Beatrice Carbone sempre soube que a vida em uma família mafiosa era repleta de segredos e perigos, mas nunca imaginou que seria forçada a pagar o preço mais alto: seu próprio futuro. Ao retornar para casa, em Palermo, ela descobre que seu pai, desesperado para salvar seus negócios, prometeu sua mão a Ryuu Morunaga, o enigmático e temido herdeiro de uma das famílias mais cruéis da máfia japonesa. Com uma reputação gelada e uma trajetória implacável, Ryuu está longe de ser o típico "marido ideal". Beatrice não se vê como a mulher submissa que o destino quer que ela seja. Determinada a resistir, ela rapidamente percebe que, nesse jogo de poder e traição, sua única escolha pode ser a de se tornar tão perigosa quanto aqueles ao seu redor. Mas entre alianças forçadas, segredos obscuros e uma atração impossível de negar, Beatrice e Ryuu são arrastados para um redemoinho de tensão e desejo. Poderá ela sobreviver a esse casamento sem perder a própria essência? Ou será que o perigoso mundo dos Morunagas acabará sendo seu lar tanto quanto sua prisão?
Leer másEu realmente não queria deixar minha pequena e modesta casa em Palermo. Desde que minha mãe faleceu, tia Loretta era a figura materna mais próxima que eu tinha, e como filha única, valorizava profundamente o tempo que passava com meus primos, que considerava irmãos.
Embora fosse severo aos olhos do público, Giacomo Carbone sempre teve meus melhores interesses no coração. Aos dezesseis anos, implorei para frequentar a escola em Palermo, sob o olhar atento de meus primos, e meu pai cedeu quase imediatamente. Ele queria que eu estivesse segura, longe do tumulto de seu trabalho em Los Angeles. Ele temia que algo pudesse acontecer com sua
Principessa preziosa. Embora tivesse aprendido o básico de autodefesa com tia Loretta, minha competência era subestimada na nossa família. Os homens eram responsáveis por prover segurança, riqueza e felicidade às mulheres. Com meu vigésimo primeiro aniversário se aproximando, meu pai planejou férias nas Bahamas para comemorarmos juntos. Depois disso, ele queria que eu voltasse para Los Angeles. A perspectiva de vê-lo novamente me deixava ansiosa, mas eu tinha certeza de que, ao vê-lo, minha inquietação desapareceria. Saber que meu avô também estaria presente ajudava. Ele havia alugado um resort privado por duas semanas.Meu avô, apesar da reputação feroz, sempre foi uma presença constante e tranquilizadora em minha vida. Ele falava pouco, mas suas palavras eram sempre cheias de sabedoria e experiência. Foi ele quem me encorajou a terminar meus estudos em nossa bela terra natal, ao lado de meus primos. Passei os últimos quatro anos visitando-o com frequência em sua casa, apreciando cada momento ao seu lado. Ele tinha uma habilidade única de acalmar minha mente inquieta, e eu desejava que aqueles dias nunca mudassem.
— Papai? — chamei, caminhando cautelosamente pelo corredor da casa onde estávamos hospedados. Meus pés descalços tocavam suavemente o piso de madeira, e observei as paredes pintadas de azul-claro, decoradas com fotografias de paisagens marinhas. Era a primeira vez que meu pai tirava férias tão tranquilas, e não era surpresa encontrá-lo escondido no escritório. Cheguei à última porta e bati firmemente antes de abri-la, sem esperar resposta. A expectativa de vê-lo novamente era grande demais para adiar o momento por mais tempo.
Sentado atrás de uma grande mesa na sala mal iluminada, meu pai apoiava a cabeça nas mãos, imerso em um humor perigosamente sombrio. A visão dele assim instantaneamente levantou minha guarda. Eu sabia que, muitas vezes, um acerto ou um negócio que deu errado abalava seu humor, e eu havia aprendido a manter distância nessas horas. Ele nunca se tornava rude ou violento comigo, mas odiava ver a mudança em seu caráter normalmente impecável.
— Papai… — chamei hesitante, aproximando-me. — Posso entrar?
Ele endireitou a postura imediatamente, e um brilho acendeu em seu rosto envelhecido. Com os braços estendidos, me deu as boas-vindas, o orgulho brilhando em seus olhos enquanto me observava, como se notasse o quanto eu havia crescido.
— Bea, bela como sempre — disse ele, e o som do seu rico sotaque italiano tocou meu coração. Sentia uma terrível falta dele, e toda a gravidade do meu desejo de voltar para casa me atingiu de uma vez.
