Capítulo 1
Cinco anos atrás... Paul Evans Saio da empresa com a cabeça pesada. Meu pai me pediu para ir jantar na casa deles hoje, e eu não teria direito a uma negativa. Segundo ele, tinha uma grande notícia para me contar e não podia esperar. Eu sabia que ele queria se vangloriar do acordo fechado; pelo pouco que me adiantou, o grande negócio iria mudar nossas vidas. Na hora, a minha vontade era inventar uma desculpa para não ir. Eu não estava com paciência nem com saco para aguentar os discursos inflamados do meu pai. Digamos que ando bem desmotivado com o meu trabalho, que não era exatamente o que eu queria no momento. Tinha a relação com meu pai também, que nunca mais foi a mesma depois que Tereza passou pela minha vida. Tereza Ribeiro era uma das empregadas da casa dos meus pais e meu primeiro amor. Digamos que eles descobriram nossa proximidade e a mandaram embora para não manchar o nome da nossa família. Não éramos tão ricos quanto as grandes famílias da alta sociedade, mas meu pai estava obcecado em ser a qualquer custo, e isso já estava me estressando. Então, quando descobriu que eu estava tendo um caso com Tereza, ele a mandou embora num dia chuvoso e sem um dólar no bolso. Ela chorava angustiada, esperando um posicionamento meu, mas esse ato não veio. Eu me acovardei e não me posicionei contra meu pai. Na época, eu era muito jovem e não tinha poder aquisitivo para ajudá-la a ter uma vida digna, mas peguei todas as minhas economias e as entreguei para que ela tentasse se reerguer. Nunca mais tive notícias de Tereza e nem a culpo. Eu não lutei por ela e me deixei levar pelas ameaças do meu pai, que na época me fez sentir o pior filho da face da Terra. Depois da sua partida, eu me transformei em outra pessoa, me fechei em minha dor e o mundo perdeu o seu brilho. Eu tinha magoado a pessoa que mais amava, envergonhado minha família e me tornado um homem covarde. Eu me tornei um homem frio e sem sentimentos, mergulhei no trabalho mesmo o odiando. Meu pai sempre tinha um jeito de me prender a eles e me obrigar a fazer as suas vontades, sempre me lembrava que quase perdeu tudo por causa de mim, sendo que eu não conseguia ver a situação daquela forma. Quando paro meu carro na porta da mansão, confesso que minha vontade era ligar o carro novamente e ir embora para bem longe de tudo isso, mas eu não era covarde a esse ponto. Já tinha sido covarde no passado e não podia repetir a dose. Tinha perdido Tereza, não teria mais nada que meu pai pudesse me tirar. "Chega de abaixar a cabeça para meu pai", e esse era meu lema. Mas eu estava redondamente enganado, sempre tinha algo que ele podia tirar de mim... — Filho, quanto tempo você não vem visitar sua mãe? — Minha madrasta estava na porta me esperando. Eu entro na casa e beijo a sua testa. — Boa noite, meu príncipe... — Ela me abraça forte. Ana me criou como seu filho, não fez distinção entre o filho do primeiro casamento do meu pai e a sua filha, Carla. Sim, meu pai se casou com minha mãe, que é falecida, e depois com Ana. Ela sempre cuidou de mim, mas era autoritária à sua maneira e tinha os mesmos pensamentos do meu pai. Os dois queriam coisas parecidas e por isso deram tão certo juntos. Ter um status mais elevado a qualquer custo era o lema dessa família. Eu já não ligava para isso, eu só queria realizar meus sonhos e viver minha vida em paz. — Boa noite, mãe... Desculpa, muito trabalho na empresa e está difícil até para almoçar. Nem queria vir hoje, pois queria estudar uma proposta de parceria de Londres... — Ela me guia para a mesa onde minha irmã e meu pai já nos aguardam. — Boa noite, Paul... — Carla fala e eu pisco para ela. — Boa noite, meu filho, sente-se por favor... Agora não é hora de falar sobre trabalho, Paul. Nós chamamos você aqui para lhe contar uma grande novidade... — Eu me sento e olho para o meu pai que está mais feliz do que há pouco, no escritório. — O que aconteceu, pai? Você nem parece que gritou comigo duas horas atrás. — Digo com um tom de ironia. Meu pai me dá um meio sorriso, mas não retruca a farpa que eu lhe preguei. Isso realmente era muito estranho. Meu pai não perdia a oportunidade de me colocar em meu lugar de filho. — Estou de ótimo humor para brigar com você, Paul... — Vemos as empregadas trazerem nossa comida e a mesa mergulha em um silêncio profundo. Quando estávamos indo para a sobremesa, faço a pergunta que martelou a minha cabeça durante todo o jantar. — A que se deve essa comemoração, pai? — Era um cardápio digno das festas que minha mãe amava frequentar. Meu pai limpa o canto da boca e me olha atentamente. Eu bebo meu vinho temendo o que ele irá falar. Não sei por que, mas tenho um sentimento bem ruim sobre essa notícia que o está deixando tão feliz. — Então, vamos à parte que nos interessa, Paul. Venho nesse momento anunciar que você irá se casar com a herdeira da família Smith. — Meu pai j**a a bomba em meu colo e a minha vontade é de rir. Como ele podia falar que eu iria me casar com alguém que eu mal conheço? Eu começo a rir sem parar, com certeza aquela era a piada do ano. — O senhor ficou louco de vez? — pergunto me acalmando. — Não sei onde está a graça nessa situação, Paul. Eu não falei nenhuma piada, o que eu estou te avisando é que você vai se casar com a herdeira do meu