiro, deixem-a sair.

Fui arrastada para fora do hospital pelos seguranças, como um boneco de pano.

No caminho, o sangue desenhou um rastro longo sobre o piso brilhante.

Estava quase sem consciência, em dor excruciante, e ainda assim arrastei as última forças para suplicar:

— Por favor, Vincenzo. O que pedi à Dona foi pelo nosso divórcio, não para roubar o filho da Lúcia.

— Meus filhos já foram mortos por você uma vez e não vão sobreviver desta vez.

— Eu e meus filhos já fizemos o nosso sacrifício para que vocês ficassem juntos. Não faça nada com meu pai, por favor.

Lágrimas misturaram-se ao sangue e caíram no chão.

Vincenzo, com desprezo, respondeu:

— Chega. Se você ficar quieta na adega, eu...

Antes que terminasse...

BOOM!!

Um impacto surdo estourou pela sala.

Vi meu pai lançado do andar superior. Ele bateu no piso de cimento com um ruído seco.

Os olhos que um dia me olharam com ternura estavam agora vazios, inchados e estourados.

— Pai!!! — Gritei com toda força que me restava, rastejando em sua direção.

Mas antes que eu o tocasse, os seguranças me arrastaram para longe.

— Levem ela daqui. — Vincenzo ordenou com ar frio, olhando para mim.

— De qualquer forma, havia pouca diferença entre sua vida e sua morte. Agora que morreu, até foi um alívio para você.

— Vincenzo! Você é pior que um animal! — Gritei, como uma louca, chorando. — Você matou seus próprios filhos e agora matou o homem que te salvou! Você vai para o inferno

Ele franziu o cenho, lançou-me um olhar e, por fim, suspirou. Dirigiu-se aos seguranças:

— Se ela pedir algo nesses dias, atendam. Cuidem bem dela.

...

Vincenzo preparava-se para o grande evento da família — a apresentação pública do herdeiro. Não poupou despesas porque queria mostrar ao mundo o quanto valorizava Lúcia.

Contratou o melhor ourives da região para confeccionar uma flor de ouro maciço do tamanho de uma pessoa.

Gastou milhões para comprar uma ilha particular e batizá-la com o nome de Lúcia.

Conhecido por sua discrição, abriu uma conta nas redes sociais com o apelido "AmoLúcia".

A primeira publicação era uma declaração apaixonada:

— Agradeço à mulher mais importante da minha vida, Lúcia, por me dar o primogênito. Minha vida está completa.

A apresentação da família durou três dias. Representantes de clãs aliados, empresários e figuras públicas se reuniram. Sob o flash das câmeras, Vincenzo segurava a mão de Lúcia, sorrindo

Porém, por trás das lentes, seus olhos não paravam de olhar o celular. Parecia esperar por alguma notícia vinda da mansão. Até a última noite do evento, o aparelho permaneceu em silêncio

Por fim, ficou impaciente e ligou para lá.

— Já faz três dias. Ela fez alguma cena? Pediu para ver-me? Ou ameaçou aparecer na apresentação?

A babá, com voz trêmula, respondeu:

— Não, senhor. Nestes três dias a senhora não disse nada. Nem tocou a comida que deixei na porta.

Ao ouvir isso, Vincenzo soltou um som de desdém e sorriu com desprezo.

— Eu sabia. — Disse. — É só birra

— Eu já deixei claro: o primogênito será o herdeiro. Ela não conseguiu dar à luz primeiro e fica inventando manobras, fazendo cena, tentando me enganar. Ela ainda se aliou à minha mãe para tentar roubar a criança. Eu não a confrontei por tudo isso. Já fui generoso demais

— E agora ela vem com essa greve de fome?

Pensando no trágico fim do Sr. Augusto, o pai dela, ele suspirou:

— Será que ela está assim por causa da morte do seu pai? Diga a ela que foi um acidente. Eu não esperava que isso acontecesse.

— Se ela começar a comer, vou enterrar o pai dela com dignidade e... vou registrar o filho de Lúcia em nome dela. Vou realizar o sonho dela de ser mãe do herdeiro.

— Contanto que ela pare de atacar Lúcia, e que Lúcia passe a morar na mansão, igualmente a ela.

A babá concordou apressada e correu para a adega.

Quando a pesada porta de madeira se abriu, um grito agudo ecoou:

— Chefão! Não... não é possível! A senhora... a senhora morreu! E ao lado dela... havia um bebê morto!