POV: EmilyO envelope estava em minhas mãos havia horas.Eu o levei comigo para casa, larguei-o no sofá, fui para o quarto. Depois voltei, sentei no tapete, encarei-o como se fosse um animal enjaulado.Talvez fosse.Um animal que, se solto, dilaceraria o pouco de equilíbrio que ainda me restava.Tentei ignorá-lo. Fiz café. Tomei banho. Vesti o moletom mais confortável que encontrei. Mas o envelope estava ali, como uma sombra viva, como um sussurro constante me chamando.“Abra. Descubra.”Quando finalmente decidi rasgá-lo, minhas mãos estavam geladas.Dentro havia fotos.Fotos de Dylan.Conversando com homens engravatados. Entrando e saindo de um edifício da Northmoor. Um deles era claramente associado a Alexander.E havia mais. Documentos copiados, e-mails impressos.Um deles me fez perder o ar."Ela é um recurso instável. Mas se nos der acesso à conta de transição do pai, tudo valerá a pena."Assinado: D. HarperMinhas mãos tremiam. A frase parecia um soco direto no estômago.Recurso
POV: EmilyAcordei com a sensação de que não deveria ter acordado ali.O quarto estava na penumbra. Cortinas pesadas filtravam a luz da manhã, e o cheiro inconfundível de Alexander — uma mistura de madeira, tabaco e desejo — impregnava os lençóis, minha pele, o ar.Eu estava nua.Coberta apenas pelo lençol amassado e pelos pecados da noite passada.Lentamente, voltei à realidade.Os toques dele ainda estavam na minha pele, como tatuagens invisíveis. Seus beijos... seu corpo contra o meu... as palavras roucas que ele murmurava enquanto eu me rendia, uma vez mais, ao que jurava não querer.Mas era mentira.Querer Alexander era como respirar.Instintivo. Doloroso. Necessário.Virei o rosto no travesseiro, tentando afastar os pensamentos. Mas eles vinham como ondas, esmagando tudo.A forma como ele me olhou antes de me despir.O modo como seus olhos varreram meu corpo, como se nunca tivessem me esquecido.E eu…Eu implorei.Sem palavras.Com o corpo. Com os gemidos abafados. Com as unhas
POV: EmilyA cidade parecia mais fria naquela manhã.Ou talvez fosse eu.Caminhei pela calçada estreita, com o casaco fechado até o pescoço, mesmo que o frio não estivesse tão severo. Era uma armadura. Frágil, simbólica. Mas naquele momento, era o que eu tinha.Desde que saí do apartamento de Alexander, me senti como uma peça solta num quebra-cabeça que ninguém queria terminar. A lembrança da noite passada ardia sob minha pele. As palavras de Dylan ecoavam com a força de uma bofetada.E eu?Eu apenas sobrevivia.Minha mente me torturava com memórias que se atropelavam:— As mãos de Alexander em meu corpo, possessivas, famintas.— O olhar de Dylan quando me viu vestida com a camiseta do outro.— As cartas. As mentiras. O sexo. A verdade.Era demais.Até para alguém como eu, acostumada a engolir a dor calada.Voltei para o meu apartamento depois de caminhar por horas. As ruas estavam mais vivas do que eu. Pessoas riam, carros buzinavam, a vida pulsava. Mas dentro de mim, havia apenas ru
POV: DylanO céu estava encoberto quando cheguei ao mirante. Nuvens cinzentas pendiam pesadas sobre a cidade, como se refletissem o caos que eu carregava dentro de mim.Haviam se passado dias desde que vi Emily. Dias nos quais cada segundo parecia uma tortura cuidadosamente calculada.Ela não respondeu minhas mensagens.Nem às flores.Nem à carta.Mas havia uma parte de mim — estúpida, insistente — que acreditava que ela viria. Porque uma história como a nossa não termina em silêncio.A última vez que estive naquele mirante foi meses atrás.Naquela noite, eu tinha Emily nos braços e um plano na cabeça: fazê-la se apaixonar, conquistar seu coração… e entregá-lo em ruínas para Alexander.Era sujo.E covarde.E eu fui um completo idiota.Só que eu não esperava que o coração dela invadisse o meu primeiro.Ela me ensinou o que era ternura.Ela me ensinou que tocar alguém não era só prazer — era entrega.E agora ela sabia.Sabia que tudo começou como um jogo.Sabia que, por mais que eu a am