adversário. — Agora vejo que meu pai está falando sério e isso era o cúmulo. — Como assim eu vou me casar com alguém que eu não amo? — Meu pai se levanta e me manda segui-lo para o escritório. Minha mãe e minha irmã não falam nada. As duas estavam caladas e continuaram caladas. Eu estava com o coração na mão. Como assim meu pai aceita um acordo de casamento sem me consultar? Quando chegamos em seu escritório, ele logo se senta em sua cadeira, que fica posicionada bem no centro. Coloca uísque em seu copo e me analisa como se eu fosse uma peça de carne pronta para ser vendida. — Você vai se casar com ela, Paul, não te dou nenhuma opção que não seja esse casamento com aquela garota! — Meu pai grita comigo e eu fico muito irritado. Como ele podia me pedir algo assim? — Eu não a amo! — Berro em seu escritório. Quando meu pai me chamou aqui para conversar, eu nunca imaginei que ele jogaria essa bomba no meu colo. — Eu nem a conheço e você quer me casar com uma pessoa totalmente desconhecida? Eu sabia quem era a herdeira da família Smith, sempre de longe, mas já tinha sido apresentando a ela. Sendo que não era o mesmo que conhecer a fundo uma pessoa, quem dirá me casar. Um casamento, assim, do nada? Eu não podia me casar com Catarina, esse não era o meu plano de vida no momento. Catarina era herdeira de uma das maiores indústrias de carros de luxo do mundo junto com seus irmãos mais velhos. Ela era uma candidata a noiva que todos os homens bem-sucedidos queriam pelo menos ter a oportunidade de conhecer e tentar a sorte. No caso, ninguém nunca conseguiu chegar muito perto de Catarina por causa de seus irmãos, Caio e Carlos, que eram dois homens tão possessivos que não a deixavam um minuto sozinha. Na verdade, Catarina não era tão desconhecida para mim, pois esbarramos algumas vezes na faculdade, no entanto eu nunca tive uma conversa de dois segundos com ela, pois como eu disse, seus irmãos sempre estavam marcando presença perto dela. — Quem disse que eu estou falando sobre sentimentos, Paul? Quando casamentos na alta sociedade têm base em amor e paixão? Todos os casamentos em nossa classe social são feitos para o bem aquisitivo e status das famílias, amor é somente um sentimento trivial e que lhe tira do caminho certo a se seguir. — Pai... — Ele se levanta e me olha sério. — Não quero saber dessa baboseira de amor, Paul, eu preciso que você se case urgentemente com Catarina Smith. — Ele suspira. — A nossa situação na empresa precisa desse casamento, estamos quase falidos e se você não se casar com Catarina, não teremos dinheiro nem para pagar onde morar, pois a mansão será a primeira coisa que iremos perder depois da empresa. — Fecho os olhos sentindo o peso do seu pedido. Meu pai nunca tinha dito que estávamos indo tão mal na empresa. — Por que o senhor não falou antes? Eu acabei de me formar e... — Meu pai levanta a mão e me olha duro. — O que um garoto que acabou de sair da faculdade iria me acrescentar na minha empresa? — As suas palavras me magoam. — Me diga, em que você iria me ajudar na empresa, sendo que você está no cargo há apenas alguns anos e eu comando esse império há trinta? — O senhor não permite que eu faça algo além das suas ordens, acha que eu não vejo que a sua empresa parou no tempo? — Meu pai bateu na mesa irritado. Você pode xingar sua personalidade, dizer que ele é um péssimo pai, mas nunca diga que ele é um péssimo CEO. Meu pai não é um mau administrador, mas a questão é que ele parou no tempo e no mercado de luxo anda crescendo e se inovando. No caso do meu pai, ele não consegue acompanhar a evolução e a conta chegou, pois se a empresa está com problemas financeiros, é porque ele não fez as mudanças necessárias para estar em pé de igualdade com os outros concorrentes. — Você vai se casar com essa garota e vai fazer ela te amar, ela não pode cogitar pedir o divórcio, não até conseguirmos colocar a empresa nos seus devidos lugares. — Ele me olha sério. — Você já errou uma vez comigo e quase fez eu perder tudo por causa de um escândalo, não me venha decepcionar mais uma vez. — Lá estava meu erro sendo jogado na minha cara mais uma vez. — Eu não tenho culpa se os repórteres descobriram a identidade da Tereza... — Meu pai pega um copo e o arremessa na parede, eu me calo na mesma hora. — Por causa desse escândalo, perdi acionistas e ações. Não me faça me arrepender de ter te dado mais uma chance. Você vai se casar com Catarina para que possamos nos reerguer. Depois que tudo estiver acertado, aí sim você pode fazer da sua vida o que desejar. Acha que eu estou fazendo isso porque eu quero? Não, eu estou pensando na sua irmã e na sua mãe, que se você não se casar com essa garota, não vão ter um lugar para morar e você não terá um lugar para trabalhar. — As suas palavras pesam mais que um elefante em meu peito. Queria ter coragem de abandonar todos eles e construir a minha vida em outro lugar, mas como eu deixaria minha mãe e minha irmã nas mãos de um mau empresário? Elas eram a minha família... Me levantei e saio da sala com os gritos do meu pai atrás. Mais uma vez, eu estava em um beco sem saída. E pior, teria que fingir que gostava dessa garota, pois se ela pedisse o divórcio sem a empresa estar realmente firme novamente, provavelmente seria a ruína dos meus pais. — Merda!