Corri para seus braços em segundos, enrolando-me em seu colo como se fosse a garotinha de cinco anos novamente, e não uma mulher adulta.
— Sente-se, tenho algo importante para discutir — disse ele, acariciando meus cachos selvagens.
Afastei-me lentamente, estreitando os olhos para a expressão monótona do meu pai. No tempo de separação, ele adquirira profundas olheiras, sua pele empalidecera e seu cabelo, antes brilhante e negro, agora estava salpicado de cinza.
— O que foi? — perguntei cautelosamente, movendo-me ao redor da mesa enorme para afundar na cadeira oposta. Algo no seu tom me disse que precisaria estar sentada para ouvi-lo.
— Bem — suspirou ele, apertando as mãos sobre a mesa, seus olhos escuros se encontrando com os meus, expressando a seriedade de suas próximas palavras. Senti algo em meu estômago cair. — Um parceiro de negócios e eu chegamos a um acordo que sabemos que beneficiará muito a todos os envolvidos. Esse acordo trará força para nossas famílias e garantirá nossa segurança neste mundo perigoso.
Ele suspirou pesadamente, passando a mão lentamente pelo cabelo. Observei seus movimentos tensos, seu tom hesitante, a tensão aguda em seu corpo. Sabia que nada havia de mútuo nesse acordo.
— Como você sabe, sua mãe e eu nos conhecemos no dia do nosso casamento, e não passa um dia que não aprecie o tempo que passamos juntos… — Ele deixou suas palavras pairarem no ar. Não sabia se era a falta de coragem que o impedia de continuar ou se realmente lutava para encontrar as palavras.
Recostei-me na poltrona, minhas sobrancelhas se unindo em uma carranca apertada. Certamente, ele não estava sugerindo que eu continuasse com o mesmo? Era certo que ele me arranjaria um casamento. Mas eu não tinha desejo de me casar tão jovem e não consentiria com um casamento arranjado.
— Papai… — comecei a reclamar, mas ele ergueu a mão, silenciando-me. Instantaneamente, cerrei os dentes, os punhos fechados, odiando a sensação doentia de pavor que se infiltrava em meus ossos enquanto esperava suas próximas palavras.
— Estou ficando velho e minhas operações, meu legado, por si só, não são suficientes para protegê-la, Beatrice. Não quero ouvir nenhuma palavra de reclamação, apenas uma promessa de que considerará a proposta.
Meu pai cerrou um dos punhos e logo o abriu, seus dedos tensos tentando acalmar sua frustração.
— O nome dele é Ryuu Morunaga.
Ao entrar em casa, encontrei Beatrice no que parecia ser seu pequeno ritual. Ela se movia com leveza pela cozinha, cantarolando algo suave enquanto a fragrância rica da comida invadia o ambiente. Por um instante, deixei-me absorver pela cena: sua figura serena, distraída, concentrada em cada detalhe do jantar.Ela notou minha presença e se virou, lançando-me um sorriso caloroso.— Como foi o trabalho? — Perguntou, mas notei a hesitação em sua voz. Com o tempo, Beatrice aprendera que, quando eu dizia “limpando a casa”, significava que assuntos sombrios tinham sido tratados. Eu não precisava dizer mais nada.— A “casa” ainda não está limpa o suficiente — murmurei, deixando o peso das palavras no ar. Ela apenas assentiu, preferindo não se aprofundar no tema, e voltou ao fogão.— Que cheiro bom é esse? — perguntei, aproximando-me dela e absorvendo o aroma que parecia uma mistura perfeita de tomates maduros e manjericão.— Tortellini al brodo. É o jantar que nos espera hoje — respondeu ela
— Está confiante sobre tudo isso, Ryuu? — Nitta se inclinou, uma expressão de preocupação sincera em seu rosto marcado pelas noites em claro e pelo peso dos últimos meses. — Beatrice… você não acha que toda essa guerra vai acabar afetando ela e o bebê? Seus olhos traziam a preocupação genuína de um irmão, de alguém que estava ao meu lado há tempo demais para que eu o considerasse apenas um soldado. Eu sabia que Nitta não era facilmente impressionável, mas o ataque quase fatal e a iminência de novas traições mexiam com ele.— Essa guerra já está em andamento há muito tempo, Nitta — respondi, minha voz firme. — Não fui eu quem a começou, mas eu quem vai terminá-la. E Beatrice estará protegida. Minha família não será um alvo. Não mais. Não de novo.Nitta conhecia minha determinação, sabia que meu papel era mais do que uma escolha. Era uma maldição. Ele assentiu, a sombra de dúvida esvaindo-se de seu rosto, mas ainda hesitante, como se quisesse dizer mais.A tensão dessas palavras pairou
O cheiro denso de metal e umidade impregnou minhas narinas assim que entrei no porão. O frio, quase tangível, parecia pulsar nas paredes, como uma lembrança viva do que havíamos suportado aqui. À minha frente, Daiki, o homem que me tratou como um objeto descartável na minha juventude, o pai do homem que transformou o sangue da minha mulher em sua ferramenta, estava ajoelhado, os pulsos amarrados nas costas, a expressão oscilando entre medo e desafio.Mateo, Sofia e Nitta cercavam-no, as armas erguidas e apontadas diretamente para o seu peito, um círculo de aço e hostilidade que ecoava o clima na sala. Eu sabia o que ele via: um sobrinho que se erguia diante dele, mas já não o mesmo rapaz a quem ele pisoteou tantas vezes com seu poder e joguetes.— Você não vai sair disso — Daiki disse, a voz trêmula de um riso ácido que ele tentava, em vão, segurar. — E Gojou… Gojou vai destruir você.Dei um passo à frente, fixando meus olhos nos dele. Ele sabia que eu era o único que nunca o temeria.
