Pantera narrando
Acordei bolado, com a cabeça a mil e o radinho já chiando do lado. No morro, não tem descanso não, parceiro. Coração até queria sossego, mas a realidade bate na porta como tiro de fuzil.
Desci do barraco com o olhar fechado, pensando em tudo que tinha rolado com a Janete. Aquela mulher mexe comigo de um jeito que nem eu consigo explicar. Do nada ela chega, me tira do sério, me faz rir, me faz perder a linha… e quando vai embora, parece que leva um pedaço de mim junto.
Acendi um cigarro, dei dois tragos e fiquei encostado na laje, olhando o movimento lá embaixo. O morro tava vivo, como sempre. Criança soltando pipa, moto passando no grau, os cria na atividade… e eu ali, tentando entender onde que eu fui amarrar meu coração.
Mas aí o rádio apitou. Blackout na escuta.
— Pantera, papo reto, tem movimentação estranha aqui na parte de cima. Uns cara de fora perguntando demais. Vê isso pra mim?
— Pode deixar, tô descendo agora. Já vou colar com uns cria. — respondi, já pega