A segunda chegou abafada, com nuvens grossas encobrindo o céu da cidade. O tipo de dia que começa arrastado e já carrega uma preguiça embutida.
Henrique estava no escritório desde cedo. O blazer estava pendurado na cadeira, a gravata jogada em cima da mesa e as mangas da camisa dobradas até os cotovelos. O ar-condicionado zumbia baixinho, contrastando com a tensão em sua expressão.
Se esforçava tentando revisar um contrato, mas a cabeça ainda estava na areia da praia de ontem. Ou melhor, nas palavras de Beatriz. E nas que ele não conseguiu responder.
A porta se abriu sem aviso, como sempre acontecia quando Rodrigo aparecia.
— Bom dia pra quem? — disse o amigo, já entrando e jogando o corpo na poltrona à frente da mesa.
Henrique não desviou os olhos dos papéis, mas o canto da boca denunciava um sorriso contido.
— Você conhece a palavra "privacidade"?
— Claro. Mas só uso em contratos.
Rodrigo largou o celular sobre a mesa e se esticou como se estivesse na própria casa. A