— Quer conversar agora? — A voz grave de Bion ecoou atrás de mim, rompendo o silêncio. Virei-me lentamente, vendo-o parado na entrada da biblioteca. A sala, aquecida pelo crepitar da lareira, era o meu refúgio, um pequeno esconderijo onde eu vinha me perder em pensamentos. Estava ali para buscar alívio, não companhia.— Falar sobre o quê? — murmurei, recostando-me na poltrona de couro, minha poltrona. Foi a única coisa que fiz questão de trazer da mansão Morunaga, e agora me afundava nela, os olhos fechados, deixando a música preencher o vazio ao meu redor. O calor do fogo beijava o lado do meu rosto, e desejei que Bion sumisse tão rápido quanto havia surgido.— Sua mãe.Senti meu corpo endurecer. Apertei os lábios antes de responder, sabendo que minha reação entregava o que eu tentava suprimir.— Uma conversa inevitável, imagino.— Nem tanto — ele disse, aproximando-se com cautela. O sofá rangeu quando ele se sentou, o som como um peso extra sobre mim. — Podemos deixar isso no passad
Levantei o olhar quando Dario entrou na sala da nova casa — a casa que, um dia, pertenceu a Espósito. Suas roupas estavam manchadas de sangue, e o rosto exibindo hematomas novos e escuros. Meus outros primos estavam em algum lugar na casa, provavelmente tramando entre si, enquanto minha tia havia chegado há poucos dias. Mas naquele momento era só eu e Bion na sala, quando Dario finalmente deu as caras. Quanto tempo fazia desde a última vez que o vi? Nem conseguia lembrar.— Seu imbecil — deixei escapar, com a raiva azedando minha voz antes mesmo que pudesse controlá-la. — Onde diabos você estava?Vi o leve arquear de sobrancelha de Bion, que, embora surpreso, guardava as reações para si, como sempre. Já Dario, pelo menos, teve a decência de parecer desconfortável, erguendo as mãos num gesto de rendição.— Beatrice…— Por que não respondeu minhas mensagens? Achei que você estivesse morto! A última notícia que tive foi de que tinha saído com Ryuu e os irmãos, e depois, nada. Desapareceu
Ryuu não disse nada quando me deitei ao seu lado, apenas estendeu a mão e me puxou para perto, pousando meus dedos suavemente sobre o peito. Eu tentava não me apoiar demais, temendo machucar seus ferimentos, mas a verdade é que precisava daquele contato. O silêncio entre nós parecia um abrigo, e por um momento, me permiti desmoronar. Os soluços vieram sem controle, afogados em seu ombro. Passei a próxima hora ali, minha cabeça contra o peito dele, sentindo seu coração pulsar, tentando acreditar que aquele espaço era meu refúgio. Saímos do quarto muito mais tarde, encontrando Nitta e Sophia, que nos lançaram olhares preocupados. Alguns primos de Ryuu também permaneciam, insistentes em permanecer aqui enquanto ele se recuperava, e às vezes, eu me pegava conversando com Bion para preencher o vazio que sentia ao seu lado. Ele me avisou que tia Loretta chegaria no final da semana, mas a emoção não se fez presente. Meus dias eram vazios, e só Ryuu parecia capaz de preenchê-los, mas ele pa
Último capítulo