POV: NoahO som da chuva era uma trilha constante contra o teto de vidro da estufa. Eu me sentava no chão frio, entre vasos quebrados e plantas que nunca aprendi a cuidar direito. Meus cotovelos apoiados nos joelhos, a cabeça abaixada, como se o mundo fosse pesar demais caso eu ousasse erguê-la.A verdade é que eu estava fugindo. De novo.Fugindo dela.Emily.O nome era um sussurro constante dentro de mim, um eco que não cessava. Desde que cheguei naquela casa, desde o momento em que nossos olhares se cruzaram pela primeira vez, eu soube. Soube que ela não era só mais uma sombra na vida de Alexander. Ela era luz — uma daquelas que ardem se você chega perto demais.E mesmo assim, aqui estou. Queimado por dentro.Ela não era minha. Nunca foi. Mas... também não era dele.—Você sabe que está se escondendo, certo? — a voz dela me tirou do transe.Levantei a cabeça devagar. Emily estava parada à entrada da estufa, a chuva escorrendo por seus cabelos, a camisa colada ao corpo, os olhos fixos
POV: Emily A chuva ainda caía, pesada, como se o céu também precisasse desabafar. Eu continuava ali, sentada no colo de Noah, envolta por seus braços quentes, tentando entender em que momento tudo saiu do controle. Ou talvez, quando finalmente entrei nele. Meu coração batia como um tambor descompassado. O cheiro da terra molhada misturado ao da pele dele me deixava entorpecida, mas era a forma como ele me olhava que fazia minhas defesas desmoronarem. Havia algo cru em seu olhar — uma dor que reconhecia, uma ternura que eu não esperava. Ele não disse mais nada. Apenas manteve o rosto encostado no meu, como se precisasse daquele contato para continuar respirando. E talvez eu precisasse também. Mas no fundo... no fundo, eu sabia que aquilo era perigoso. Não apenas por causa de Alexander. Mas porque, se eu me deixasse cair por Noah, não haveria volta. Ele não era um porto seguro. Era tempestade. E ainda assim... eu estava ali. — Está tudo bem — sussurrei, mais pra mim mesma do que pra
POV: AlexanderA chuva não parava.Ela martelava os vidros da mansão como se o céu tivesse decidido desabar junto com a minha sanidade.Eu os vi.A estufa estava parcialmente encoberta pela neblina, mas bastou um vislumbre — o toque dos corpos, o beijo sem pudor, a intimidade crua — para o mundo perder o eixo sob meus pés. Emily e Noah. Como se eu nunca tivesse existido.Senti o sangue pulsar nas têmporas, quente, feroz. A raiva me consumia, mas não era só ciúme. Era dor. Um tipo de dor que eu achei que jamais sentiria novamente desde a morte da minha mãe. Um vazio corrosivo.Ela era minha.Mesmo quando me odiava, ainda era.Emily sempre foi a única pessoa capaz de me ver, de atravessar minhas defesas. Eu a empurrei, é verdade, por orgulho, por medo. Mas nunca, nem por um segundo, deixei de tê-la em mim.E agora…Agora ela estava nos braços de outro.Afastei a cortina com mais força do que deveria, o tecido rasgando em minhas mãos como se refletisse o que eu sentia por dentro. Respire
POV: AlexanderO silêncio da madrugada era espesso, pesado como um presságio. As luzes da mansão estavam apagadas, exceto pela lareira acesa no salão principal. Eu estava ali, sozinho, encarando as chamas como se elas pudessem queimar as imagens que se repetiam na minha mente desde que entrei na estufa naquela noite.Emily.Noah.Os corpos entrelaçados.O gemido dela.Senti o estalo seco do copo de cristal quebrando entre meus dedos, e o corte na palma da mão me trouxe de volta à realidade. O sangue escorreu devagar, quente, quase reconfortante. Dor física era algo que eu sabia administrar. Era previsível. Diferente da dor que consumia meu peito agora — essa era selvagem, sem lógica, incontrolável.Eu não devia ter seguido os passos dela. Mas segui.Eu não devia ter entrado na estufa. Mas entrei.E agora… não havia como desver.Ela me traiu.Não como Dylan havia traído Emily, com uma amiga qualquer.Emily me traiu com meu próprio sangue.A risada escapou da minha garganta, amarga, ins